No início dos anos 20 do século passado, as condições de vida em Melgaço e na generalidade do país eram muito difíceis. Além da guerra, a nossa terra tinha sido fortemente atingida pela pandemia da Gripe Espanhola, numa altura de grave crise económica. Na edição do jornal “O Comércio do Porto” de 27 de Outubro de 1920, uma notícia fala-nos um pouco sobre os elevados preços praticados na feira de Melgaço e na falta de géneros. Eram tempos muito duros...
Na dita notícia, podemos ler: “MELGAÇO, 24 – Em virtude de o dia de hoje se apresentar chuvoso, a feira quinzenal que se realizou não foi concorrida como era de costume ser e a falta de géneros expostos à venda foi grande, vendendo-se os poucos que appareceram por preços altos, preços que só os novos ricos podem aguentar.
O milho, que nesta quadra costumava vender-se por preço regular, tem-se vendido a 10$000 e 12$000 réis cada 80 litros, quando nos concelhos de Monsão, Valença e outros do districto se vendem os mesmos 80 litros a 6$000 réis. Feijão, batata e centeio, também atingiram já um preço que faz tremer os menos abastados, os que necessitam comprar e cujos rendimentos não chegam para fazer face a tão grossas despezas. E nos estabelecimentos como tudo sobe de dias para dia! É um horror!
Desde que foi declarada a greve ferroviário, os géneros têm subido desmedidamente: o bacalhau, que se vendia antes a 1$600, passou logo a 2$000 e a 2$300 cada kilograma; o azeite, que se vendia a 8$000 o litro, passou a vender-se a 8$700! E os restantes géneros sobem de preço na mesma proporção.
Era para isto que pediam a liberdade de commercio.
Independentemente d’esta carestia, temos ainda a flagellar-nos os açambarcamentos dos géneros produzidos aqui, que os exportam para fora do concelho, a caminho da fronteira, passando-os para a Galliza, com a mira dos lucros que o preço do câmbio lhes dá.
Se tivéssemos uma autoridade activa e cumpridora dos seus deveres, não sentiríamos a falta de muitos géneros nem seriamos tão explorados, com relação ao preço. Em todos os concelhos, as autoridades promovem que não haja falta de género, não deixando sahir o que faz falta: aqui, dá-se exatamente o contrário, tudo sai do concelho sem a mais leve oposição...”
Extraído de: Jornal “O Comércio do Porto”, edição de 27 de Outubro de 1920.
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