O
mosteiro de Fiães é de fundação incerta no tempo. O documento
conhecido mais antigo é de meados do século XII mais concretamente
de 1142, havendo um outro de 1157 onde se refere que o mosteiro segue
a regra de S. Bento. Ainda no século XII, Fiães passaria a estar
integrado na Ordem de Cister e filiado no mosteiro de Tarouca.
O
mosteiro seria extinto em 1834. Na época, o mosteiro tem a
comunidade reduzida a dois monges, tendo ainda um terceiro religioso,
mas a viver com os seus familiares por ter uma doença contagiosa. No
processo de
inventário, um documento de 1836, refere o mosteiro "com
suas cazas e oficinas, que lhe são inherentes, bem como a Cerca, e
Igreja, sem que se mencionem mais esclarecimentos (...)".
No inventário dos objetos pertencentes ao culto divino, datado de
1834, consta na capela-mor o seu altar, com hum retábulo muito
antigo, pintado e dourado, e, tendo no centro do mesmo e no fim do
trono a imagem de Santa Maria, de vulto, pintada e dourada, e,
lateralmente, as imagens, em vulto ordinário, pintadas e douradas,
de São Bento e de São Bernardo. O altar de São Bento tem um
humilde retábulo, antigo, pintado e dourado, albergando ao centro a
imagem do orago, de vulto ordinário, pintada e dourada, com
resplendor de folha, e, sobre a banqueta, uma cruz pequena, pintada
de preto, com um Crucifixo pequeno. O altar de Nossa Senhora do
Rosário tem um retábulo pequeno e antigo, pintado e dourado, tendo
no centro a imagem do orago, em vulto ordinário, pintada e dourada,
à direita uma imagem de Maria Madalena, em vulto ordinário, pintada
e dourada. Na igreja havia mais dois altares laterais, um do lado do
Evangelho e outro no da Epístola. Ambos indecentes, com seus
retábulos velhos, com quatro imagens pequenas, sendo uma São
Sebastião e duas do Menino Deus e Nossa Senhora, bem como um
Crucifixo pintado numa cruz preta. Na sacristia tinha um "caixão"
ordinário, com três gavetões e três armários; em frente da
sacristia havia um oratório de pau, velho e pequeno, com um
Crucifixo de palmo pendente em uma cruz de pau, pintada de verde. Na
capela abacial havia um altar com seu retábulo antigo, pintado e
dourado, tendo no centro a imagem de Nossa Senhora da Conceição, em
vulto, pequena, pintada e dourada, com a sua coroa de folha, mais uma
cruz dourada com um Crucifixo pequeno, uma pedra de ara, dois livros
corais e uma estante pequena. O inventário refere ainda a existência
de uma imagem de vulto ordinária, que dizem ser São Bernardo,
pintada e dourada, e um sino na torre. Concluído o inventário, os
bens são entregues ao pároco da freguesia Manuel Joaquim Fernandes
da Costa. O inventário do mosteiro refere apenas os bens de
administração direta: "Item,
digo, item hum, Mosteiro com suas ortas tudo circundado. Hum campo
chamado da Magdalena, que produz
so feno que parte do Nascente com a estrada publica que vai para
Rouças e do poente parte com ribeiro chamado o Regueiro da Ponte.
Item outro dito chamado o Campo Piqueno que produz
feno com as mesmas confrontações. Item, outro chamado do Follão
que somente produz feno com as mesmas confrontações. Item, outro
dito chamado o Campo de Serca, que parte do Nascente com a serca do
mesmo Mosteiro, e do Poente com o carreiro que vai para a Igreja e
que somente produz feno. Item, outro chamado do Moinho, com seu
moinho, dentro que parte do Nascente com o terreiro do Mosteiro e do
Poente com a estrada que vai para Rouças. Item, mais a Serca por
cima do Moinho que pare do Nascente com a estrada publica que vai
para a igreja e do Poente com o Mosteiro que se compõem de carvalhos
piquenos e tojo. Item, outra tapada chamadas Mattas que parte do
Nascente com Manuel Domingues de Souto Mendo de Vaixo, e outros, e do
Poente com a estrada publica que vai para Melgaço, e sua produção
he ttojo. Item mais hum monte chamado da Fraga, que se compõem de
casinheiros, que parte do Nascente com Diogo Domingues de
Pousafolles, e do Poente com a corga que vai para o lugar de Gonlle
freguesia de Christoval e lugar do Campinho de Fiaens.
Item,
mais a quinta sita no lugar de Caballeiros freguesia de Rouças que
se compõem de cazas tilhadas e sobradadas, e terras de pão e vinho,
e carvalheira no fundo, e com árvores
de fruto que parte do Nascente com a estrada publica que bem de
Fiaens ara Melgaço e do Poente coma quinta de Pascoa Domingues, e
regato de babuzaens"
(MARQUES, J.
1990). Posteriormente, o governo manda por em praça pública as ruínas do mosteiro para serem vendidas, mas inicialmente não aparecem licitantes. Depois, é vendido em haste pública, estendendo-se a ruína pelas dependências, e a igreja passa a ser paroquial; Em 1836, a 06 de Novembro, é extinto o couto e é concretizada a sua incorporação no concelho de Melgaço.
Umas décadas mais tarde, na
descrição do templo e das ruínas do mosteiro feita
por Guilherme Oliveira num
livro publicado em 1903,
consta que "da
torre, que devia ser grandiosa, restam alguns metros de grossas
paredes, formadas de grandes pedras desconjuntadas, tendo, mesmo
assim n'ellas cravadas, o enorme sino que ainda tange para o serviço
da igreja. Havia n'este logar uns vestígios de muralha, que foram
propositadamente demolidos para a construção do cemiterio que hoje
alli existe, o qual é fechado por moderna grade de ferro".
Na fachada da igreja, o autor refere o portal
"que
é do mesmo estylo, (...) gótico pouco ornamentado"
(OLIVEIRA, 1903), o brasão arcebispal, tendo, à direita, o de
Portugal e, à esquerda, o de uma rainha portuguesa que foi da casa
de França, e a cobri-lo a mitra e o báculo e as respetivas coroas.
No adro, que contorna o edifício, havia grandes carvalhos. "Existem
tambem de pé as paredes frontaes de uma parte da ala direita do
convento, a qual, como o requeria o logar, que é de grandes
ventanias e temporaes, tem fortes cantarias. As janelas e portas são
de pequeno formato e sem nenhuma importancia architectonica. Eram por
detraz os claustros, dos quaes ainda se vêem algumas elegantes e
finas columnas sustentando aqui um arco, alli um resto de flecha, e
além formando monte (...). Existem tambem, dispersas pelo terreno
transformado em campo de lavoura, paredes com restos de janelas,
hombreiras, escadas, e o logar da fonte que abastecia o convento"
(OLIVEIRA, 1903). "Tinha
o D. Abbade capela particular, - chamada abacial, - a qual está
assinalada por pedaços de grossos muros mal conservados. Alli, em um
altar, veneravam-se as imagens de Nossa Senhora da Conceição, de
grande formato, e outra menor, de S. Bernardo. Havia dependências
especiaes para as audiencias publicas, casa de albergue alpendradas,
e um corpo de edifício do uso e estado independente do superior. Era
na grande sala da presidencial que se resolviam os negocios
do
convento, na presença do escrivão de Valladares”
(OLIVEIRA, 1903).
O mosteiro era completado, com a casa do capítulo, refeitórios,
penitencias e biblioteca que, "conjuntamente
com o archivo, desappareceu em um dos incêndios"
(OLIVEIRA, 1903). "Seguem-se
velhas casarias ou choças assobradadas, que são hoje a residencia
do Reitor. Na frente d'estas, e ao lado do adro, existem ainda umas
depressões no solo por onde se escoam fios de aguas sulphurosas, que
são os vestígios dos antigos banhos que alli havia"
(OLIVEIRA, 1903). Frei Agostinho de Santa Maria refere que o povo
vinha de longe banhar-se nesta fonte e tal era a virtude das águas
que todos voltavam sãos. Especialmente no dia de São João Batista
os enfermos aglomeravam-se, e, na ansia de encontrarem remédio para
os seus males, criavam disputas e desordens, chegando a ocorrerem
ferimentos mortais. Assim, as autoridades resolveram entulhar os
banheiros, terminando a causa das discórdias, no entanto, em 1903 os
doentes ainda lá iam ou mandavam buscar um pouco da água que
corria. Oliveira descreve a igreja com "Duas
ordens de robustíssimas columnas de granito, de remota antiguidade,
formam a nave central da egreja. As cornijas e as cimalhas são
ornadas com figuras mais ou menos plantasticas. Os arcos, largos e
bem lançados, com elegantes archivoltas, teem grande imponência e
vão até aos frechaes do tecto, que era de madeira apainelada. O
tempo destruiu-o, e hoje, a telha vã que os ventos separa, faz que,
através do seu arrendilhado, se veja o azul do céo, e se escoem as
chuvas que hão arruinado o pavimento. As columnas, que sustentam o
arco da frontaria estão cortadas com arte, a alguns metros do solo,
o que lhe dá a apparencia de uma arcaria suspensa. O altar
principal, assim como os lateraes, teem a obra de talha bem
estragada, e parecem pequenos para o tamanho do templo. Na capella
môr, há um retábulo pintado e dourado, e no throno a imagem de
Santa Maria, e diversas. No altar de S. Bento vê-se tambem um
retábulo menor. Esta imagem era, até há pouco tempo, visitada
pelas populações dos contornos durante o anno, e, particularmente,
no dia em que a egreja venera o santo, por ser de grande devoção e
muito milagrosa. Há ainda diversos altares com as imagens de S.
Sebastião e outras. O d'este santo, que era da confraria das almas,
foi feito privilegiado em 1716, por breve do papa Benedito XIV. O
púlpito é de madeira entalhada, com a folhagem alta. O grande côro
tem a mesma simplicidade e robustez que se nota em todo o edifício.
Dos túmulos, o único que existe é o de Fernão Annes de Lima, pae
do primeiro Visconde de Villa Nova de Cerveira, o qual se supõe ter
sido sepultado pelos anos de 1430 (...) tem as armas sobrepostas, e
assente sobre dois supportes que terminam em cabeças de fórma
humana. Este túmulo foi primitivamente collocado junto à capella de
S. Sebastião. Hoje acha-se à direita de quem entra
"(OLIVEIRA, 1903).
Informações
extraídas de:
-
OLIVEIRA, Guilherme de (1903) - Uma Visita às Ruínas do Real
Mosteiro de Fiães. Lisboa: Typographia da Sociedade A Editora.
-
MARQUES, José (1990) - O Mosteiro de Fiães (Notas para a sua
história). Braga: Barbosa & Xavier, Limitada.
Sem comentários:
Enviar um comentário