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| Estrada nas proximidades de São Gregório, Melgaço (1911) |
Em tempos antigos, a via que percorria o vale do Minho entre Caminha e Melgaço e que se prolongava até São Gregório era a designada Estrada Real nº 23. Dizia-se em 1866, que o troço entre Valença e São Gregório se encontrava em muito mau estado e impunha-se o seu melhoramento. A urgência de uma intervenção é tema de uma notícia do jornal portuense “O Comércio do Porto” de 31 de Maio de 1866 onde se pode ler:
“Estrada de Valença a S. Gregório - Publicando há tempos uma representação que a Câmara de Valença dirigira ao governo, pedindo a pronta construcção da estrada d’aquella villa a S. Gregório, no concelho de Melgaço, acompanhamo-la das reflexões que o assunto nos suggeriu, secundando a Câmara de Valença na sua justa solicitação.
No "Diário de Lisboa" de 28 do corrente deparamos com algumas palavras pronunciadas na câmara efetiva pelo Sns. Joaquim Maria Osório, representante do Círculo de Melgaço, por ocasião de apresentar uma proposta relativa à construção da mesma estrada. Julgando essas palavras dignas de trasnscrição, porque veem em reforço do que se tem dito acerca da necessidade de melhoramento alludido, damo-las em seguida, bem como a proposta feita pelo mesmo Snr. Deputado para que se converta em realidade o que os habitantes do concelho de Valença com sobrada razão pedem que lhe seja concedido.
Cumpre notar, porém, que não é esta a única vez que o Snr. Joaquim maria Osório, advogando os interesses da localidade que representa, tem feito ouvir a sua voz no parlamento a solicitar dos poderes públicos que tenham em consideração as reclamações dos povos de Valença, reclamações sobejamente fundadas n’este ponto, pelo estado de abandono a que se acha votada a comunicação entre aquella vill e a povoação de S. Gregório.
Na passada sessão de 25 do mez passado, por ocasião de mandar para a meza a representação da Câmara de Valença, que n’este jornal foi transcrita, S. Ex.cia acompanhou-a de algumas reflexões, que muitos deviam influir para o seu diferimento, se a justiça de qualquer causa fosse sempre a melhor recomendação para ser attendida.
Eis as palavras do illustre deputado: Não posso deixar de chamar à atenção do inteligentíssimo ministro das Obras Públicas para o estado em que infelizmente se acha a estrada de Valença a S. Gregório no concelho de Melgaço. É ele de tal natureza, que o excelentíssimo antecessor de Sua Excelência, o Sr. Conde de Castro, em uma das ocasiões a que aludi a este assunto, nesta casa e daquela mesma cadeira me disse que há quarenta anos, estando Sua Exelência em Melgaço, se tinha contristado de ver o miserável estado desta estrada, já então intransitável.
Na actualidade, pôde Sua Excelência ajuizar qual será o seu estado, e quais serão os perigos a que se têem sujeitado os habitantes dos concelhos de Valença, Monção e Melgaço, que se vêem na dura precisão de a transitarem. Tornando-se estes perigos muito mais graves nas ocasiões invernosas, em que o rio Minho com as suas cheias a inunda.
Acresce a este mal os prejuízos que sofrem os proprietários de não poderem levar os seus géneros agrícolas e industriais aos pontos de consumo.
Não tratarei agora de enumerar os factos lamentáveis que se têem dado naquela estrada, porque não desejo cansar a atenção da câmara e a do nobre ministro. Mas não posso deixar de chamar a atenção de Sua Excelência sobre a quase paralisação em que se acham os trabalhos da estrada dos Arcos a Monção, pelo diminuto pessoal que ultimamente ali se tem empregado. Espero que Sua Excelência dê as providências necessárias para activar a construção desta estrada, e para mandar continuar os trabalhos na direcção de Melgaço, por ser essa a directriz a seguir.
Também não posso deixar de chamar a atenção do nobre ministro sobre o estado em que se encontra a estrada de Valença a Paredes de Coura.
A câmara sabe que Coura é um ponto importantíssimo para o comércio, porque é sem duvida o celeiro do Minho, e os proprietários não têem meios alguns de fazerem sair os seus géneros agricolas para consumo, como acontece aos de Melgaço e Monção, do que lhes resulta graves prejuízos.
Confio que o nobre ministro tomará em consideração estas minhas observações, que são verdadeiras. Leu-se na mesa a seguinte proposta: Proponho que da verba, destinada para as estradas, seja aplicada a quantia necessária para a construção das estradas de Valença a S. Gregorio no concelho de Melgaço, e da de Valença a Paredes de Coura no concelho de Valença.
O deputado, Joaquim Maria Osorio.
Enviada á comissão de fazenda.”
A nova estrada até São Gregório ficaria concluída ainda na década de oitenta do século XIX...
Extraída de: "O Comércio do Porto", edição de 31 de Maio de 1866.

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