Em Melgaço,
em meados do século XX, a situação da agricultura manifestava-se sob a forma de
subsistência, sendo a pobreza e a escassez algo endémico. No jornal Notícias de
Melgaço, em Junho de 1959, refere-se que “Passa de longo, ó viandante que Melgaço não
é já aquela terra de outros tempos, onde a alegria esfusiava nos trabalhos de
campo; estourava a cada passo por esses caminhos das romarias e na vila choviam
fosquinhas para se assistir às festas populares do mês de Junho. Vai tão mudado
isto cá por cima, que nem sequer as crianças apareceram a pedir tostãosinho
para andarem por esses cantos o altar a Santo António (...). Ó leitor amigo!
Não nos dirás onde poderemos ir buscar a cura deste nosso mal?” (In Notícias de Melgaço, 14 de Junho 1959, ano 31, nº 1320).
No mesmo
Notícias de Melgaço, em Maio de 1963, diz-se ainda que “É grave a crise que a lavoura
está a atravessar e cada vez os seus males e as suas dificuldades se estão
tornando mais evidentes e a aumentar de volume em cada dia que passa. É o solo,
a quem faltam os fertilizantes e os correctivos que se vai negando a dar ao
lavrador as décimas do suor e das despesas que lhe acarreta. É o vinho,
armazenado nas adegas, sem procura e sem protecção que aguarda a hora fatídica
da volta (...). É a fuga do trabalhador que, em legião e procurando melhores
ares, vai enriquecer a terra alheia, contribuído com a sua ausência e a falta
dos seus braços para maior empobrecimento da nossa agricultura. É a falta de
rega (...).Tem o governo procurado, por diversos meios, melhorar a sorte da
pobre lavoura (...).
Neste
concelho, graças à indignação que há anos o grémio da lavoura deu das
necessidades e pretensões das freguesias, já alguma coisa se fez nesse sentido,
e maiores e mais vastas teriam sido essas obras e esses benefícios se os povos
não se activassem sem apenas a providência do estado.” (In Notícias
de Melgaço, 26 de Maio de 1963, ano XXXV, nº 1472)
Ao longo da
década de sessenta, surgem neste jornal várias notícias, em forma de apelo no
sentido da construção de uma cooperativa agrícola, no âmbito do segundo plano
de fomento português. Em muitos artigos, é referido o exemplo do vizinho
concelho de Monção, como que espicaçando os melgacenses. Contudo, em Melgaço,
quedaram-se pela construção de um grémio da lavoura: “O grémio da lavoura, pela voz do
seu ilustre presidente, um nosso colaborador e amigo, professor (...), chamou à atenção dos agricultores melgacenses para as vantagens que resultariam da
constituição de uma sociedade destinada ao estabelecimento da adega cooperativa
no nosso concelho. Ninguém deu ouvidos à autorizada e insistente defesa desse
importante empreendimento...” (in Notícias de Melgaço, 3 de Novembro de
1963, ano XXXV, nº 1490).
Texto extraído de:
CASTRO, Joaquim de & MARQUES, Abel (2003). Emigração e contrabando. Melgaço: Centro Desportivo e Cultural de São Paio.
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