sexta-feira, 5 de agosto de 2016

A lenda da Nossa Senhora da Natividade de Cubalhão (Melgaço)

Igreja Paroquial de Cubalhão (Melgaço)
Um livro publicado há 300 anos, conta-nos uma lenda que nos fala no misterioso aparecimento da imagem da Nossa Senhora da Natividade em Cubalhão, quando um menino pastor andava com o gado num pasto. Ora leia esta estória: “Uma légua distante para a parte do sul do Mosteiro de S. Salvador de Paderne, e quase duas léguas e meia da Praça de Melgaço, no termo de Valadares, e a algumas doze da cidade de Braga, se vê o Santuário e Casa de Nossa Senhora da Natividade de Cubalhão, nome do lugar, ou aldeia que deu também à Senhora o título. É esta Igreja Curata e Paróquia do mesmo lugar, cujos dízimos pertencem ao Convento de Paderne, que é dos Cónegos Regulares que guardam a regra de Santo Agostinho e é anexa ao seu Convento. Chama-se Paderne por memória da sua fundadora, a Condessa Dona Paterna.
 Neste Santuário de Cubalhão, que fica dentro do mesmo Couto de Paderne, se vê colocada no seu altar-mor, a milagrosa imagem de Nossa Senhora que é formada em pedra e de perfeitíssima escultura, mas para maior veneração a adornaram com vestidos. A sua estatura são quatro palmos. Antigamente, obrava muitos milagres e prodígios o omnipotente Senhor pela invocação por intercessão de sua Santíssima Mãe. Mas já hoje a devoção para com esta Senhora é muito fria, por se haverem suspendido de algum modo as suas maravilhas, de que seria, sem dúvida a causa, a ingratidão daqueles mesmos, por quem a Senhora as obrava.
Quanto à sua origem e princípios, são todos prodigiosos. É tradição constante, contínua e muito antiga naquela freguesia, que em tempos antigos, no lugar onde se vê edificada a sua igreja, eram campos e pastos dos gados de um lavrador do mesmo Couto de Paderne que, andando naqueles campos pastoreando o gado um seu filho pequeno, dissera este ao seu pai que lhe aparecera uma Senhora muito fermosa. Com esta notícia, foram ao mesmo lugar examinar o que o rapaz pastorinho referia e que nele acharam uma imagem de Nossa Senhora de pedra, com o Menino Deus encostado ao peito esquerdo e que a imagem da Senhora não tinha braços. E que no mesmo lugar se lhe edificara Casa. Bem poderá ser que a levaram daquele lugar para a igreja principal da paróquia e que a Senhora voltasse a repetir o primeiro lugar da sua manifestação e que teimando (digamos assim) em a levar, quebrando-se por desatento dos que procuravam a mudança, os braços. Com estes finais de que era vontade sua e venerada naquele lugar de Cubalhão, se lhe daria princípio à sua Casa. Alguns crêem que no tempo dos Godos, fugindo os Cristãos à fúria dos Mouros, para que estes não fizessem à Senhora alguma injúria ou irreverência, a esconderam ali em alguma lapa e que nesta diligência com o temor de poder cair a imagem das mãos dos que a traziam, por ser muito pesada, e então terá sucedido que a terão maltratado, quebrando-lhe os braços. Deste lugar onde estava oculta a tiraram os anjos e a terão posto em parte onde fosse vista, louvada e venerada por todos. Não faz dúvida que a manifestação seria prodigiosa e que logo a Senhora começaria a obrar muitas maravilhas e seriam naquele tempo muitos os prodígios e a sua Casa muito frequentada.
Pelos tempos adiante, indo visitar aquelas igrejas o Venerável Arcebispo de Braga Dom Frei Bartolomeu dos Mártires, visitando a Ermida da Senhora, a erigiu em paróquia, compadecido do trabalho que tinham aqueles moradores em ir ouvir missa ao Mosteiro de Paderne. Porque com a manifestação da Senhora se havia povoado muito aquele lugar e sítio de Cubalhão. Também nomeou o mesmo arcebispo a Senhora Padroeira do lugar, com o título de Nossa Senhora da Natividade e mandou que aos 8 de Setembro se lhe fizesse a sua festividade, e neste dia é muito grande o concurso (a afluência de pessoas) .
Mandaram os devotos da Senhora, concertar-lhe muito bem aquela falta e por-lhe uns braços de madeira. Logo, começaram a compor com roupas e vestidos que nunca se lhes ajustaram bem, visto ter o Menino Jesus encostado ao peito. É advogada das mulheres que padecem de falta de leite para  haverem de criar os seus caros filhinhos, as quais a vão visitar ou lhe mandam alguma oferta, que será alguma bilha de leite pedindo-lhe que se compadeça dos inocentes filhos. Com esta diligência, logo têm leite em abundância para os criar. Esta devoção se estendeu tanto, que de muitos lugares de Castela e Galiza, vinham a implorar a favor de Nossa Senhora da Natividade de Cubalhão, e com tanta fé o fazem ainda hoje, que conseguem logo o que pretendem.”


Extraído de: SANTA MARIA, Frei Agostinho de (1712) – Santuário Mariano e História das imagens milagrosas de Nossa Senhora. Tomo IV; Oficinas de António Pedrozo Galram; Lisboa.

2 comentários:

  1. Olá!
    Sou brasileiro e tenho "Melgaço" como sobrenome. Não é muito comum.Eis a minha hipótese para o surgimento do sobrenome: portugueses, nascidos em Melgaço, ao chegarem ao Brasil se identificavam como sendo "de Melgaço". O "De Melgaço", além de
    referência ao lugar de origem, passou a ser usado como sobrenome,
    passando de pai para filho.Gostaria de saber se há, na atualidade, famílias com sobrenome "Melgaço" em Portugal.

    Obrigado!

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  2. Olá, boa tarde desde Melgaço (Portugal). A sua hipótese deve estar certa. De facto, muitos portugueses que iam para o Brasil eram conhecidos pelo nome da terra de onde eram originários e era usual, quando os filhos eram batizados, incorporar a alcunha do pai no seu nome. Isso também eram comum em Portugal. Neste caso, uma boa parte dos emigrantes eram de facto conhecido pelo nome da sua terra de origem. Desta forma, existem no Brasil muitas pessoas em que o apelido (sobrenome) corresponde a nomes de terras portuguesas. Abraço. Valter Alves.

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