O escritor Alfredo Campos, algures na segunda metade do século XIX testemunhou o modo de vida das gentes de Castro Laboreiro e observou como os castrejos passavam parte do ano numa casa e depois passavam a outra parte do ano numa outra habitação. Então conta-nos que uma das casas assenta nalgum lugar da região de Castro Laboreiro, e é nela
que o castrejo e sua família vivem os nove meses das estações da Primavera, Verão e Outono, lugares a que dão os nomes de brandas. A outra é situada para o lado dos Arcos de Vale de Vez, num
vale profundo, denominado as inverneiras, e é ali que ele passa a estação
rigorosa. Foge deste modo à aspereza do Inverno, procurando esse clima mais
temperado pela situação, dias mais amenos e temperatura mais regular. Deste sistema
de vida resulta que, sobretudo, nos meses de Novembro, Dezembro e Janeiro, o
forasteiro que percorrer os lugares de Castro Laboreiro, encontrará a maior
parte das habitações e propriedades fechadas e desertas, parecendo que aquela
região foi abandonada por efeito de uma força qualquer superior. A mudança para
as inverneiras opera-se, pouco mais ou menos, depois de meio de Novembro, e há
para isto um dia determinado ou combinado, porque nesse é que emigram quase
todos os que deixam a montanha pelo vale.
Conta-nos também que "Eu assisti em Castro Laboreiro, ponto
forçado para o termo das inverneiras, à passagem da extensa caravana. Parecia-me
aquilo um longo comboio de viveres e materiais, em tempo de guerra. Estava nevoento
o dia, e havia pronúncios de que, uma vez abertas as cataratas do céu, a chuva
seria abundante, copiosa e fria. Logo ao romper da madrugada começou a passar a
extensa fila de carros de bois, chiadores, vagarosos, monótonos,
balanceando-se, segundo as depressões do caminho, conduzindo ao mesmo tempo a
família, homens, mulheres, crianças, cães, gatos, galinhas, caixas de pau com
presunto, todos os acessórios enfim, indispensáveis para o estabelecimento nas
inverneiras, e muito semelhantemente ao que praticam muitas famílias do Minho,
quando partem para o mar, a uso de banhos. Era curioso e digno de ver-se aquele
espectáculo original, que durava desde manhã até ás duas ou três horas da
tarde. Não sei porquê, mas tudo aquilo me produzia uma certa tristeza, que eu
atribuo, sem duvida, à ideia de que, tendo de demorar-me, ia ficar só em Castro
Laboreiro - ou pelo menos quase só. Com efeito, nas minhas excursões
posteriores à partida para as inverneiras, tive ocasião de reconhecer, não só
quanto tinha de natural o meu sentimento, mas quanto era justificada aquela
emigração da montanha, a que poucos podiam resistir – por diferentes circunstâncias.
Os povoados tornam-se desertos, é certo, semelham-se a lugares por onde passou
o archanjodos flagelos, pondo tudo em fuga e deixando tudo envolto num céu de
extrema melancolia. Mas o rigor do Inverno que nada deixa fazer, a neve, que
chega em certas ocasiões a ter a altura de meio metro, a intercessão dos
caminhos, as dificuldades nas comunicações, e muitas outras circunstâncias de
igual peso e não menor grandeza, justificam muito bem a mudança daqueles
montanheses, que, pela maior parte, nem vinho provam! Há povoados e lugares de
vinte a vinte e cinco proprietários, em que, quando muito, só ficam três, como
vigiando e fiscalizando os seus haveres e os dos emigrantes também. Nestas ocasiões,
a gente percorre um, e outro, e outro ponto, sem encontrar uma única pessoa! Um
deserto, com toda a sua cor sombria o seu triste desolamento! Parece que a vida
humana, do mesmo modo que a vida da vegetação, pára, tornando o quadro
tristemente impressionador. E no entretanto a neve vai caindo em cada dia,
sobrepondo camada sobre camada, o frio redobra de intensidade, os dias tornam-se
diminutos, as noites mais que muito longas, e, em vez dos latidos dos cães que
guardavam o gado, dos pios dos passaritos, das vozes mais ou menos alegres da
natureza, apenas se ouve, de dia, o estampido das cachoeiras que descem da
montanha em ondulações tortuosas e irregulares, e de noite, os uivos dos lobos
famintos, que se aventuram até ás portas das cabanas, procurando assim a preza
apetecida!”
Como gosto tanto do meu País, envio os meus parabéns a quem teve a feliz ideia de publicar este testo. E as nossas gentes de uma zona que eu tanto gosto e ade miro.
ResponderEliminarGosto essa velha historia séc XIX e tambein o quadro tipico com estas capas ,assinado A.C.
ResponderEliminarPaul Feron