sábado, 30 de junho de 2012

OS SOLDADOS MELGACENSES NA BRIGADA DO MINHO (1ª GUERRA MUNDIAL)

Homenagem aos melgacenses caídos em combate em França e na Flandres (1917 e 1918)

Para que nunca esqueçamos, deixo uma referência aos mortos em combate, oriundos do concelho de Melgaço, durante a 1ª Guerra Mundial. Uma boa parte deles pertencia à chamada Brigada do Minho (4ª Brigada de Infantaria do C.E.P. - Corpo Expedicionário Português). Esta Brigada teve um papel muito ativo na batalha de La Lys (9 de Abril de 1918) onde foi dizimada pela ofensiva alemã apesar de ter aguentado durante 24 horas. Para o leitor ter uma ideia do heroísmo desta Brigada do Minho, deixo aqui uma nota para o desequilíbrio quanto ao número de soldados entre portugueses e alemães neste setor. No dia anterior, os alemães alteram o seu dispositivo militar. Colocam quatro divisões com quase 50 mil homens, reforçadas nesse dia com mais 30 mil soldados. Os portugueses são só 20 mil.

A 4ª Brigada de Infantaria (Brigada do Minho) que desde 7 de Fevereiro do ano de 1918 guarnecia e tinha a seu cargo a responsabilidade do sector de "Fauquissart" (França), tendo a cooperar com ela tacticamente o 6º Grupo de Metralhadoras Pesadas e as 4ªs baterias de morteiros médios e morteiros pesados, tinha as suas forças distribuídas no referido sector no dia 8 de Abril da seguinte forma:

- Batalhão Infantaria 20: com sede do comando em Temple-Bar, ocupava o S.S.1. (Fauquissart I) com 3 companhias na 1ª linha e uma em apoio;
- Batalhão Infantaria 8: com a sede do comando em Hyde-Park, ocupava o S.S.2. (Fauquissart II) com 3 companhias em 1ª linha e uma em apoio;

- Batalhão Infantaria 29: com sede do comando em Red-House, constituia o apoio dos batalhões em primeira linha, tendo as suas companhias distribuídas pelos postos de apoio da 2ª linha;

- Batalhão Infantaria 3: com sede do comando em "Laventie" constituia a Reserva tendo todas as companhias acantonadas nesta posição;

- Morteiros médios e pesados, 4ª B.M.L., grupo de metralhadoras pesadas, achavam-se distribuídos pelas respectivas dos dois sub-sectores.

A 4ª Brigada de Infantaria ligava-se no seu flanco direito com a 6ª Brigada de Infantaria e no flanco esquerdo com uma Brigada Escocesa (119ª Brigada da 40ª Divisão Britânica) que havia dias ocupava o sector de "Fleurbaix", vinda da ofensiva do "Somme" de 21 de Março. O efectivo da brigada do Minho achava-se extremamente reduzido, pois em principio de Abril faltavam-lhe em pessoal e animal, para o seu completo, aproximadamente 51 oficiais, 1300 praças e 85 solípedes, o que era devido não só ás baixas que dia a dia a brigada vinha sofrendo nas operações com o inimigo nas ainda ao rigor do clima a que os Portugueses não estavam habituados e ao violentos e árduos trabalhos que sem descanso eram exigidos ás tropas da Brigada, desde que seguiu da zona da retaguarda para a frente em 21 de Julho de 1917, primeiro para instrução em 1ª linha por enquadramento sucessivo de companhias, e depois de batalhões sem e com responsabilidade, nos sectores ocupados por tropas inglesas desde "Fleurbaix" a "Armentiére" e em "Beuvry" depois nas reparações do sector "Neuv-Chapelle", ocupado pela 2ª Brigada, durante o período intensivo de instrução no mês de Agosto e parte de Setembro de 1917.»

Desde 7 de Fevereiro a Brigada do Minho ocupa o sector de "Fauquissart", onde rendeu a 6ª Brigada de Infantaria, ficando neste até ao dia 9 de Abril em que se deu a ofensiva alemã contra a frente Portuguesa.

Durante todo este período de tempo, comportaram-se as tropas da Brigada sempre de molde a merecer o elogio e louvor das instâncias superiores, quer Portuguesas quer Inglesas, repelindo com energia todos os "raids" e ataques inimigos e tendo evidenciado sempre uma alto espírito ofensivo. No entanto as poucas horas de descanso, o tardar da rendição e os fortes e constantes ataques do inimigo levou a um evidente cansaço e fadiga física das tropas.
9 de Abril

«Foi sem dúvida na esquerda da linha, no sector de Fouquissart, guarnecido pela Brigada do Minho, que mais incarniçada foi a luta. Ao mesmo tempo que, na batalha, morreram 22 officiaes das tropas d'este sector, sendo 15 de Infantaria, 4 de metralhadoras, 2 de morteiros e 1 d'artilharia (...)»  (1)

«Tendo um efectivo reduzidíssimo e ocupando uma área de entrincheiramentos excessivamente grande, sem abrigos suficientes para pessoal, quer pelo seu restrito número, quer pela sua resistência, sob a acção do mais terrível e mortífero fogo de metralha, vomitado por centenas e centenas de canhões e morteiros, a Brigada sacrificou-se no seu pôsto de honra, segundo as ordens recebidas.» (2)

«No lado esquerdo da 1ª linha portuguesa, guarnecido pela "Brigada do Minho", a luta foi mais violenta e, por isso, com maior numero de baixas: os alemães atacaram o lado esquerdo da "Brigada do Minho", zona fronteiriça com uma Brigada Inglesa, aproveitando as dificuldades de ligação e de comunicação aliada, inerentes a uma zona de junção de Brigadas de nacionalidades diferentes.

Os actos heróicos de resistência foram múltiplos na Brigada portuguesa que assistiu á morte e ao aprisionamento dos seus camaradas, num ritmo altamente destruidor e desmoralizador. Graças aos Minhotos, os alemães não cumpriram o seu objectivo: romper a linha aliada, através dos portugueses para atravessar o rio Lys.

Segundo António Rosas Leitão, a Infantaria 20 (originária de Guimarães), a Infantaria 8 (originária de Braga) e a Infantaria 3 (originária de Viana do Castelo) sofreram 60% das baixas, entre mortos, feridos e prisioneiros, dos seus efectivos, justificando a atribuição, após o final da I Guerra Mundial, de medalhas de valor militar e cruzes de guerra quer às unidades da "Brigada do Minho" quer individualmente.»


IV Brigada, o Minho em nós confia
Seu nome honrado entrega em nossas mãos
E seu nome, que soou, de sempre, a valentia
Aos quatro batalhões, - unidos como irmãos
Tudo a mesma Família - há-de servir de guia
............................................................................
Canção da «Brigada do Minho»
França - Julho de 1917.





"Brigada do Minho", Ambleteuse, 1918
                                                                Bandeira da "Brigada do Minho"

 
MELGACENSES CAÍDOS EM COMBATE NA 1ª GUERRA MUNDIAL EM FRANÇA
  • António Alberto Dias, soldado da 4.ª Companhia do Regimento de Infantaria n.º 3; nascido a 17 de Janeiro de 1892 na Verdelha, lugar da freguesia de São Salvador de Paderne, filho de José Bernardino Dias e de Maria do Carmo Alves; casado e morador na freguesia de São Paio de Melgaço; embarcou para França integrado no Corpo Expedicionário Português a 22 de Abril de 1917, onde pertenceu à 4.ª Brigada de Infantaria (Brigada do Minho); falecido em combate a 9 de Outubro de 1917.
  • Raul Gomes, soldado da 2.ª Companhia do Regimento de Infantaria n.º 3; nascido a 27 de Agosto de 1894 no Queirão, lugar da freguesia de São Salvador de Paderne, filho de Manuel Joaquim Gomes e de Luciana Rosa Rodrigues; solteiro e morador em Paderne; embarcou para França integrado no Corpo Expedicionário Português a 15 de Abril de 1917, onde pertenceu à Brigada do Minho; falecido em combate a 9 de Outubro de 1917.
                                 
  • José Maria da Cunha, soldado da 1.ª Companhia do Regimento de Infantaria n.º 3; nascido a 11 de Março de 1893 na Portela, lugar da freguesia de Santa Maria Madalena de Chaviães, filho de Aníbal dos Anjos da Cunha e de Felisbela Cândida Alves; casado e morador em Melgaço; embarcou para França integrado no Corpo Expedicionário Português a 15 de Abril de 1917, onde pertenceu à Brigada do Minho; falecido em combate a 22 de Novembro de 1917.
  • Tito Arsénio Alves Gonçalves, segundo-sargento do 2.º Esquadrão do Regimento de Cavalaria n.º 11; nascido a 5 de Junho de 1895 na Bouça Nova, lugar da freguesia de São Lourenço do Prado, filho de Manuel Luís Gonçalves e de Albina Rosa Alves; solteiro e morador no Prado; embarcou para França integrado no Corpo Expedicionário Português a 22 de Fevereiro de 1917; falecido em combate a 5 de Dezembro de 1917.
  • António José Lourenço, soldado da 2.ª Companhia do Regimento de Infantaria n.º 3; nascido a 27 de Abril de 1892 no Louridal, lugar da freguesia de Santa Maria Madalena de Chaviães, filho de Augusto Cândido Lourenço e de Ana Marinho; solteiro e morador em Chaviães; embarcou para França integrado no Corpo Expedicionário Português a 15 de Abril de 1917, onde pertenceu à Brigada do Minho; falecido em combate a 12 de Março de 1918.
  • João José Pires, soldado da 2.ª Companhia do Regimento de Infantaria n.º 3; nascido a 28 de Abril de 1893 no Outeiro, lugar da freguesia de Santa Maria de Paços, filho de José Joaquim Pires e de Alexandrina Pires; solteiro e morador em Paços; embarcou para França integrado no Corpo Expedicionário Português a 15 de Abril de 1917, onde pertenceu à Brigada do Minho; falecido em combate a 9 de Abril de 1918.
  • José Narciso Pinto, soldado da 4.ª Companhia do Regimento de Infantaria n.º 3; nascido a 3 de Março de 1893 na Igreja, lugar da freguesia de Santa Maria Madalena de Chaviães, filho de Manuel António Pinto e de Cândida Maria Alves; casado e morador em Chaviães; embarcou para França integrado no Corpo Expedicionário Português a 22 de Abril de 1917, onde pertenceu à Brigada do Minho; falecido em combate a 9 de Abril de 1918.
  • António José Cardoso Ferreira Pinto da Cunha, segundo-sargento do Regimento de Obuses de Campanha; nascido a 28 de Julho de 1892 na Rua Direita, vila e freguesia Santa Maria da Porta de Melgaço, filho de António José Ferreira Pinto da Cunha e de Carlota Amália Cardoso; solteiro e morador na vila de Arcos de Valdevez; embarcou para França integrado no Corpo Expedicionário Português a 20 de Agosto de 1917, onde pertenceu ao 6.º Grupo de Baterias de Metralhadoras; falecido em combate a 9 de Abril de 1918.
  • José Cerqueira Afonso, soldado da 4.ª Companhia do Regimento de Infantaria n.º 3; nascido a 14 de Março de 1892 nas Fontes, lugar da freguesia de São Salvador de Paderne, filho de Inácio José Afonso e de Maria Cerqueira; casado e morador em Paderne; embarcou para França integrado no Corpo Expedicionário Português a 22 de Abril de 1917, onde pertenceu à Brigada do Minho; falecido em combate a 9 de Abril de 1918.

  • Simplício de Lima, soldado do 1.º Esquadrão do Regimento de Cavalaria n.º 4; nascido a 18 de Junho de 1893 em Paranhão, lugar da freguesia de Santiago de Penso, filho de Maria Teresa de Lima; solteiro e morador no Penso; embarcou para França integrado no Corpo Expedicionário Português a 26 de Maio de 1917; falecido vítima de ferimentos em combate a 18 de Dezembro de 1918.
                    Unidade do Corpo Expedicionário Português em coluna de marcha.


Informações recolhidas de:

1. General Fernando Tamagnini, "Os meus três comandos", Isabel Pestana Marques, Memórias do General 1915-1919

2.Eugénio Carlos Mardel Ferreira, Tenente-Coronel, 2º Comandante da 4ª Brigada de Infantaria

Memórias do General 1915-1919, Marques, Isabel Pestana, SACRE Fundação Mariana Seixas


Das Trincheiras, com Saudade, Marques, Isabel Pestana, A Esfera dos Livros

A Brigada do Minho na Flandres, Mardel, Eugénio, o 9 de Abril.
Listagem de baixas recolhida em http://historia-dos-tempos.blogspot.pt/2009/05/brigada-do-minho.html

1 comentário:

  1. Centenaire de la guerre de 14/18 .
    Histoire encore trop peu connue
    Honneur aux soldats de la brigade du Minho
    Les " Morts pour la France " au champ d'honneur .de la grande guerre

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