No dia 2 de Fevereiro de 1956, as gentes da Peneda viveram momento de grande pânico. Um grande penedo rolou vertente abaixo e arrasou casas e cemitério. Por milagre, não houve mortes. O Diário Popular na época conta o sucedido: “A população das imediações do lugar da Peneda, onde se
ergue o Santuário do mesmo nome viveu hoje horas de grande alarme, quando um
imenso bloco de granito, pesando algumas centenas de toneladas, se
deslocou e começou a rolar pelo terreno,
que ali é bastante inclinado, levando na frente arvoredo e casas, tudo destruindo e causando alguns feridos. A princípio, reinou mesmo o terror na
região, pois as primeiras notícias deixavam prever que numerosas pessoas jaziam
mortas, entre os escombros das casa que foram destruídas pelo imenso
pedregulho.
Felizmente, apesar da grave extensão material do desastre,
não se registaram mortos e as autoridades tomaram rápidas providências para
serenar os ânimos e para prestar imediato auxílio aos feridos, alguns dos quais
em estado de certa gravidade.
Junto ao Santuário de Nossa Senhora da Peneda, existiam
duas massas de granito que, pelo sua posição e feitio, despertavam sempre
grande interesse entre os milhares de peregrinos que anualmente, em Setembro, acorrem
à romaria que ali se efetua e entre os quais se contam sempre muitos espanhóis,
vindos a pé de longas distâncias.
Esta manhã, cerca das 10 horas, devido à neve que se acumulara
no local, um desses penedos, que pela configuração é denominado “Cabeça da
Velha”, quebrou-se e soltou-se da serra, começando a rolar com grande estrondo,
pela encosta.
A pouco e pouco, a enorme massa de granito ganhou ainda
mais velocidade, nada se podendo então opor à sua marcha. Árvores e outros
pedregulhos, tudo era arrasado, num verdadeiro alude, que ameaçava submergir.
Uma das primeiras vítimas – felizmente quase sem
consequências – da desenfreada correria do imenso pedregulho foi uma velhinha
de 73 anos que andava no campo, a apanhar lenha. Ao ouvir o estrondo enorme
produzido pelo granito a rolar no terreno e avistando o pedregulho que avançava
na sua direção, a pobrezinha julgou chegado o seu último momento. Num gesto
instintivo, não para defesa, mas para não contemplar a morte, a velhinha
levantou um braço, cobrindo os olhos.
Nesse instante, a massa de granito, rolando
impetuosamente, chego no local e passou sobre a velhinha. Felizmente, esta
encontrava-se numa acentuada depressão no terreno. Como o volume do pedregulho
era enorme, a massa granítica não penetrou no buraco. E a velhinha apenas foi
atingida de raspão, precisamente no braço que erguera para cobrir os olhos, o
qual ficou levemente ferido.
Mais adiante, a mole granítica derrubava árvores e,
encontrando na sua frente o frágil obstáculo dos muros do cemitério, destruía-os
e cruzava todo o espaço ocupado pelos jazidos, fazendo destroços, deixando
atrás um sulco profundo.
Não se interrompera ainda a marcha fatídica do penedo de
granito. Mais adiante, penetrava em quatro prédios, que derrubava parcialmente,
lançando o pavor na vizinhança e causando, então, ferimentos em muitas das pessoas que se
encontravam nas casas atingidas.
Para se fazer uma ideia da força com que o pedregulho rolava,
basta referir que uma das casas era bem sólido, pois a sua construção era
recente, estando ainda a terminar-se as pinturas ali efetuadas. O penedo
gigantesco atravessou a casa de lado a lado, furando as suas paredes como se
fossem de cartão e causando assim prejuízos superiores a uma centena de contos.
Esses prejuízos elevaram-se rapidamente, pois outros três
prédios foram igualmente atravessados pelo pedregulho. A marcha deste, no
entanto, fora já consideravelmente reduzida e o penedo de granito, daí a pouco,
em terreno mais plano, imobilizava-se. Para trás dela, em poucos segundos,
ficara um espetáculo de horror.
Como acima referimos, ficaram feridas várias pessoas, mas
muitas delas, por as suas contusões não serem de gravidade, receberam
tratamento na Peneda e foram abrigadas por pessoas amigas. Pelo seu estado
inspirar mais cuidados, foram internados no Hospital da Misericórdia desta vila
(Melgaço) os seguintes sinistrados: Constança de Sousa, de 45 anos, com várias
contusões pelo corpo; Claudina Rosa Martins, de 43 anos, casada, em estado
grave, devido ao esmagamento das costelas; Maria de Jesus Martins, de 27 anos,
solteira, com vários ferimentos. Estas feridas foram imediatamente assistidas pelo Sr. Dr. Esteves e pelo pessoal de enfermagem.
Na sua correria, a massa de granito causou também
prejuízos no abrigo dos romeiros, que pertence ao Santuário e que só não foi
destruído por ter sido atingido apenas numa esquina.”
Recortes de jornal da época (clique nas imagens para ampliar):
Extraído de:
- Diário Popular, edição de 2 de Fevereiro de 1956, nº 4786.
Recortes de jornal da época (clique nas imagens para ampliar):
Extraído de:
- Diário Popular, edição de 2 de Fevereiro de 1956, nº 4786.
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