O bando do Tomás das Quingostas é agora levado muito a sério e em Março de 1837 é destacada uma força militar para o Alto-Minho para o neutralizar...
Em inícios de 1836,
Quingostas foi visto a disparar contra soldados espanhóis que o impediram de
utilizar um barco furtado no rio Minho.809 Alguns dias depois, realizava novo atentado,
tendo mais uma vez a freguesia de Paderne como palco. Desta vez, o alvo foi uma
pequena escolta militar, destacada para manter a ordem numa festividade daquela
localidade:
“[…] Tendo os officiais ido a uma
romage que se fez no dia 16 do corrente na freguesia de Paderne do concelho de
Valladares, devertirem-se, levarão consigo huma escolta do mesmo destacamento,
e na occasião de sahir a porcição, em alguma distancia de onde estava a dita escolta,
apareceo-lhe o Monstro Thomas com
dous companheiros e atirando-lhe três tiros, começou a insultallos chamando-lhe
negros e outros vários nomes.”
Deste modo,
Quingostas e os seus companheiros alardeavam um atrevimento cada vez maior, não
se coibindo de provocar as autoridades judiciais, militares e administrativas,
nem de se exibirem em reuniões das populações, como eram as festas. Circulava com total
liberdade pelas estradas que uniam o concelho de Melgaço ao de Valadares, sendo
frequentador assíduo de uma venda, na freguesia de Penso, pertencente àquele
concelho. Contudo, sofreu um revés, quando foi capturado João Pinheiro
Albardeiro, seu amigo pessoal e membro da quadrilha que liderava. Meses mais
tarde, será a vez de Joaquim José de Sá, um desertor, natural do concelho de Paredes
de Coura, também ser preso. Apesar destas contrariedades, Quingostas continuava
a movimentar-se impunemente por algumas freguesias dos concelhos de Melgaço e
Valadares, dando-se ao luxo de arrancar os editais com mensagens contra si,
substituindo-os por outros, da sua lavra, nos quais apregoava não só a sua
invencibilidade, como a sua luta contra as autoridades locais. Um deles
apresentava o seguinte conteúdo
“[…] Como as reais ordens
são dadas por desavergonhados hé o motivo porque se rasgão e se fossem dadas
pelo governo se aceitarião benignamente e portanto o que foi causa deste edital
foi a de me roubar o quanto eu tinha em minha casa porque só em comedeiras se podem
sustentar cai nas mesmas penas que me recolher também cai no mesmo tempo que este
tirar, eu se bem o digo melhor o faço as minhas casas são debaixo das estrelas
sou firme contra os meus inimigos.”
Em Março de 1836, as
autoridades espanholas davam conta da presença de Quingostas na Galiza.
“[…] Por la Peroja y Caldela
estan invadiendo esta Província los facciosos segun las partes que acabo de
recibir; es pues preciso que V. immediatamente tome todas las medias
convenientes para faborecer los pueblos atacados sem perder de vista esos
puntos, y avisando a lo momento a las Authoridades Portuguesas para que se
sirban tener pronta su tropa para ausiliarmos en caso necessário.”
Era evidente a união de
esforços da quadrilha miguelista e da guerrilha carlista, comandada por Lopez.
Quingostas e os seus companheiros eram os responsáveis por um sistema de
angariação de desertores portugueses para as fileiras daquela guerrilha. O
apoio logístico prestado à guerrilha carlista por parte do bando de Quingostas
era evidente para as autoridades espanholas.
Em Junho de 1836,
quando a quadrilha de Tomás Quingostas era já rotulada de miguelista, foi preso
José Joaquim Codeceira “saltiador de reinos, ladrão de estrada, assacino, e sócio
de Quadrilha e Miguelista”, um dos responsáveis pelo aliciamento de desertores portugueses
para integrarem as forças inimigas de Isabel II, tendo ele próprio combatido ao
lado dos guerrilheiros.
Esta
ligação entre apaniguados das causas miguelista e carlista tornava imperiosa a
destruição da quadrilha portuguesa e elevava a fasquia do seu grau de
perigosidade. A captura de elementos ligados ao bando de Quingostas resultava,
em muitos casos, de acções de espionagem, executadas por homens a soldo das
autoridades. Todavia, a prisão desses criminosos não
implicava, necessariamente a sua punição. Muitos acabavam inocentados e postos
em liberdade, ou conseguiam evadir-se dos estabelecimentos prisionais e vingar-se
dos responsáveis pela sua detenção. O administrador do concelho de Melgaço não
se inibia de lançar suspeitas sobre a existência de protecção aos salteadores e
aos miguelistas, por parte do poder judicial, e de apoio exterior nas evasões
de criminosos. Em 11 de Junho de 1836, depois de ter sofrido várias ameaças e
farto da chacota de que era alvo, vendo a sua autoridade ser desacreditada por
indivíduos que viviam à margem da lei, apresentou o seu pedido de demissão ao
governador civil, pois, segundo as suas palavras, “bibo bexado de ver a protecção
que tem tais corifeus, e descaramento e ouzadia com eu elles se portão.”
Quingostas escapou
por pouco à prisão, num ataque de surpresa lançado pelas autoridades, após
terem sido informadas da intenção do salteador se deslocar a uma romaria, tendo
que passar pela freguesia de Gave, situada no concelho de Valadares. A
quadrilha foi realmente surpreendida, mas o seu líder não foi apanhado.
Em finais de 1836,
eram conhecidos os encontros, que tinham lugar no concelho no Melgaço, entre
salteadores e miguelistas, sob o comando de Quingostas, que se presumia terem como
objectivo desenvolver acções de desacreditação do governo liberal, a nível
local, através de investidas contra as autoridades e contra a propriedade.
Durante esse ano, tinham circulado pelos diferentes concelhos do distrito
boatos sobre a realização de reuniões miguelistas e a existência de depósitos
de armas.
Em Outubro de 1836,
realizou-se, naquele concelho, uma reunião que juntou 18 miguelistas, na sua
maior parte oficias amnistiados, oriundos da cidade de Braga, aos quais se juntaram,
dias depois, mais 13 da mesma cidade. Segundo as guardas nacionais de Arcos de Valdevez
e Ponte da Barca, estes indivíduos incorporados na “gavilha” de Tomás
Quingostas formaram um grupo de 45 homens, que, na noite de 21 para 22 de
Outubro daquele ano, passou para a Galiza. O objectivo final seria a realização de um
levantamento pró-miguelista a partir de Melgaço,
contando com a participação dos vários adeptos do miguelismo nesta região.
Logo nos primórdios
de 1837, Quingostas atacou a casa de uma viúva rica da freguesia de Merufe,
concelho de Valadares. Seguido por mais de 20 homens, feriu com uma facada a dona
da casa e, além de dinheiro e roupa, roubou-lhe papéis importantes com a
intenção de a chantagear e, desse modo, obter mais dinheiro. Aliás, o guerrilheiro
recorria frequentemente a este estratagema para extorquir dinheiro.
Em inícios de 1836,
Quingostas foi visto a disparar contra soldados espanhóis que o impediram de
utilizar um barco furtado no rio Minho.809 Alguns dias depois, realizava novo atentado,
tendo mais uma vez a freguesia de Paderne como palco. Desta vez, o alvo foi uma
pequena escolta militar, destacada para manter a ordem numa festividade daquela
localidade:
“[…] Tendo os officiais ido a uma
romage que se fez no dia 16 do corrente na freguesia de Paderne do concelho de
Valladares, devertirem-se, levarão consigo huma escolta do mesmo destacamento,
e na occasião de sahir a porcição, em alguma distancia de onde estava a dita escolta,
apareceo-lhe o Monstro Thomas com
dous companheiros e atirando-lhe três tiros, começou a insultallos chamando-lhe
negros e outros vários nomes.”
Deste modo,
Quingostas e os seus companheiros alardeavam um atrevimento cada vez maior, não
se coibindo de provocar as autoridades judiciais, militares e administrativas,
nem de se exibirem em reuniões das populações, como eram as festas. Circulava com total
liberdade pelas estradas que uniam o concelho de Melgaço ao de Valadares, sendo
frequentador assíduo de uma venda, na freguesia de Penso, pertencente àquele
concelho. Contudo, sofreu um revés, quando foi capturado João Pinheiro
Albardeiro, seu amigo pessoal e membro da quadrilha que liderava. Meses mais
tarde, será a vez de Joaquim José de Sá, um desertor, natural do concelho de Paredes
de Coura, também ser preso. Apesar destas contrariedades, Quingostas continuava
a movimentar-se impunemente por algumas freguesias dos concelhos de Melgaço e
Valadares, dando-se ao luxo de arrancar os editais com mensagens contra si,
substituindo-os por outros, da sua lavra, nos quais apregoava não só a sua
invencibilidade, como a sua luta contra as autoridades locais. Um deles
apresentava o seguinte conteúdo
“[…] Como as reais ordens
são dadas por desavergonhados hé o motivo porque se rasgão e se fossem dadas
pelo governo se aceitarião benignamente e portanto o que foi causa deste edital
foi a de me roubar o quanto eu tinha em minha casa porque só em comedeiras se podem
sustentar cai nas mesmas penas que me recolher também cai no mesmo tempo que este
tirar, eu se bem o digo melhor o faço as minhas casas são debaixo das estrelas
sou firme contra os meus inimigos.”
Em Março de 1836, as
autoridades espanholas davam conta da presença de Quingostas na Galiza.
“[…] Por la Peroja y Caldela
estan invadiendo esta Província los facciosos segun las partes que acabo de
recibir; es pues preciso que V. immediatamente tome todas las medias
convenientes para faborecer los pueblos atacados sem perder de vista esos
puntos, y avisando a lo momento a las Authoridades Portuguesas para que se
sirban tener pronta su tropa para ausiliarmos en caso necessário.”
Era evidente a união de
esforços da quadrilha miguelista e da guerrilha carlista,
comandada por Lopez.
Quingostas e os seus companheiros eram os responsáveis por um sistema de
angariação de desertores portugueses para as fileiras daquela guerrilha. O
apoio logístico prestado à guerrilha carlista por parte do bando de Quingostas
era evidente para as autoridades espanholas.
Em Junho de 1836,
quando a quadrilha de Tomás Quingostas era já rotulada de miguelista, foi preso
José Joaquim Codeceira “saltiador de reinos, ladrão de estrada, assacino, e sócio
de Quadrilha e Miguelista”, um dos responsáveis pelo aliciamento de desertores portugueses
para integrarem as forças inimigas de Isabel II, tendo ele próprio combatido ao
lado dos guerrilheiros.
Esta
ligação entre apaniguados das causas miguelista e carlista tornava imperiosa a
destruição da quadrilha portuguesa e elevava a fasquia do seu grau de
perigosidade. A captura de elementos ligados ao bando de Quingostas resultava,
em muitos casos, de acções de espionagem, executadas por homens a soldo das
autoridades. Todavia, a prisão desses criminosos não
implicava, necessariamente a sua punição. Muitos acabavam inocentados e postos
em liberdade, ou conseguiam evadir-se dos estabelecimentos prisionais e vingar-se
dos responsáveis pela sua detenção. O administrador do concelho de Melgaço não
se inibia de lançar suspeitas sobre a existência de protecção aos salteadores e
aos miguelistas, por parte do poder judicial, e de apoio exterior nas evasões
de criminosos. Em 11 de Junho de 1836, depois de ter sofrido várias ameaças e
farto da chacota de que era alvo, vendo a sua autoridade ser desacreditada por
indivíduos que viviam à margem da lei, apresentou o seu pedido de demissão ao
governador civil, pois, segundo as suas palavras, “bibo bexado de ver a protecção
que tem tais corifeus, e descaramento e ouzadia com eu elles se portão.”
Quingostas escapou
por pouco à prisão, num ataque de surpresa lançado pelas autoridades, após
terem sido informadas da intenção do salteador se deslocar a uma romaria, tendo
que passar pela freguesia de Gave, situada no concelho de Valadares. A
quadrilha foi realmente surpreendida, mas o seu líder não foi apanhado.
Em finais de 1836,
eram conhecidos os encontros, que tinham lugar no concelho no Melgaço, entre
salteadores e miguelistas, sob o comando de Quingostas, que se presumia terem como
objectivo desenvolver acções de desacreditação do governo liberal, a nível
local, através de investidas contra as autoridades e contra a propriedade.
Durante esse ano, tinham circulado pelos diferentes concelhos do distrito
boatos sobre a realização de reuniões miguelistas e a existência de depósitos
de armas.
Em Outubro de 1836,
realizou-se, naquele concelho, uma reunião que juntou 18 miguelistas, na sua
maior parte oficias amnistiados, oriundos da cidade de Braga, aos quais se juntaram,
dias depois, mais 13 da mesma cidade. Segundo as guardas nacionais de Arcos de Valdevez
e Ponte da Barca, estes indivíduos incorporados na “gavilha” de Tomás
Quingostas formaram um grupo de 45 homens, que, na noite de 21 para 22 de
Outubro daquele ano, passou para a Galiza. O objectivo final seria a realização de um
levantamento pró-miguelista a
partir de Melgaço,
contando com a participação dos vários adeptos do miguelismo nesta região.
Logo nos primórdios
de 1837, Quingostas atacou a casa de uma viúva rica da freguesia de Merufe,
concelho de Valadares. Seguido por mais de 20 homens, feriu com uma facada a dona
da casa e, além de dinheiro e roupa, roubou-lhe papéis importantes com a
intenção de a chantagear e, desse modo, obter mais dinheiro. Aliás, o guerrilheiro
recorria frequentemente a este estratagema para extorquir dinheiro.
Em Março de 1837, uma
força militar marchou em direcção aos concelhos de Monção, Melgaço e Valadares,
com a missão não só de pôr termo aos roubos, mas também de perseguir e destruir
a quadrilha de Quingostas.
Mas este
conseguiu escapulir-se para Espanha com cinco dos seus companheiros. O
objectivo das autoridades passou então a ser impedir o seu regresso a Portugal.
No entanto, esta empresa não era fácil de executar, dada a extensão da raia, a
facilidade em transpor o rio Minho e a falta de zelo e de empenho das
autoridades administrativas. O
major José Figueiredo Frazão, comandante das forças destacadas para o Alto
Minho para darem caça à quadrilha do Quingostas, denunciava precisamente esse
desinteresse e as implicações daí advenientes. Estas acusações surgiram na
sequência das picardias, que, desde 1834, impediam uma colaboração mais
estreita entre o poder militar, judicial e administrativo, e davam azo ao aparecimento
de suspeitas, intrigas e à troca de acusações entre os seus responsáveis.
(CONTINUA...)
Informações extraídas de:
in "ESTEVES, Alexandra Patrícia Lopes (2010) - Entre o crime e a cadeia: violência e marginalidade no Alto Minho (1732 - 1870). Tese de Doutoramento, Universidade do Minho, Instituto de Ciências Sociais.
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