William Granville Eliot
era um capitão do Royal Regiment of Artillery, que exercia funções de
engenheiro militar. Esteve em Portugal entre 1808 e 1809, sob as ordens do
General Arthur Wellesley, responsável máximo pela organização da defesa
portuguesa contra as tropas napoleónicas. O capitão William Eliot era um homem
preocupado com a definição de uma estratégia para a defesa de Portugal contra
os invasores franceses pois acreditava-se que haveria um terceira invasão como
veio a concretizar-se.
Durante a sua estadia no
nosso país, fez um trabalho de reconhecimento das áreas fronteiriças
portuguesas e após a segunda invasão francesa em 1809, publica o livro “A
treatise on the defence of Portugal, with a military map of the country”,
editado em 1810. Este tratado de estratégia militar contem uma verdadeira
estratégia de como, no entender dele, se deviam posicionar as tropas e a
artilharia para defender as nossas fronteiras.
A propósito da nossa
região, refere-se à existência de fortificações completamente obsoletas,
construídas noutro tempo para um outro tipo de guerra. Contudo, o rio Minho
representava um obstáculo natural que muito poderia dificultar qualquer
tentativa de incursão, tendo em conta a inexistência de pontes entre as duas
margens. A este propósito, o capitão Eliot refere-se ao curso do Minho à sua
passagem por Melgaço, nestas palavras: “O rio Minho, entra em Portugal cerca de
uma légua e meia acima de Melgaço e não dá para ser atravessado em qualquer parte
do seu curso, exceto num local ligeiramente a montante deste lugar, e apenas
nos anos em que o inverno e o verão são excepcionalmente secos. A corrente do
Minho não é particularmente rápida. Não há pontes sobre o rio, e apenas algumas
passagens de barco.”
Uma outra questão que
poderia dificultar os movimentos de
tropas e artilharia no nosso concelho, era, segundo o entender do capitão, o
estado das vias de comunicação. Então diz que “a estrada de Melgaço para Monção,
com três léguas, encontra-se em mau estado, mas pode ser transitada por peças
de artilharia ligeira. Há dois riachos no percurso desta estrada cujas margens
são íngremes e rochosas, com pontes de pedra sobre os mesmos. Estas podem ser
facilmente destruídas, o que iria aumentar a dificuldade de avançar por esta
via. Caso contrário, não restaria outra alternativa senão evitar este setor e
entrar em Portugal em Caminha, progredindo pela costa para o Porto. No caso dos
rios Lima, Cávado e Ave, estes podem ser
atravessados.” Isto devido ao facto de, ao contrário do rio Minho, possuírem
pontes.
O general William Eliot
deixa considerações acerca da força necessária para defender a fronteira do
Minho e em particular este setor da linha fronteiriça próxima de Melgaço: “Já
observei que as fortalezas no Minho não estão em bom estado para se defenderem
e que, a fim de remediar esta situação, seria mais vantajoso estacionar tropas
com artilharia ligeira com uma certa proporcionalidade, em vez de gastar uma avultada
soma de dinheiro na reparação das suas muralhas quase inúteis e obsoletas. Torna-se
necessário fazer algumas considerações acerca do número de homens que seriam
suficientes para defender esta fronteira nos seus pontos mais sensíveis de um
ataque externo.”
Em função disto, o
capitão define o posicionamento de tropas e artilharia para a linha de
fronteira ao longo do rio Minho e aconselha: “Em Caminha, 300 homens com dois
canhões “six-pounders”, pode ser suficiente. Em Vila Nova de Cerveira, 300
homens e dois canhões “six-pounders”. Em Valença do Minho, 1000 homens, com
seis canhões, “nine pounders” ou “twelve pounders”; em Monção, a mesma
situação, substituindo os canhões “six pounders” por armas mais pesadas. Em
Melgaço, 300 homens de infantaria ligeira, e dois canhões “three pounders”. Em
Alcobaça, uma pequena aldeia nas montanhas acima de Melgaço, 200 soldados de
infantaria ligeira com dois canhões "three-pounders". “ Esta
consideração revela alguma preocupação com este troço da raia seca.
Entre cada um desses
lugares, seria necessário um pequeno destacamento de cavalaria para manter
ativas as comunicações, e observar os movimentos do inimigo ao longo de todo o
curso do Minho. No seu conjunto, entre soldados de infantaria e cavalaria,
cerca de 4000 homens. Estes, auxiliados pelos camponeses armados, seriam
capazes de impedir com eficácia qualquer tentativa de incursão.”
Em relação à fronteira
ao longo da raia seca na parte serrana de Melgaço e setor a sul na fronteira
oriental a norte do Lima, o capitão Eliot julga que “sendo este um pequeno
setor entalado entre o Minho e o Lima, não é um alvo provável por parte do
inimigo.” A este respeito, acrescenta que isto se aplica perfeitamente à área
“entre a povoação de Alcobaça e Castro Laboreiro, uma fortaleza antiga, situada
no cume de um precipício, toda a região é um continuado de montanhas. Aqui não
há estradas. Apenas se consegue circular com uma mula, e uma pessoa é
frequentemente obrigado a desmontar, quando é necessário passar em locais mais
escarpados o que dificulta os movimentos.
Contudo, mesmo que o
inimigo, conseguisse fazer passar com sucesso um corpo de tropas de infantaria
ligeira, sem artilharia nessa direção, o rio Lima apresentaria logo um outro
obstáculo, embora não seja de dificuldade tão acentuado como o rio Minho. Aqui,
encontrariam tropas preparadas para a defesa deste ponto e se fosse necessário,
proceder-se-ia à destruição das pontes.”
Contudo, a terceira invasão
francesa não passou por Melgaço. De qualquer forma, este capitão inglês deixou ficar aquela que,
no seu entender, seria a melhor estratégia para defender a nossa terra.
Extratos transcritos de:
ELIOT, William Granville (1810) – A treatise on the defence of Portugal,
with a military map of the country: to which is added, a sketch of the manners
and customs of the inhabitants and principal events of the campaigns under Lord
Wellington, in 1808 and 1809. London: T. Egerton, Military Library, Whitehall.
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