Ruínas das muralhas do antigo castelo de Castro Laboreiro |
Na obra “Chorographia Moderna do Reino de
Portugal” da autoria de João Maria
Baptista, editado em 1876, o concelho de Melgaço é descrito com algum pormenor.
Na obra é dado bastante destaque à freguesia
de Castro Laboreiro ainda que o texto contenha alguns erros. Contudo, ficamos
com alguns elementos importantes que nos permitem perceber como era esta
freguesia nesta época.
Castro Laboreiro é caraterizado nestas
palavras: “Antiga vila de Castro Laboreiro, na antiga comarca de Barcellos. Pelo
decreto de 24 de Outubro de 1855 foi extinto o concelho de Castro Laboreiro, ficando
a vila e única freguesia do mesmo concelho encorporada no concelho de Melgaço.
Está situada nas abas da serra da Peneda, 3 quilómetros
distante da fronteira da Galliza, e próxima do rio Laboreiro. Dista de Melgaço 4
léguas para sudeste.
A vila de Castro Laboreiro tem 60 fogos. Além
da vila, esta freguesia comprende os lugares de Portellinha, Vido, Varzea-Travessa,
Covelo, Pintem, Laceiras, Ramisqueira, João Alvo, Barreiro, Ponte do Barreiro, Podre,
Amoreira, Lagoa, Dorna, Entalada, Mareco, Pontes, Ameixoeira, Bago de Baixo, Bago
de Cima, Curveira, Cainheiras, Barziella, Ribeiro, Teso, Porto dos Cavalleiros.
É terra montuosa e frigidissima. Produz centeio
e milho miúdo, tem muitos gados, e especialmente ovelhas gallegas, que dão o melhor
burel de Portugal. Também tem muita caça grossa e miúda, e pesca de algumas trutas
na ribeira do Laboreiro, afluente do Lima.
As árvores são poucas e ainda menos as hortaliças,
à excepção de nabos. As águas são frias e delgadas. Na falda da serra
e a nordeste da vila nasce o rio Laboreiro, e perto há uma ponte mourisca, chamada
ponte Pedrinha. Indo do Porto dos Cavalleiros para a vila, encontra-se outra pequena
ribeira afluente do Laboreiro, que é aquella pela qual foi seguindo a margem a pé, o arcebispo D.
Frei Bartholomeu dos Martyres, para visitar aquella isolada freguesia
como se lê na sua vida, escripta por Fr. Luiz de Sousa.
É tal a frialdade d'esta terra, diz o Carvalho
(o autor refere-se ao padre Carvalho da Costa, autor da obra "Corografia
portugueza, e descripçam topografica do famoso reyno de Portugal" de 1706),
que é necessário aquecer o vinho para as missas, em todo o inverno, porque se congela a ponto de não correr.”
(Nota: Este pormenor do congelamento do
vinho é replicado de uma outra corografia publicada no século XVIII. Será um
exagero, concerteza. Sabemos que em Castro Laboreiro os invernos são frios mas
dará para o vinho congelar? Não dá para acreditar.)
“Dizem fundou o seu Castello, D. Sancho Nunes
de Barbosa (outros querem seja obra dos romanos ou dos árabes) cunhado de el-rei
D. Affonso Henriques, que depois o conquistou com duro cerco, e o rodeou de
muralhas, porque se havia arruinado com um raio. D. Diniz o reedificou e tornou
bem defensível. Porém é quasi incapaz de habitar-se pela aspereza do sitio.”
(Nota: Este episódio do raio que destruiu o
castelo de Castro Laboreiro é citado em várias corografias dos séculos XVIII e
XIX e é situado em tempos medievais. Contudo, a destruição do castelo pelo raio
aconteceu de facto no século XVII. Pode ler mais em “No dia em que o Castelo de Castro Laboreiro "foi pelos ares".)
“Os nossos anteriores monarchas concederam grandes
privilégios a esta vila, pelos seus serviços prestados nas
guerras. No Dicionário Corográfico, diz-se que os homens e mulheres d'esta vila
vestem de briche e saragoça (burel) e trajam de um modo esquisito.
Saem de inverno para Traz-os-Montes mais de 200
homens a fazer paredes e outros trabalhos."
Informações recolhidas em:
- BAPTISTA, João Maria (1875) - Chorographia Moderna do Reino de Portugal. Volume II, Typographia da Academis Real da Sciencias, Lisboa.
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