S. Paio (Foto de Annabelle Pereira) |
No artigo de hoje, o blogue presta homenagem a cada um dos
combatentes naturais da freguesia de S. Paio que lutaram nas trincheiras da
Flandres, no norte de França, durante a 1ª Guerra Mundial.
Há cerca de 100 anos, mais de 70 combatentes naturais de
Melgaço partiram para esse conflito horrendo. Desses, 5 deles nasceram na
freguesia de S. Paio. Foram eles: Inocêncio Carpinteiro, do lugar dos
Barreiros; Albano José Flores; Manuel Joaquim da Costa, do lugar dos Lourenços;
Alfredo Soares, do lugar da Costa e José Maria Alves Pereira, do lugar do
Regueiro. Os primeiros quatro pertenciam à célebre Brigada do Minho (4ª Brigada
de Infantaria do Corpo Expedicionário Português), onde teve um papel muito ativo
na Batalha de La Lys, enquanto que o soldado José Maria Pereira pertencia ao
Batalhão de Sapadores dos Caminhos de Ferro.
Todos estes sampaenses regressaram vivos da guerra. Deixo
aqui um resumo das informações que foi possível recolher do percurso de cada um
destes valentes soldados durante o conflito:
1 - Inocêncio Augusto
Carpinteiro, Soldado do Batalhão de
Infantaria nº 3 (Viana do Castelo), 4.ª Brigada do Corpo Expedicionário
Português (2ª Divisão). Nasceu às quatro horas da manhã do dia 23 de Agosto de
1895 no lugar dos Barreiros, na freguesia de S. Paio, filho de Firmino Augusto
Carpinteiro e Joaquina Rosa Soares, lavradores.
À época da sua partida para a guerra, encontrava-se
solteiro e era morador no lugar dos Barreiros desta freguesia de S. Paio.
Embarcou para França em 15 de Abril de 1917 integrado no Corpo Expedicionário
Português, portador da chapa de identificação nº 49 556.
Já em França, no cenário de guerra, foi punido em 17 de
Outubro de 1917 “pelo Comandante do
Batalhão com 15 dias de prisão correcional porque aquando da sua nomeação para
serviço nas trincheiras, apresentou a sua reclamação como modos pouco
respeitosos”.
Foi punido em 19 de Dezembro de 1917 pelo Comandante da
Companhia “com 10 dias de detençaão por
ter vindo da 1ª linha de trincheiras onde prestava serviço sem autorização e
ainda porque sendo por ele interrogado sobre quem o autorizou a vir à 2ª linha,
informou falsamente citando o nome do Comandante do posto o que se averiguou
não ser verdade…”.
O soldado Inocêncio combateu na Batalha de La Lys (9 de
Abril de 1918) tendo sido dado inicialmente como desaparecido em combate. Mais
tarde, por comunicação da Comissão dos Prisioneiros de Guerra, verificou-se que
tinha sido feito prisioneiro pelos alemães na referida batalha e levado para o
Campo de Prisioneiros de Dulmen (região da Renânia/Norte Westfalia, Alemanha, a
cerca de 40 Kms a norte de Dortmund) tendo estado também no Campo de Senne, que
fica próximo da cidade alemã de Bielefeld. Com o fim da guerra em Novembro de
1918, os prisioneiros de guerra foram libertados e o soldado Inocêncio terá
embarcou no navio inglês "Northwestern Miller" em 12 de Janeiro de
1919, na Holanda, e desembarcou em Lisboa, no Cais de Alcântara, em 18 de
Janeiro de 1919.
Após voltar da guerra, viria a casar com Ricardina da
Conceição Sérvio, natural de S. Paio, em 24 de Agosto de 1920.
Inocêncio Augusto Carpinteiro faleceu em 16 de Setembro
de 1981 na freguesia de S. Paio, deste concelho de Melgaço.
Cartão de identificação de Prisioneiro de Guerra do soldado Inocêncio (Campo de Prisioneiros de Senne, Alemanha) |
2 - Albano José
Flores, Soldado do Batalhão de
Infantaria nº 3 (Viana do Castelo), 4.ª Brigada do Corpo Expedicionário
Português (2ª Divisão), filho de Manuel José Flores e Maria José da Silva, natural
da freguesia de S. Paio. À época da sua partida para a guerra, encontrava-se
casado com Claudina Rodrigues, natural da freguesia de Paços, concelho de
Melgaço. Embarcou para França em 22 de Abril de 1917 integrado no Corpo
Expedicionário Português, portador da chapa de identificação nº 49 890. Já
em França, no cenário de guerra, baixou à ambulância em 5 de Agosto de 1917,
tendo tido alta em 3 de Setembro. Em 15 de Novembro desse ano, encontrando-se
em combate, baixou ao hospital por “ter
sido ferido em combate neste dia”. Segundo o seu Boletim Individual, a sua
hospitalização teve a ver com o facto de ter sido ferido com “estilhaços de granada”. Em 10 de
Fevereiro de 1918, seguiu para o Campo Central de Instrução. Encontrava-se de
novo em campanha em 2 de Março desse ano, vindo do dito Campo de Instrução.
Já depois do fim da guerra, em Novembro de 1918, em 24 de
Janeiro de 1919, recolheu ao 6º Batalhão, indo da Companhia de Telegrafistas do
Corpo Expedicionário. Mais tarde, em 6 de Fevereiro do mesmo ano, baixa ao
Hospital de Sangue nº 8, tendo alta no dia 18 do mesmo mês, com 2 dias para
convalescença. Acabaria por sobreviver à guerra. Depois de recuperado, seguiu
para Portugal, juntamente com o 6º Batalhão em 15 de Abril de 1919, a bordo do
navio inglês “Northwest Miller”, tendo desembarcado em Lisboa, no Cais de Alcântara
em 19 de Abril.
3 - Manuel Joaquim da
Costa, Soldado do Batalhão de
Infantaria nº 3 (Viana do Castelo), 4.ª Brigada do Corpo Expedicionário
Português (2ª Divisão). Nasceu às cinco horas da tarde do dia 19 de Novembro de
1895 no lugar dos Lourenços, na freguesia de S. Paio, filho de António Joaquim
da Costa e Maria Joaquina Marques, lavradores.
À época da sua partida para a guerra, encontrava-se
solteiro e era morador no lugar dos Lourenços desta freguesia de S. Paio.
Embarcou para França em 7 de Abril de 1917 integrado no Corpo Expedicionário
Português, portador da chapa de identificação nº 49 517, onde pertenceu à
chamada Brigada do Minho.
Sabe-se pouco do seu percurso de guerra durante o
conflito. Sabe-se que já em França, no cenário de guerra, terá combatido na
Batalha de La Lys (9 de Abril de 1918), integrando o 2º Grupo de Pioneiros.
Sabe-se também que baixou ao Hospital em 1 de Fevereiro
de 1919, tendo tido alta no dia 10 seguinte.
Embarcou no Porto de Cherbourg (França), com destino a
Portugal, tendo desembarcado em Lisboa, no Cais de Alcântara, em 3 de Abril de
1919.
Após voltar da guerra, viria a casar com Carlota da
Pureza Fernandes, em 5 de Fevereiro de 1921.
Manuel Joaquim da Costa viria a falecer em 16 de Outubro de
1969 na freguesia de Paderne, deste concelho de Melgaço.
Cartão da Liga dos Combatentes de Manuel Joaquim da Costa (Cartão gentilmente cedido por JP Rodrigues) |
4 - Alfredo Soares, Soldado do Batalhão de Infantaria nº 3 (Viana do
Castelo), 4.ª Brigada do Corpo Expedicionário Português (2ª Divisão). Nasceu às
quatro horas da tarde do dia 28 de Março de 1894 no lugar da Costa, na
freguesia de S. Paio, filho de José Luís Soares e de Emília de Freitas,
lavradores.
À época da sua partida para a guerra, encontrava-se
casado desde 11 de Janeiro de 1914 com Maria Rosa Gomes e era morador no lugar
da Granja, desta freguesia de S. Paio, concelho de Melgaço. Embarcou para
França em 15 de Abril de 1917 integrado no Corpo Expedicionário Português,
portador da chapa de identificação nº 49 393, onde pertenceu à chamada
Brigada do Minho. No seu percurso durante a guerra, ficaram registados diversos
episódios de punições disciplinares por atos considerados desadequados para o
contexto.
Já em França, no cenário de guerra, foi punido em 12 de
Agosto de 1917 pelo “Senhor Comandante
da Companhia com 8 dias de detenção por ter saído da forma sem autorização
quando companhia se dirigia para o local de instrução de noite e ter recolhido
o quartel da sua companhia”. Dois dias depois, ou seja a 14 de Agosto de
1917, foi novamente punido “pelo
Comandante da Companhia com 6 dias de detenção por ser encontrado no centro de
instrução e durante o intervalo apoderar-se de alguma fruta de uma nogueira
pertencente a uma propriedade que começa no mesmo campo”.
Em 7 de Março de 1918, encontrava-se em combate tendo
sido ferido durante as hostilidades.
Foi punido em 19 de Junho de 1918 “pelo Comandante do Batalhão com 10 dias de prisão disciplinar por ter
faltado a uma formatura e responder menos conveniente ao Senhor Comandante da
Comandante quando este o mandou calar por pretender tomar posse de uma barraca
que lhe não pertencia…”.
Foi punido novamente em 23 de Setembro de 1918 “pelo Senhor Comandante do Batalhão com 10
dias de detenção por faltar à revista que teria lugar em 22 (dia anterior), sem
motivo justificado…”. Alguns dias depois, em 28 de Setembro do mesmo ano,
voltaria a ser novamente punido pelo “Senhor
Comandante do batalhão com 10 dias de detenção por faltar aos trabalhos de
fortificação e instrução de 26”.
Em 22 de Outubro de 1918, é ferido e baixou à ambulância
nº 4, tendo tido alta para a unidade em 9 de Novembro seguinte.
Em 30 de Outubro, no âmbito da reorganização do C.E.P., é
integrado no Batalhão de Infantaria nº 22, 2ª Companhia.
Em 5 de Janeiro de 1919, ainda se encontrava-se no
Batalhão de Infantaria nº 22, tendo sido abatido ao efetivo dessa unidade nessa
data, dando entrada no Depósito Disciplinar 1 no dia seguinte, facto
provavelmente relacionado pelos numerosos casos de indisciplina protagonizados
pelo soldado Alfredo Soares. Necessitou de cuidados médicos em 15 de Fevereiro
de 1919, quando baixou ao Hospital de Sangue 8, tendo tido alta em 12 de Maio
seguinte.
Em 5 de Junho de 1919, seguiu para o Pelotão de Estafetas
afim de ali aguardar julgamento, vindo das Prisões da Base. Nada consta acerca
do julgamento no seu Boletim Individual. Apenas sabemos que embarcou no Porto
de Cherbourg (França), com destino a Portugal, juntamente com o Depósito
Disciplinar 1, em 5 de Julho de 1919, tendo desembarcado em Lisboa, no Cais de
Alcântara, no dia 8 do mesmo mês e ano.
5 - José Maria Alves
Pereira, Soldado do Batalhão de
Sapadores de Caminhos de Ferro, 2ª Companhia. Nasceu às sete horas da tarde do
dia 8 de Março de 1894 no lugar do Regueiro, na freguesia de S. Paio, filho de
Francisco José Alves Pereira e de Maria do Livramento Gomes, lavradores.
À época da sua partida para a guerra, encontrava-se
solteiro e era morador no dito lugar do Regueiro, desta freguesia de S. Paio,
concelho de Melgaço. Embarcou para França em 26 de Maio de 1917 integrado no
Corpo Expedicionário Português, portador da chapa de identificação nº 72 482.
Sabemos muito pouco do seu percurso durante a guerra. Já
em França, no cenário de guerra, foi integrado na S.E.M.M. em 1 de Setembro de
1917. Sabemos que foi punido em 7 de Agosto de 1918 “pelo Comandante do Batalhão com 2 dias de detenção porque estando naquela
data na formatura da limpeza do gado, saiu da mesma formatura sem autorização
do sargento que assistia…”.
Após o término da guerra, embarcou no Porto de Cherbourg
(França), com destino a Portugal, juntamente com o Batalhão de Sapadores dos
Caminhos de Ferro, em 27 de Abril de 1919, tendo desembarcado em Lisboa, no
Cais de Alcântara, no dia 1 de Maio seguinte.
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