O declinio, captura e assassinato do Tomás das Quingostas em 1839
A quadrilha de Tomás
Quingostas acabou por entrar numa fase de franco declínio, o cerco apertou-se
cada vez mais e vários dos seus companheiros foram presos ou fuzilados por
militares ávidos de vingança. Em
Maio de 1837, foi detido mais um dos seus parceiros, Francisco Xavier Sisneiros,
natural da cidade de Lisboa. Conhecido como o “Lisbonense”, era considerado um agente
do miguelismo no Alto Minho, tendo sido detido em Riba de Mouro, concelho de Valadares. Pouco depois, António
Joaquim Rodrigues, conhecido como “Lourenço Correio”, foi capturado pelas
forças do Major José de Figueiredo Frazão. Na mesma altura, foi detectada a presença de
Quingostas no concelho de Melgaço, acompanhado apenas por um desertor e três camponeses. As autoridades
planeavam a deportação da sua família, que residia no concelho de Melgaço, como
forma de o punir. Pelo menos era essa a vontade do major Frazão, que considerava
serem os membros da família os responsáveis pelo aviso da presença das tropas.
No entanto, o
governador civil não anuiu a tal pretensão, por considerar que extravasava as
suas competências.
Apesar de a quadrilha
ser, essencialmente, uma organização masculina, o certo é em algumas ocasiões
foram feitas referências à presença de elementos femininos, nomeadamente às duas
irmãs que o acompanhavam e a duas mulheres, designadas pelas autoridades de
“amigas” de Quingostas.
A tarefa do Major
Frazão estava a ser dificultada pela escassa cooperação das autoridades administrativas locais,
particularmente dos regedores. Várias explicações podem ser avançadas no sentido
de explicar esta atitude, nomeadamente a sua baixa instrução, o desconhecimento
das suas obrigações e o receio de represálias por parte dos salteadores ou dos
seus companheiros e familiares.
O certo é que esta
sua postura tinha permitido que deambulassem livremente pelas feiras e
festividades, cometessem delitos à luz do dia e circulassem pelas localidades,
sem que fossem importunados.
A complacência das
autoridades e das populações levou à presença de forças militares, desde
Fevereiro de 1837, nos concelhos de Monção, Melgaço e Valadares, instaladas em
casas de particulares, cujos proprietários não só os abrigavam, mas também os
sustentavam. A situação arrastou-se pelo menos até Julho do mesmo ano. Após a saída das
tropas, Quingostas reapareceu em Melgaço.
Entretanto,
Quingostas tinha conseguido um indulto junto das autoridades espanholas, com a
condição de não sair da província de Ourense. Mas acabou por desrespeitar o compromisso
assumido e entrou em Portugal, onde os seus crimes não tinham sido perdoados.
Em Agosto de 1837,
ficou sob custódia, à ordem do chefe político da província de Ourense, cabendo
a Portugal reclamar a sua extradição, tendo sido solicitada, para esse efeito,
a intervenção do Ministério dos Negócios Estrangeiros.
Contudo, os ventos
pareciam soprar a favor de Tomás das Quingostas. Em 14 de Julho de 1837,
iniciou-se a “revolta dos Marechais”, um pronunciamento militar
anti-setembrista, de inspiração cartista, encabeçada pelos duques da Terceira e
da Saldanha. Esta revolta iniciou-se em Ponte da Barca, com a sublevação dos
militares que estavam envolvidos na caça a Quingostas e seus companheiros,
tendo terminado oficialmente em Setembro de 1837, com a vitória das forças
governamentais.
Durante o período do
pronunciamento militar, as atenções deixaram de estar centradas em Quingostas,
e este, tirando partido da situação, conseguiu estabelecer contactos com o Visconde
das Antas, que lhe atribuiu um salvo-conduto, em Dezembro do mesmo ano.
Abandonada a
clandestinidade, alguns dos seus sequazes saíram da clandestinidade,
regressando às respectivas aldeias sem serem incomodados. Tomás Quingostas
tornou-se comandante da guarda volante do Alto Minho, tendo como missão
capturar soldados desertores que fugiam para a Galiza, bem como guerrilheiros
galegos, adeptos do carlismo, e evitar roubos e furtos, cooperando na
manutenção da ordem e da tranquilidade no Alto Minho. No seu novo cargo, ia cumprindo, a preceito,
as funções de que estava incumbido. Porém, em Agosto de 1838, assassinou o
presidente da câmara do Soajo, João Manuel Domingues, e em Novembro do mesmo
ano prendeu João Pires e o padre António José Alves, com a justificação de que
davam guarida a guerrilheiros espanhóis. Apesar de não se terem confirmado
essas suspeitas, a detenção foi efectuada com o pretexto de terem na sua posse pólvora
e sabão contrabandeados.
Algumas das
acções levadas pelo seu “exército”, bem como a sua ligação a guerrilhas
espanholas ditaram o seu fim. Acusado de assassinato, Tomás das Quingostas foi
morto em Janeiro de 1839 junto à ponte da Alote (S. Paio) pela escolta que o transportava para a prisão, que alegou
tentativa de fuga. Caía assim aquele que chegou a ser apelidado de “pequeno
general do Alto Minho”, que foi assassino, salteador, guerrilheiro, comandante
de tropas e herói popular.
As reacções à sua
morte não se fizeram esperar. Além do já referido rapto do proprietário João
Bento Pereira Dantas, uma quadrilha comandada pelo “Beira-Alta”, primo de
Quingostas, miguelista, guerrilheiro e salteador, invadiu, em 1839, a casa de
António José Afonso da Costa, na freguesia de Merufe, concelho de Monção,
arrastou-o para fora da sua habitação e assassinou-o.
Nenhum dos
salteadores que sucederam a Quingostas conseguiu granjear a sua popularidade e
o reconhecimento junto das populações, talvez porque se tratava de homens
considerados autenticamente marginais, que recorriam à violência, ao assalto e
ao furto apenas para satisfazerem os seus interesses pessoais, sem quaisquer
motivações de natureza política.
Conta-se que foi o Tomás das Quingostas foi abatido junto à ponte da Alote e enterrado junto à capela de Barata - S. Paio (na imagem).
Informações extraídas de:
in "ESTEVES, Alexandra Patrícia Lopes (2010) - Entre o crime e a cadeia: violência e marginalidade no Alto Minho (1732 - 1870). Tese de Doutoramento, Universidade do Minho, Instituto de Ciências Sociais.
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