domingo, 19 de julho de 2020

A freguesia de Chaviães (Melgaço) descrita em meados do século XVIII


A Paróquia de Santa Maria Madalena de Chaviães é uma das mais antigas do concelho de Melgaço e integra-o desde a sua origem. 
São raras, ao longo da História, descrições desta freguesia. Podemos destacar aquela que é feita pelo pároco da freguesia em 1758 pelo pormenor e pelo conhecimento de Chaviães na época. 
Mas como seria Chaviães há pouco mais de 250 anos? O padre António José de Sousa Gama, pároco à época, conta-nos que Chaviães, tinha duzentos vizinhos (fogos) “e seiscentas e vinte pessoas pouco mais ou menos”. O padre fala-nos que a freguesia “está situada em valle algum tanto despenhadeiro as margens do rio Minho e confronta com o Reyno da Galiza, que o rio Minho divide deste de Portugal, e confronta com o dito Reyno na Província e bispado de Tui(…) 
Os lugares que compunham a freguesia na época eram lugar chamado Chavians onde está situada a igreja matriz, o lugar de Gondufe, o lugar da Portella do Couto, Soengas, BoussasOuteyro, Barreiro e Quintas. 
O pároco conta-nos que o orago “é Sancta Maria Magdalena e asua igreja paroquial tinha, na época, “três altares, o mayor com o Santíssimo Sacramento e a Padroeyra; outros dois, um de Nossa Senhora do Rosário e o outro do Mártir S. Sebastião. Não tem mais que uma nave que é o corpo da igreja, essa não tem mais que um campanário e há sino. Tem três confrarias: a da Almas, pobre e a do Santíssimo Sacramento e do Mártir S. Sebastião, pobríssimas”. 
Diz-nos ainda que “tem esta freguesia no lugar de Gondufe uma ermida de Nossa Senhora da Encarnação, a qual se festeja no seu dia com missa cantada e sermão, à qual concorre a gente da freguesia e alguma das circumvizinhas . Esta ermida, foram os moradores do dito lugar que a fizeram para nella ouvirem missa cantada de alva aos domingos e dias sanctos por ficarem um quarto de légoa distante da igreja matriz. É antiga, sem romagem em tempo algum. 
Fala-nos ainda sobre a variedade daquilo que se colhe nesta freguesia ao escrever “os frutos que os moradores colhem com mayor abundância é o milhão, centeyo, trigo pouco e cevada nenhuma. É abundante de vinho e bom, castanhas e todo otipo de frutas, hortaliças e legumes”.  
O pároco esclarece-nos ainda que nesta freguesia não se faz feira alguma mas sim se faz na villa de Melgaço aos nove dias dos meses e esta não é cativa e dura dia e meyo.” 
Podemos ainda ler nas Memórias Paroquiais de Chaviães, onde o vigário nos fala de umas águas que nascem nas margens do rio Minho ou emergem no meio deste. O dito sacerdote carateriza essas águas como “Salutíferas, medicinais, asidulas por passarem por minerais de ferro (…) e costumam onde nasce, correr pouca água, deixar por cima um lasso prateado com algumas feses douradas”. O vigário fala-nos que estas águas “tem virtude eficaz para curar feridas porque são um conjunto de vá­rias águas e muitas delas são sulfúreas que nascem pela borda do dito rio e outras nasceram no centro dele e pelas áreas de ouro”. Ainda em relação às águas do rio Minho, o vigário de Chaviães escreve nas Memórias Paroquiais que “hum célebre médico castelhano, que esteve no Mosteiro dos Religiosos de Tomar D. Jozé Lavandera (…) fez nelas suas experiências e foi maravilhado dellas, dizendo que tinham a mesma virtude que as de [Prixmoni?], em Inglaterra”. 
Refere também que “não tem esta freguesia serra alguma(…) Entra em parte della pela parte do sul um braço da serra chamada Pumedelo, a qual serra está desta freguesia distante uma boa légoa. Esta serra terá de comprido meya légoa de nascente para poente e um quarto de légoa de altura (…) e sempre as primeiras neves caem no tempo do Inverno bastante húmido e permanecem  nella bastante tempo. Colhe-se nella abundância de pão de centeyo e é muito fértil para pastos de gado miúdo e grande. Há abundante caça de veados, gamos, lobos e raposas, lebres e perdizes. Nella nasce um ribeiro que as águas deste regam toda a ribeira por onde passalégoa e meya e acha o rio Minho.” 
O pároco refere-se ainda ao rio Minho mais uma vez: “Por esta freguesia passa o famoso e caudaloso rio Minho o qual nasce no Reyno de Galiza no Bispado de Lugo a vinte e quatro légoas distante desta freguesia e entra em Portugal e divide do Reyno da Galiza, uma légoa de distância desta freguesia. 
O padre acrescenta que na freguesia de Chaviães, o rio Minho “corre arrebatado (…) que senão passa para a Galiza em barcas, senão uma espécie de jangadas que não cargam mais que meya dúzia de pessoas, sem qualquer besta. Há desta casta de barcos de passagem e no distrito desta freguesia, quatro sujeitos à Câmara da Villa de Melgaço” que estavam situados na “CureyaBoussa, Outeiro e Porto Vivo, porque este é o Reyno da Galiza”. 
Em Chaviães, há dois séculos e meio, o rio Minho seria muito rico em peixe, senão repare naquilo que o padre escreve: “Há abundantíssimo de bello peixe, tanto na bondade, que nesta excede a todo o peixe dos mais rios e que tano mais longe do mar, mais gostoso, pois desde Caminha até Monção, tem diferente gosto, do que desde Monção até estas terras. (…) A qualidade do peixe é salmão, trutas, meros. As trutas mayores, os meros excelentes, o salmão no gosto. (…) 
Há também abundância de sáveissabenlhas (que são mais pequenas que os sáveis), lampreias com abundância; há alguns anos que chegam a valer a meyo tostão e os sáveis atrás, quatro vinténs (…). Há também muitas tainhas, mungas, bogas, enguias, tudo em abundância (…) 
O pároco explica-nos ainda que o que se pesca no rio Minho em Chaviães “é livre, somente nas pesqueiras, não é livre que essas têm donos, senhorios e algumas pagam foros... 
Ficamos a conhecer melhor a freguesia de Chaviães em meados de século XVIII, através de uma das poucas fontes que nos dá uma descrição com tanto pormenor: as Memórias Paroquiais de 1758. 

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