Ponte Internacional antiga de S. Gregório (1936) |
No deflagrar da Guerra Civil espanhola, em
Julho de 1936, a resistência à sublevação militar na Galiza foi levada a cabo
essencialmente pelos civis das várias correntes políticas apoiantes dos
republicanos. Em poucos dias, com o apoio dos civis falangistas, as tropas franquistas controlaram todo o território galego e iniciaram uma campanha
repressiva de que resultariam dois mil e quinhentos fuzilados ou
“passeados” nos seis meses seguintes. Alguns conseguiram fugir e
conseguiram esconder-se em aldeias raianas do Alto Minho e Trás-os-Montes.
Este clima de guerra originou uma série de
incidentes na fronteira melgacense. No dia 3 de Setembro de 1936, a partir da
margem galega foram disparados vários tiros contra uma pesqueira portuguesa em
Paços (Melgaço) que se encontrava em obras à epoca.
As autoridades do lado português
protestaram. O Posto de Marinha, do lado galego, notificou o Tenente Lopes,
Comandante da Secção de Melgaço, de que os autores dos disparos não eram
militares mas sim civis. Além disso, as autoridades galegas acrescentaram que
os tiros foram produzidos por grupos afetos à Falange que estavam a praticar
tiro, por isso não eram dirigidas intencionalmente às obras da pesqueira.
Não foi o único caso problemático que
aconteceu na area controlada pela Secção de Melgaço. No dia 10 de Dezembro de
1936, o Comando Provincial de Orense enviou um documento ao Tenente Lopes
fazendo referência a factos ocorridos no dia 5 desses mesmo mês no lugar de
Ribeiro de Baixo (Castro Laboreiro – Melgaço). Desconhesse-se o alcance real
dos acontecimentos mas não deve ter sido coisa pouca já que provocou a
intervenção direta da autoridade militar provincial de Orense. Contudo, estará
relacionado com incursões e atividades de elementos afetos à Falange em
território português. O Comando Territorial desta província refere-se a estes
factos nos seguintes termos:
“Os elementos da Falange Espanhola que
cometeram tal imprudência, fizeram-nos por conta própria e exclusiva, ignorando
os tratandos internacionais que o proíbem, acreditando que fizeram bem à
Causa que defende a Espanha honrada. Nunca foram autorizados nem o
fizeram com o conhecimento das autoridades espanholas, que sabemos em todo o
mundo respeitar as leis internacionais, e mais ainda tratando-se de Portugal,
nação irmã, que nos merece, aos bons espanhóis, respeito, afeto e carinho. Os
falangistas citados foram castigados preventivamente, por minha autoridade, e
desse assunto dei conta oportunamente ao Exmo. Sr. Governador Militar de
Orense, que imporá o castigo definitivo a quem sejam merecedores”.
No mesmo mês, um soldado de vigilância no
Posto Fiscal de Pousafoles, na mesma secção de Melgaço, informava de que
durante a madrugada do dia 23 do dito mês de Dezembro de 1936, os fascistas
espanhóis destruíram a ponte sobre o rio Trancoso nas proximidades de
Pouzafoles. Esta ponte servia de trânsito para gado e alfaias
agrícolas do povo da localidade melgacense com terrenos na ribeira do lado
galego. Evidentemente, a ponte podia servia para facilitar a fuga dos elementos
republicanos escondidos em terras galegas.
Como se tratava de uma ponte internacional, a
destruição desta ponte foi concretizada evocando o perigo de fuga dos
opositores ao General Franco para Portugal. Também por este motivo, esta tarefa
foi levada a cabo por elementos civis comprometidos plenamente com a causa
franquista ou seja por elementos da Falange, evitando assim o incidente
diplomático. Nas mesmas circunstâncias, a antiga Ponte Internacional de S. Gregório foi, por esta altura, também destruída a partir do lado espanhol.
As movimentações dos falangistas em
território português são feitas com um grande à vontade, já que as autoridades
militares portuguesas e a polícia política (PVDE) prestaram estreita
colaboração aos elementos da Falange chegando a irritar as autoridades locais
portuguesas.
Em 1937, o comandante do posto da Guarda
Fiscal da Ameijoeira (Castro Laboreiro) comunicava ao comandante da
secção de Melgaço que «vieram
a este posto três indivíduos da classe civil os quais diziam pertencer à
Falange Espanhola para que os acompanhasse ao Ribeiro”. O objetivo desta
deslocação a território português era a procura de galegos opositores ao regime
franquista escondidos em terras castrejas.
Aqui, em terras de Castro Laboreiro, a
colaboração entre as autoridades militares portuguesas e membros da falange foi muito estreita. Desde o começo da guerra, houve um importante contingente de galegos
opositores ao regime franquista que, depois de passarem a fronteira, tentaram
esconder-se em terras castrejas. Contudo, a permanência de um grupo paramilitar
estrangeiro em território português, numa situação de conflito bélico, não era,
obviamente, uma situação agradável para as autoridades do Estado Novo. Depois
de uma série de incursões de falangistas em Melgaço e noutras localidade
raiainas, o Governador Civil de Viana do Castelo, Tomás Fragoso, recordava ao
Ministro do Interior português a necessidade de reforçar os postos da Guarda
Nacional Republicana para acabar com estas incursões e manter a integridade do
território. Contudo os problemas das incursões falangistas em terras de Melgaço
continuou praticamente até ao fim da guerra civil espanhola. As batidas na
procura dos opositores ao regime franquista continuaram a ser efetuadas com
falangistas e com a colaboração de militares portugueses, particularmente a PVDE.
Num documento de comunicação interno
classificado, um membro da PVDE descreve o modo como se processam as detenções
de galegos escondidos em Castro Laboreiro: “Geralmente,
na montanha, estes indivíduos respondem com a fuga, ou com tiros, à intimação
de “Alto”. E então a perseguição faz-se a tiro...
Quando presos, estes indivíduos nunca se dizem
foragidos, “vermelhos” (comunistas) ou políticos. Alegam sempre terem entrado
clandestinamente em Portugal em busca de trabalho. Organizados os respetivos
processos, verifica-se a indigência, indocumentação e impossibilidade de se
documentarem – pois os consulados espanhóis não os documentam – e é proposta a
sua expulsão. E a expulsão não se pode fazer pela fronteira marítima porque os
consulados, geralmente, não os documentam e as empresas de navegação não
fornecem passagens a indocumentados”.
O cerco aos galegos escondidos em Castro
Laboreiro foi tão intenso que a maioria dos refugiados tentavam fugir para o
exílio esperançados em conseguir documentos. A este respeito, o Diretor da PVDE
enviou, em 7 de Outubro de 1937, uma carta ao Chefe de Gabinete do
Ministro do Interior, indicando-lhe que a partir da censura da correpondência
de alguns portugueses, observa-se que alguns clandestinos localizados nas
montanhas de Castro Laboreiro, tinham conseguido certidões de nascimento de
nacionalidade argentina, para desse modo poderem documenta-se em Portugal. O
diretor da polícia política emite então recomendações: “Nestas circunstâncias, rogo a V.
Excelência que se digne obter do Sr. Ministro autorização para (...) que se
prendam todos os estrangeiros que se apresentem com passaportes recentes
tirados em Portugal sem qualquer visto desta polícia, ou sem documentação que
prove a entrada legal no país, ou então sem a autorização de residência
autorizada. Qualquer prisão deve ser imediatamente comunicada a esta polícia,
explicando-se os motivos da captura”.
Assim, o que se pensava num primeiro momento
como uma das saídas mais fáceis para aqueles que não partilhavam a causa
franquista, converteu-se num caminho sem saída. Na realidade, como já aqui foi
abordado, os galegos que conseguiram passar a fronteira através do Minho ou
através da serra na zona de Castro Laboreiro, encontraram em Portugal um
ambiente solidário nas aldeias castrejas, ainda que as autoridades fossem, como
se sabe, bastante hostis.
Informações extraídas de :
- LOPEZ, Xejus Balboa & OROZA, Herminia
Pernas (2001) - Entre Nós - Estudios de Arte, Xeografia e Historia en homenaxe
ó Professor Xosé Manuel Pose Antelo. Faculdade de Xeografia e Historia;
Universidade de Santiago de Compostela; Santiago de Compostela;
- OLIVEIRA, César (1987) - Salazar e a
Guerra Civil de Espanha, Lisboa, O Jornal, 2ª edição.
."uma campanha represiva de que resultariam DOIS MIL et QUINHENTES fuzilados ou passeados,nos seis meses seguintes julho de 1936....finais de 1936."
ResponderEliminarTen unha morea de semellanzas con XENOCIDIO Armenio dentro da represiôn dun mesmo pobo. / centennial estos dias do Xenocidio Armenio .reconocido hoxe por muitas nacoes europeas.
Paul .
continuamos lutando por esclarecer os factos...a História e Memória. Abraço
ResponderEliminar