Viajamos até Agosto de 1918. Em Melgaço, como na generalidade do país, as condições de vida eram muito difíceis devido à guerra e à muito difícil situação económica mundial. Da nossa terra, tinham partido dezenas de homens para combaterem os alemães nas trincheiras de França e em África. Contudo, no Peso, corria a habitual temporada termal e ali afluíam numerosas personalidades ilustres para procurarem a cura nestas termas.
O Peso, na época, era uma espécie de um “mundo à parte”. Enquanto que no resto do concelho se vivia numa realidade muito difícil, o Peso assemelhava-se a um clube de ricos, imune à crise e à guerra.
A afluência de visitantes de classe social privilegiada tinha como efeito atrair ao Peso numerosos pedintes que procuravam nos visitantes uma pequena ajuda para a sua miserável condição de vida. Tal realidade é-nos mostrada numa notícia no jornal “A Manhã”, na sua edição de 25 de Agosto de 1918 onde podemos ler o seguinte:
“PESO, MELGAÇO, 19 – Deu-nos ontem o prazer da sua visita o nosso querido amigo João Pinho. Saiu pela tardinha da sua formosa quinta dos Milagres, em Monção, com a sua esposa e seu cunhado, e veio até aqui. E, depois de um adorável cavaco de três horas, a que a política não foi estranha - político impenitente como é João Pinho – o antigo governador civil substituto de Viana, retirou-se, prometendo-nos, para breve, com a sua hospitalidade gentil e carinhosa, compensar-nos dos amargores que, à vinda, sofremos em Monção. (…)
Como já lhes referi, a mendicidade aqui nestas termas constitui uma enorme legião. À entrada do pavilhão das águas, pelas estradas, em frente dos hotéis, em todos os cantos, enfim, a peregrinação dos indigentes é um verdadeiro flagelo. Entre os hóspedes do Ranhada, fez-se, há dias, uma quête, que, rendendo 26$00, serviu a contemplar cinquenta e dois desses desgraçados.
Agora, uma outra iniciativa benemérita, partida de algumas senhoras que se encontram em uso de águas, constituídas em comissão, a qual tem à sua frente as senhoras D. Vitória Sardinha, D. Amélia de Sousa e D. Laura Borralho, vêm em socorro da indigência do Peso e de Melgaço. Essa comissão está, afanosamente, angariando, entre os hóspedes dos diferentes hotéis, objectos para uma quermesse que deve, talvez, inaugurar-se na próxima quinta feira e produzir, decerto, atento o simpático fim, avultado rendimento. Têm essas senhoras, além do nosso insignificante auxílio material, todo o nosso aplauso moral.
Aqui lho deixamos, gratamente, consignado.”
Extraído de: Jornal “A Manhã”, edição de 25 de Agosto de 1918.
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