sábado, 2 de maio de 2020

Os lugares de Melgaço no mais antigo mapa de Portugal (1560)




O mapa de Portugal mais antigo conhecido até hoje tem quase 500 anos e foi elaborado em 1560. O seu autor é o cartógrafo Fernando Álvares Secco.
Trata-se de um mapa com um grau de pormenor bastante elevado e onde podemos encontrar a representação de diversos lugares e linhas de água. Uma outra particularidade é que o mapa aparece orientado de forma diferente daquela a que estamos habituados a ver. Assim o Oeste aparece posicionado para o topo da página, ou seja, em vez de vermos Portugal continental posicionado “na vertical” com o norte voltado para o topo do mesmo, o território aparece-nos numa posição “horizontal” tal como se pode observar no mapa integral.

Mapa original e integral
" A Descrição atual e precisa de Portugal, antiga Lusitânia"
de Ferando Álvares Secco (1560)
Ficheiro de grande resolução
clique AQUI

No mapa, podemos encontrar assinalados diversos lugares de Melgaço e, além do rio Minho, os traçados dos rios Trancoso e Laboreiro ainda que não se encontrem referidos os seus nomes. O traçado dos dois pequenos rios encontram-se, contudo, desenhado com pouco rigor: Por um lado, o seu traçado é desenhado dentro do território português e não representam a linha de fronteira como seria o correto. Por outro lado, no mapa, o rio Trancoso, à época chamado de Ribeira das Bárzias, é local de desembocadura das águas do rio Laboreiro. Assim, no mapa, o rio Laboreiro em vez de correr em direção ao rio Lima, vai encontrar-se com o Trancoso e as suas águas vão em direção ao rio Minho. Daqui se nota que o autor do mapa não tinha o mínimo conhecimento do terreno da nossa região. No mapa, o rio Laboreiro, além de ser um afluente do Trancoso, é colocado com a nascente na serra do Soajo.
No mapa, aparece traçado também o rio Mouro e representada a Ponte do Mouro. O autor achou importante marcar a localidade onde nasce o dito curso de água, Lamas de Mouro, mas inscreveu-o com a designação de “Mouco” em vez de “Mouro”. Aparentemente, parecem tratar-se de erros de transcrição e não formas arcaicas dos topónimos.
Chamo à atenção que neste mapa, apesar de aparecerem assinalados vários lugares dos, à época, concelhos de Melgaço e Castro Laboreiro, a vila de Melgaço não merece nenhuma referência, ao contrário da vila castreja. Também Paderne ou Fiães não aparecem assinalados. Ao contrário, encontram-se marcados no mapa, próximos do rio Minho, de Oeste para Este, a Várzea (próximo do Peso, à época era freguesia), Remoães (no mapa “Ramoas”), Prado (no mapa “Prados”) e S. Paio.
Curiosamente, S. Paio aparece assinalado de forma errada como situado próximo da margem do Minho, tal como Remoães e Prado. Este erro pode ser explicado da seguinte maneira. Durante séculos, as igrejas de Remoães e Prado eram subordinadas à de S. Paio e por alguma razão o autor foi induzido em erro colocando S. Paio na margem do Minho.
No território do antigo concelho de Castro Laboreiro, além da vila, aparece representada a Branda do Rodeiro. Temos ainda inscrito um lugar designado de “Os Viduais”. Não sabemos se o autor se queria referir ao lugar ao atual lugar do Vido, mesmo sabendo que a localização não é muito rigorosa.
Aparecem ainda inscritos no mapa dois outros locais situados, aparentemente em terras de Castro Laboreiro: “Corvelhe” (local totalmente desconhecido em terras castrejas nunca citado, creio, em documentos antigos). Será algum erro de transcrição e quereria o autor inscrever o lugar da “Corveira” (forma antiga de “Curveira”)?
O mesmo tipo de observação podemos fazer para outro local identificado no mapa como “Carvalher”. Quereria o autor escrever “Carvalheira”, lugar que se desconhece em documentos antigos como topónimo em terras castrejas? Ou estaria a tentar referir-se ao Porto dos Cavaleiros (Cavaleiros), antigo lugar situado entre Castro Laboreiro e Lamas de Mouro? É mais plausível esta segunda hipótese mas não passa de uma conjetura.
Uma última nota para a designação que é dada à unidade de relevo a que pertencem as terras altas de Melgaço. Hoje em dia, damos nomes vários às várias unidades de relevo situadas dentro do atual território de Melgaço tais como a Serra do Laboreiro, Serra da Peneda ou Serra do Pomedelo. Tal como podemos ver neste mapa, todas as terras altas, a sul do rio Minho, dentro dos concelhos (à época) de Melgaço e Castro Laboreiro são designadas como a “SERA (Serra) DA STRICA”. Essa designação é replicada em mapas posteriores durante o século XVII e XVIII.
Parece ser um equívoco do autor. Na atualidade, ainda temos o sítio e localidade de Estrica que fica perto de Sistelo, no vizinho concelho de Arcos de Valdevez. Em mapas do século XVIII e XIX, encontramos a designação da Serra da Estrica atribuída a uma unidade de relevo a sudoeste de Castro Laboreiro e dentro de terra arcuenses. Creio contudo que este nome da serra se encontra em desuso, existindo contudo o lugar de Estrica.
Uma última nota para este mapa que não se pretende criticar com este pequeno apontamento. Temos que ter em conta que estamos em meados do século XVI e elaborar este mapa foi certamente uma tarefa monstruosa. Por isso, é um marco na cartografia em Portugal e é o mais antigo mapa do nosso país até hoje conhecido.
Hoje, a arte da Cartografia é incrivelmente mais fácil com todos os meios que temos ao dispor.
No tempo de Fernando Álvares Secco tudo era diferente.

Sem comentários:

Enviar um comentário