Uma das figuras mais famosas da freguesia de S. Paio é o chamado Tomás das Quingostas. Admirado no Alto Minho mas também na Galiza. Idolatrado por uns e odiado por outros, a verdade é que cresci a ouvir histórias da minha avó materna (nascida na primeira década do século XX) que ela própria tinha ouvido de familiares mais idosos ainda em criança. Chamar "Tomás" ou dizer "És pior que o Tomás" era algo insultuoso quando eu ainda era criança...
Ainda há poucas décadas, não havia certezas da sua existência. Era uma personagem lendária. Na verdade havia uma notável falta de estudos que comprovassem a sua existência. Nas últimas décadas, há uma série de estudos que comprovam claramente a sua existência e a sua importância durante a guerra civil entre absolutistas e liberais na primeira metade do século XIX.
Alexandra Patricia Lopes Esteves, professora da Universidade do Minho, dedica-lhe especial atenção na sua tese de doutoramento "Entre o crime e a cadeia: violência e marginalidade no Alto Minho (1732 - 1870)" onde reconstitui o principal da sua bibliografia da qual deixarei aqui o essencial...
Penha de Anaman - refúgio frequente do Tomas das Quingostas na Galiza
Tomás das Quingostas, vulgo de Tomás Joaquim Codeço, nasceu na aldeia de S. Paio, concelho de Melgaço, tendo sido baptizado, em 15 de Agosto de 1808, com nome de Tomás de Aquina. Nasceu no seio de uma família relativamente abastada de agricultores, tendo frequentado a escola.
Esteve detido na cadeia da Relação do Porto até à entrada das tropas comandadas por D. Pedro naquela cidade, sendo conhecido já na década de vinte do século XIX como bandido e membro de um bando que atacava na região de Melgaço. Posteriormente, regressou à sua aldeia natal onde se dedicou ao crime. Em 1834, evadiu-se das cadeias de Lamego, instalando-se novamente no concelho de Melgaço, circulando entre este e o de Valadares, no qual permanecia a maior parte do tempo, alternando com temporadas na Galiza, onde se dedicava ao bandoleirismo, cometendo roubos, agressões e assassinatos.
As primeiras alusões a Tomás das Quingostas, que encontrámos na documentação produzida pelas autoridades administrativas, datam de Novembro de 1834. Embora se trate de uma referência indirecta, o seu nome surgia associado ao de Luís José Caldas, de quem se dizia ser parceiro.
Luís José Caldas, conhecido guerrilheiro, estava na altura preso na cadeia de Valadares. Considerando-se que aquele estabelecimento prisional não reunia condições para albergar um preso de tão elevada perigosidade, determinou-se a sua transferência para Valença.
Todavia, o detido foi fuzilado pela escolta militar que o acompanhava. A morte de Luís Castro Caldas não foi bem recebida pelas instâncias superiores, que tentaram atribuir ao provedor de Melgaço, responsável pela sua captura, a culpa pelo sucedido.
De facto, os constantes fuzilamentos praticados pelas escoltas militares estavam a contribuir para a descredibilização do regime recém-implantado, numa região que revelava fortes resistências ao liberalismo, parecendo haver uma intenção mais teórica do que prática de demarcação “entre o governo legítimo e o da usurpação”.
Por isso, era necessário acabar com as execuções sumárias de presos e com as represálias que os vencedores da guerra civil estavam a praticar sobre os vencidos.
Maria de Fátima de Sá e Melo Ferreira inclui Luís Castro Caldas entre os perseguidos, no concelho de Melgaço, no período compreendido entre Abril e Maio de 1834, por guerrearem contra a causa liberal. Outros dos procurados como chefes de guerrilhas eram Caetano da Ponte, o chamado “Vasconcelos”, Pitta Bezerra e, finalmente, Tomás das Quingostas.
(CONTINUA...)
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