Desde
há vários séculos que vemos referências a nascentes de águas
virtuosas junto ao mosteiro de Fiães (Melgaço), tendo mesmo
existido ali umas caldas até por volta de finais do século XVII.
Ainda hoje, mesmo ao lado da igreja do primitivo mosteiro, podemos
contemplar uma fonte muito antiga. É conhecida como a Fonte da
Madalena e foi mandada construir há quase 300 anos por um abade que
tinha vindo para o mosteiro poucos anos antes.
A
história da Fonte da Madalena inicia-se por volta de 1735. Nessa
altura, torna-se abade do mosteiro de Fiães, Frei Félix da
Cerveira, natural de Viana do Castelo. Pouco depois, o abade manda
proceder a obras que facilitassem o acesso ao mosteiro, nomeadamente
aplanar o monte onde se implantava, criando o terreiro que o precede
e plantar as árvores que o bordejam, bem como a bonita Fonte da
Madalena. Dois anos mais tarde, em 1737, conclui-se a construção
desta fonte, conforme a data inscrita no espaldar da mesma, sob ordem
do frei Félix da Cerveira.
Para
nos contar algo sobre a história desta fonte, podemos ver uma
inscrição no espaldar da fonte inspirada na máxima do livro
Bíblico de Provérbios 14:27: "TIMOR DOMINI FONS VITAE /
PROVER. CAP. XIV / ANNO DOMINI / M.DCCXXXVII" (MARQUES, 1990).
As alas laterais possuem igualmente o friso inscrito, atualmente
apenas visível na ala sul: "cujus pátria fuit opidum
Vianense, qui in ingressu istius Monasterii pulchrum edificium
fontis, parietesque construere fecit; monten scindere, arboresque
plantare; et ita cultum reddit ingressum, qui satis antea enoormis
erat" (MARQUES, 1990), cuja tradução é "o P. M.
Frei Félix de Cerveira, natural de Viana, que, à entrada deste
Mosteiro, mandou construir um belo fontanário, aplanar o monte e
plantar árvores, assim tornando agradável o acesso que antes era
difícil " (MARQUES, 1990). Numa das pedras da ala sul está
também a data de 1737 inscrita, mas em numeração árabe.
Já
em 1903, a Fonte da Madalena é referida por Guilherme Oliveira como
tendo "excelente e frigidíssima água, com bancos formando
circulo" (OLIVEIRA, 1903).
Trata-se
de um chafariz em cantaria granítica, flanqueado por duas alas
retilíneas, formando U aberto invertido, virado a poente, com
pavimento intermédio em lajes de cantaria. No centro do U, surge o
chafariz propriamente dito, com espaldar retilíneo, tendo a face
principal definida por duas pilastras, de fuste liso, que sustentam
friso e cornija reta do remate. A zona central possui brasão com as
armas reais, com escudo "francês", contendo escudo
nacional com os cinco bosantes em cruz, envolvido por bordadura de
sete castelos. No terço inferior possui bica carranca, que verte
para tanque semicircular, de perfil curvo, e bordo saliente. As alas
laterais, mais baixas que o espaldar e percorridas por banco de
cantaria, são em cantaria aparente, ritmadas por pilastras e
rematadas em friso e cornija, possuindo o friso da ala sul inscrição.
A ala norte encontra-se muito derruída.
Há,
conforme se refere atrás, referências muito antigas a outras águas
virtuosas junto ao mosteiro de Fiães tendo aqui existido em tempos
umas caldas bastante concorridas. No livro “Aquilégio Medicinal”
de 1726, sabemos que nesta altura, as Caldas de Fiães já estavam
desativadas e cobertas de terra. Neste livro podemos ler que “Junto
à cerca do Mosteiro de Santa Maria de Fiaens, da ordem de Cister,
comarca de Valença do Minho, houve umas caldas de muyta virtude para
queixas de nervos, e juntas, a que concorria muyta gente de várias
partes, a curar-se dos achaques, que padecião.
Hoje
não se usa delas, porque ha muytos annos, que se cubrirão, e
taparão, ou por negligência, ou por particulares conveniencias.”
Desconhece-se
em que período é que estas Caldas de Fiães tiveram fama em que
período é que as caldas foram desativadas.
No
livro “Portugal Antigo e Moderno”, do professor Pinho Leal, no
volume III, de 1874, encontramos um referência a estas caldas e ao
facto de as nascentes terem sido tapadas pelas autoridades por causa
de desordens na zona de banhos. Neste sentido, podemos que “A
Oeste do adro, rebenta um manancial de água mineral ferruginosa, a
que se atribui algumas virtudes medicinais. Consta que houve aqui uns
tanques para banhos, mandados entupir por ordem da autoridade por
causa das desordens, ferimentos e até mortes, de que eram causa, por
quererem todos banhar-se ao mesmo tempo.”
Estas
informações são mais ou menos replicadas no livro “O Minho
Pittoresco” de José Augusto Vieira, de 1886, nestes termos “A
oeste do convento rebenta um manancial de águas ferruginosas, não
analisadas ainda e a que os povos dali atribuem virtudes medicinais,
tendo havido em tempo uns tanques para banhos, que a autoridade teve
de mandar fechar por causa dos conflitos a que dava lugar a
concorrência. "
Informações
recolhidas em:
-
HENRIQUES, Francisco da Fonseca (1726) – Aquilégio Medicinal.
Impresso na Oficina da Música, Lisboa.
-
MARQUES, José (1990) - O Mosteiro de Fiães (Notas para a sua
história). Braga: Barbosa & Xavier, Limitada.
-
OLIVEIRA, Guilherme de (1903) - Uma Visita às Ruinas do Real
Mosteiro de Fiães. Lisboa: Typographia da Sociedade A Editora.
-
PINHO LEAL, Augusto Soares A. B. (1874) - Portugal Antigo e Moderno
(Volume III). Livraria Editora de Mattos Moreira & Companhia,
Lisboa.
-VIEIRA,
José Augusto (1886) - O Minho Pittoresco, tomo I, Edição da
livraria de António Maria Pereira- Editor, Lisboa.
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