A Peneda e o santuário na época
Pareceu
um milagre da Nossa Senhora da Peneda. No dia 2 de Fevereiro de 1956, um enorme
bloco de granito abateu-se sobre a povoação da Peneda. Miraculosamente, apenas
causou alguns feridos e outros desalojados.
Na
edição do dia seguinte (3 de Fevereiro), o Diário Popular faz o rescaldo do
desastre ocorrido e refere “Em toda a região de Melgaço e no concelho de Arcos
de Valdevez causou profunda emoção, o desastre de ontem de manhã, no lugar da
Peneda, junto ao santuário do mesmo nome.
Como
o Diário Popular foi o primeiro diário a noticiar, uma grande massa de granito,
cujo peso é calculado em mais de 150 toneladas, devido à acumulação de neve e à
infiltração das águas, tombou do alto da serra, de uma altura superior a 200
metros e principiou a rolar pela encosta, vertiginosamente, destruindo, quase
por completo três casas particulares e o refúgio para peregrinos pertencente à
Confraria de Nossa Senhora da Peneda.
O
bloco imenso era muito admirada em toda a região pela forma estranha em que
assentava, deafiando todas as leis do equilíbrio. A sua configuração assemelhava-se
a uma cabeça de velha e por este nome era conhecido por toda a população das
redondezas.
Por
feliz acaso, não houve consequências trágicas a lamentar, as quais, se
receavam. Por este facto, de Melgaço, seguiu para o local o Sr. Dr. António
Cândido Esteves, tendo o Sr. José Igreja posto à disposição dos serviços de
socorros o seu automóvel.
O
pedregulho derrubou também na sua marcha várias árvores, assim como o muro do
cemitério, o qual por seu turno, tombou desfeito sobre os jazigos. Justamente, alarmada,
a população da Peneda saiu para o campo, ouvindo-se gritar as mulheres e as
crianças. Umas pediam socorro, outras, ajoelhadas na terra fria, imploravam a
clemência de Deus. Depois destas destruições – um dos prédios reconstruído foi
atravessado de lado – o grande bloco de granito abrandou de velocidade até se
imobilizar. Deixara, porém, atrás de si, um sulco profundo no terreno e no seu
caminho arrastara também várias pedras de grandes dimensões.
Felizmente,
todos os feridos experimentaram hoje sensíveis melhoras. No Hospital de
Melgaço, tiveram já alta, seguindo já para suas casas, Constança de Sousa,
casada de 45 anos, e Maria de Jesus Martins, solteira de 27 anos. Apenas
continua internada mas livre de perigo, Claudina Rosa Martins.
Esta
tarde, seguiram de Arcos de Valdevez para o local do sinistro, os membros da
Confraria de Nossa Senhora da Peneda, o Senhor Padre Manuel Alves, os Engenheiros
Rebelo Oliveira, Júlio Vilaverde, Anselmo da Cunha e Ramiro Amaral, e o
representa do Sr. Arcebispo Primaz de Braga Gilberto de Brito Dantas. Como os
terrenos onde se deu o desatre pertencem àquela confraria, deverá ela decidir,
em princípio, as previdências a tomar para evitar novos desprendimentos de
rocha, os quais, no entanto, não parecem eminentes.
O
cemitério do lugar, acanhado e mal situado, estava já para ser transferido para
outro local apropriado. A confraria resolveu agora definitivamente colocá-lo
noutro terreno. Para o efeito, os dirigentes daquele organismo religioso
avistar-se-ão com a Junta de Freguesia, a qual por seu turno, pedirá o
necessário apoio económico ao Presidente da Câmara Municipal de Arcos de
Valdevez, Sr. Alberto Barreiros Aranha.
A
Peneda voltou à calma, regressando toda a população aos seus trabalhos normais.”
(Diário Popular de 4 de Fevereiro de 1956)
Na
edição de 4 de Fevereiro, a edição do Diário Popular conta-nos que “A mesa da
Confraria de Nossa Senhora, proprietária dos domínios onde se deu o
desmoronamento da Peneda, visitou os locais mais atingidos e resolveu elaborar
um plano de estudos tendentes a facilitar a solução dos inconvenientes criados
pelo desastre.
O
seu primeiro cuidado será proceder à construção de novos alojamentos para os
habitantes da Peneda que viviam gratuitamente nas casas, agora destruídas ou
danificadas, caso que será resolvidos urgentemente para evitar que a pequena
população ali instalada abandone a terra e se fixe noutro local com melhores
meios de acesso e ligação com os centros importantes do norte do país, o que
seria um perigo para os importantes bens da confraria que ficariam sujeitos a
assaltos. Está também assente a construção de um novo cemitério.”
Leia tudo sobre este desastre clicando em Momentos de grande pânico na Peneda (Fevereiro de 1956)
Extraído de:
- Diário Popular, edição de 3 de Fevereiro de 1956, nº 4787;
- Diário Popular, edição de 4 de Fevereiro de 1956, nº 4788.
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