sábado, 16 de novembro de 2019

A Fonte da Madalena, junto à igreja do mosteiro de Fiães (Melgaço)




Desde há vários séculos que vemos referências a nascentes de águas virtuosas junto ao mosteiro de Fiães (Melgaço), tendo mesmo existido ali umas caldas até por volta de finais do século XVII. Ainda hoje, mesmo ao lado da igreja do primitivo mosteiro, podemos contemplar uma fonte muito antiga. É conhecida como a Fonte da Madalena e foi mandada construir há quase 300 anos por um abade que tinha vindo para o mosteiro poucos anos antes.
A história da Fonte da Madalena inicia-se por volta de 1735. Nessa altura, torna-se abade do mosteiro de Fiães, Frei Félix da Cerveira, natural de Viana do Castelo. Pouco depois, o abade manda proceder a obras que facilitassem o acesso ao mosteiro, nomeadamente aplanar o monte onde se implantava, criando o terreiro que o precede e plantar as árvores que o bordejam, bem como a bonita Fonte da Madalena. Dois anos mais tarde, em 1737, conclui-se a construção desta fonte, conforme a data inscrita no espaldar da mesma, sob ordem do frei Félix da Cerveira.
Para nos contar algo sobre a história desta fonte, podemos ver uma inscrição no espaldar da fonte inspirada na máxima do livro Bíblico de Provérbios 14:27: "TIMOR DOMINI FONS VITAE / PROVER. CAP. XIV / ANNO DOMINI / M.DCCXXXVII" (MARQUES, 1990). As alas laterais possuem igualmente o friso inscrito, atualmente apenas visível na ala sul: "cujus pátria fuit opidum Vianense, qui in ingressu istius Monasterii pulchrum edificium fontis, parietesque construere fecit; monten scindere, arboresque plantare; et ita cultum reddit ingressum, qui satis antea enoormis erat" (MARQUES, 1990), cuja tradução é "o P. M. Frei Félix de Cerveira, natural de Viana, que, à entrada deste Mosteiro, mandou construir um belo fontanário, aplanar o monte e plantar árvores, assim tornando agradável o acesso que antes era difícil " (MARQUES, 1990). Numa das pedras da ala sul está também a data de 1737 inscrita, mas em numeração árabe.
Já em 1903, a Fonte da Madalena é referida por Guilherme Oliveira como tendo "excelente e frigidíssima água, com bancos formando circulo" (OLIVEIRA, 1903).
Trata-se de um chafariz em cantaria granítica, flanqueado por duas alas retilíneas, formando U aberto invertido, virado a poente, com pavimento intermédio em lajes de cantaria. No centro do U, surge o chafariz propriamente dito, com espaldar retilíneo, tendo a face principal definida por duas pilastras, de fuste liso, que sustentam friso e cornija reta do remate. A zona central possui brasão com as armas reais, com escudo "francês", contendo escudo nacional com os cinco bosantes em cruz, envolvido por bordadura de sete castelos. No terço inferior possui bica carranca, que verte para tanque semicircular, de perfil curvo, e bordo saliente. As alas laterais, mais baixas que o espaldar e percorridas por banco de cantaria, são em cantaria aparente, ritmadas por pilastras e rematadas em friso e cornija, possuindo o friso da ala sul inscrição. A ala norte encontra-se muito derruída.
Há, conforme se refere atrás, referências muito antigas a outras águas virtuosas junto ao mosteiro de Fiães tendo aqui existido em tempos umas caldas bastante concorridas. No livro “Aquilégio Medicinal” de 1726, sabemos que nesta altura, as Caldas de Fiães já estavam desativadas e cobertas de terra. Neste livro podemos ler que “Junto à cerca do Mosteiro de Santa Maria de Fiaens, da ordem de Cister, comarca de Valença do Minho, houve umas caldas de muyta virtude para queixas de nervos, e juntas, a que concorria muyta gente de várias partes, a curar-se dos achaques, que padecião.
Hoje não se usa delas, porque ha muytos annos, que se cubrirão, e taparão, ou por negligência, ou por particulares conveniencias.
Desconhece-se em que período é que estas Caldas de Fiães tiveram fama em que período é que as caldas foram desativadas.
No livro “Portugal Antigo e Moderno”, do professor Pinho Leal, no volume III, de 1874, encontramos um referência a estas caldas e ao facto de as nascentes terem sido tapadas pelas autoridades por causa de desordens na zona de banhos. Neste sentido, podemos que “A Oeste do adro, rebenta um manancial de água mineral ferruginosa, a que se atribui algumas virtudes medicinais. Consta que houve aqui uns tanques para banhos, mandados entupir por ordem da autoridade por causa das desordens, ferimentos e até mortes, de que eram causa, por quererem todos banhar-se ao mesmo tempo.”
Estas informações são mais ou menos replicadas no livro “O Minho Pittoresco” de José Augusto Vieira, de 1886, nestes termos “A oeste do convento rebenta um manancial de águas ferruginosas, não analisadas ainda e a que os povos dali atribuem virtudes medicinais, tendo havido em tempo uns tanques para banhos, que a autoridade teve de mandar fechar por causa dos conflitos a que dava lugar a concorrência. "


Informações recolhidas em:
- HENRIQUES, Francisco da Fonseca (1726) – Aquilégio Medicinal. Impresso na Oficina da Música, Lisboa.
- MARQUES, José (1990) - O Mosteiro de Fiães (Notas para a sua história). Braga: Barbosa & Xavier, Limitada.
- OLIVEIRA, Guilherme de (1903) - Uma Visita às Ruinas do Real Mosteiro de Fiães. Lisboa: Typographia da Sociedade A Editora.
- PINHO LEAL, Augusto Soares A. B. (1874) - Portugal Antigo e Moderno (Volume III). Livraria Editora de Mattos Moreira & Companhia, Lisboa.
-VIEIRA, José Augusto (1886) - O Minho Pittoresco, tomo I, Edição da livraria de António Maria Pereira- Editor, Lisboa.

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