sexta-feira, 29 de maio de 2015

A Hospedaria Melgacense e os seus bifes de Presunto de Melgaço (finais do século XIX)



Em 1886, José Augusto Vieira via publicada a sua obra prima, "O Minho Pittoresco" que nos faz um retrato sobre esta região de Portugal nesta época de finais do século XIX. 
Num tempo em que Melgaço não era conhecido nem pelo seu vinho nem pelas suas águas termais, outra iguaria é destacada nesta época e que dava nome à nossa terra. Era o caso dos bifes de presunto de Melgaço. 
O autor do "Minho Pittoresco" parece ter provado esta iguaria numa hospedaria na vila de Melgaço chamada Hospedaria Melgacense e que nos conta essa experiência no livro: 
"Hotel, em Melgaço, escusas de o procurar, meu amigo. O proprietário da Hospedaria Melgacense, entendeu e entendeu bem, que não precisava abastardar a língua pátria com mais um galicismo inútil para baptizar a sua casa de hóspedes. Podes todavia entrar sem receio n'essa hospedaria honesta e limpa, porque, se te falta na tabuleta o sabor francês da palavra Hotel, não te faltará em compensação à mesa o sabor dos apetitosos bifes de presunto que ali te servem, como um prato especial da terra!
O presunto de Melgaço!
Que epopeia seria necessária para descrever-lhe o paladar fino e delicado, o aroma gratíssimo, a cor de rosa escarlate, a frescura viçosa da fibra!
Houvera-o provado Brillat-Savarin com aquela boa vontade de almoçar que eu e os meus companheiros de viagem levávamos depois d'uma alta madrugada com boas oito horas de trabalho e marcha, e a sua Physiologia do gosto teria hoje de certo o mais suculento e o mais brilhante de todos os seus capítulos!
Alimento sólido e forte, puxavante do verde, que na localidade não tem já o aveludado de Monção, o presunto de Melgaço, conhecido em todo o país, é por assim dizer a síntese da physiologia local. Válido, robusto, ágil, com o sangue puro bem oxigenado a estalar-lhe nas bochechas rosadas, o melgacense genuíno destaca-se dos habitantes dos outros concelhos próximos, a ponto de ser entre estes vulgar a frase de: — Ter cara de presunto de Melgaço — quando se fala de alguém com as boas cores da saúde.
Apesar, porém, de todas as tuas deliciosas qualidades, ó apetitoso quadril suíno, força é esquecer-te, como a todas as coisas boas ou más d'este mundo, a fim de nos bifurcarmos no selim duro dos magros rocinantes, que à porta da hospedaria nos esperam para nos conduzir a Castro Laboreiro."


Vila de Melgaço no livro "Minho Pittoresco" (1886)



Extrato de texto extraído de:
Extraído de: VIEIRA, José Augusto (1886) - O Minho Pittoresco, tomo I, edição da livraria de António Maria Pereira- Editor, Lisboa.

2 comentários:

  1. Excelente artigo. E, porque ando por estas bandas....vou mesmo provar os bifes de presunto de Melgaço com.....um Alvarinho......fresco.

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  2. Excelente artigo. E, porque ando por estas bandas....vou mesmo provar os bifes de presunto de Melgaço com.....um Alvarinho......fresco.

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