Miguel Torga, um dos maiores vultos da literatura portuguesa do século XX, conta-nos num dos seus livros, como subiu ao alto do castelo de Melgaço mas as vistas da torre deixaram-no desanimado. Desabafa com estas palavras: "Em Melgaço, do alto do castelo, tentei abranger num
relance a pátria toda. Mas o horizonte visual não me ajudou. Verifiquei apenas
que a burguesia comilona curava ali perto a diabetes e que o rio Minho,
laboriosamente, continuava a defender a fronteira desguarnecida. Como a espada
de Tristão, também aquele fio de água cristalina se esforçava por tornar
impossível o coito das duas margens.
Teria chegado ao fim do inventário verde? Talvez não.
Embora lido, o livro fora certamente mal interpretado. Mas quem poderia
vislumbrar uma grandeza humana e telúrica soterrada por tanta parra sulfatada?
Um solo que não se mostra, de tão revestido, e uma gente atacada da doença de
S. Vito, perturbam qualquer observador. (…) Desanimado, meti para Castro Laboreiro à procura dum
Minho com menos milho, menos couves, menos erva, menos videiras de enforcado e
mais meu.
Um Minho que o não fosse, afinal."
Veja o que Miguel Torga escreve sobre Castro Laboreiro clicando em "Miguel Torga por terras de Castro Laboreiro"
Extraído de: TORGA, Miguel (2012) - Portugal. Edições D. Quixote, 3º Edição.
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