Penso que toda a gente se questiona da razão ou razões da sua terra ter este ou aquele nome. Normalmente, a origem das do nome das localidades são muito concretas, ligadas a factos reais ou lendas do passado que às vezes correm o risco de se perderem na memória coletiva. No caso de Megaço, a origem do seu nome não é muito clara nem evidente. Senão vejamos.
O topónimo Melgaço anda envolto na bruma da incerteza e deu origem a opiniões contraditórias,
absurdas e risíveis, com aceitação de alguns, por entre álgidas cintilações
celestes. Trago em meu socorro os grandes mestres de olho de lince para a
sapiência toponímica, sem arranjar pretexto para criticar desfavoravelmente
esta ou aquela alegação.
José Pedro Machado
desembaraça o escorregadio assunto ao sentenciá-lo como de «origem obscura», aventando, contudo, a suposição de provir do
latino mellicaceus, e este derivado
de mellicus, não afirmava com certa
certeza se para significar mel ou melga.
Já José Leite de Vasconcelos
dedicou uma escassíssima penada à matéria, em nota de rodapé para aludir a um
eventual antropónimo galaico, embora não de forma convincente ou definitiva: «Melgaço parece relacionar-se com o nome de
homem Melgaecus, que se lê em inscrições romanas do Minho; o étimo seria Melgaceus
igual a Mel-aceus».
Armando de Almeida Fernandes, vai vai na linha de um «nome de raiz pré-romana» melg-, com os sufixos equivalentes –az, –azo,
–aço, tendo em conta a documentação
do século XII, onde o burgo aparece grafado com as formas «villa de Melgazo» (1170, 1173) ou «eclesia de Melgaz» (1185). A tal raiz pré-romana melg-, sobrevinda «talvez de “mel” indo-europeu», designa «rocha ou altura».
Por sua vez Joaquim da Silveira defende outra justificação, para ele o «étimo não oferece dúvida», na medida em que Melgaço procede de «melga nome de planta», sendo que «melga é nome comum de uma planta
forragínea» conhecida por medicago,
alfafa ou luzerna. E, anotamos nós, o vocábulo tem
origem no latim vulgar melica.
Na recente opinião de Batalha Gouveia, em
abono da sua tese, o topónimo estaria ligado aos vocábulos celto-bretão “mael”, «colina», e “cath”, «guerreiro», de maneira que Melgaço
seria, assim a modos, a “Colina do
Guerreiro”.
Longe de cogitar algo conclusivo, o
presente artiguelho tem tão-só a finalidade de recensão crítica, apreciar o
estado geral do geotopónimo em causa e alinhavar algumas linhas sem fazer uso
da luz clara das trevas. A explicação é deveras uma batalha difícil.
Estaremos na presença de “melga” – não, não é o insecto outra vez
–, voz aferética de amelga, oriunda
provavelmente do celta ambelica, e
este composto do préverbo indo-europeu ambi-,
que traduz «ao redor». Em tempos
antiquíssimos o nome amelga designava
«uma facha de terreno que o lavrador
assinala para salpicar as sementes com igualdade e proporção».
Na Península Ibérica a geografia
mostra, a par da povoação minhota, a existência de outra Melgaço, um mero lugarejo em Alcobaça, uma herdade Melgares no Alentejo, Melgaz (Alvaiázere), e diversas
terriolas em Espanha, Melgaza, Melgueiras (Galiza), Melgar (Burgos, Zamora, Palencia,
Toledo, León e Valhadolid) e Melgares.
O chamado paroquial suevo, “Parochiale Suevorum Divisio Theodemiri”, refere a existência da civitas Melga, que Almeida Fernandes
situa no concelho de Baião, por entre guias de
pinheiros e coretos de passarinhos.
O sufixo –aço é deveras corrente em denominação toponímica: Cadraço (Tondela), Gramaço (Oliveira do Hospital), Louraço
(ilha de S. Jorge), Milhaço (Arouca),
Tabuaço (Viseu).
Note-se que nenhuma linha das citadas aparece claramente como aquela que claramente explica a origem do nome da nossa terra...
Note-se que nenhuma linha das citadas aparece claramente como aquela que claramente explica a origem do nome da nossa terra...
Informações extraídas de:
[1] José Pedro Machado, Dicionário Onomástico Etimológico da Língua Portuguesa, II vol., Editorial Confluência, Lisboa, 1984, p. 974.
[2] José Leite de Vasconcelos, Revista Lusitana, III volume, p. 152.
[3] Almeida Fernandes, Toponímia Portuguesa: Exame a Um Dicionário, Arouca, 1999, p.420.
[4] Joaquim da Silveira, Toponímia Portuguesa (Esboços) – V, in Revista Lusitana, vol. XVII, Livraria Clássica Editora, Lisboa, 1914, p. 118.
[5] A luzerna é o nome vulgar da Medicago Sativa, erva leguminosa perene da subfamília das papilionadas, com elevado valor nutritivo para produzir forragem para os animais.
[6] Batalha Gouveia, A Origem dos Nomes – Melgaço, in NOTÍCIAS DE COURA, n.º 152, de 17 de Novembro de 2009, p. 19.
[7] Pierre David, Études Historiques sur le Galice et Portugal du VI.e XII.e Siècle, Livraria Portugália, Lisboa, 1947
[8] Blogue "Escavar em Ruínas".
[8] Blogue "Escavar em Ruínas".
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