Castro Laboreiro (Melgaço), noutros tempos |
Em algumas áreas de fronteira em Castro Laboreiro, a
linha que separa Portugal e Espanha em tempos não era muito clara. Por vezes,
eram frequentes conflitos entre populações e autoridades dos dois lados da
raia. Em meados do século XIX, encontramos registos dessas mesmas desavenças
relacionadas, por exemplo com os gados no pasto. Em missiva datada de 16 de Março de 1859, o regedor substituto de Castro Laboreiro (Melgaço),
dirigida ao administrador do concelho de Melgaço, queixa-se das arbitrariedades
cometidas pelas autoridades espanholas, nomeadamente diversas apreensões de gado dos castrejos por parte de carabineiros espanhóis, alegadamente, em território português: “1º Aprehensão feita dos rebanhos
lanigeros e caprinos dos lugares de Adofreire e Queimadelo, e Falagueiras, e
Coriscadas, e Cobelo, pelos carabineiros do ponto en Quintela de Leirado, cujos
forão arrematados por seis mil e tantos reaes; 2º A tomada de humas bacas de
Engracia Esteves do lugar do Rodeiro feitas pelos mesmos; de cujas tomou delas
conhecimento o Juiz de Dereito da Comarca e mais o Agente do Ministerio
Publico; e por enquanto não se sabe do rezultado; 3º A tomada de outras bacas
de João Esteves e Pedro Esteves do lugar do Theso; 4º A tomada de outras poucas
de bacas feita a Manoel Fernandes Bispo e outros do lugar de Campelo; 5º A tomada
dos gados bacuns dos lugares da Seara e Padrezoiro, 6º A tomada do gado bacum
dos lugares das Falagueiras e da Adofreire, 7º finalmente a prizão de hum pobre
vendilhão de sal chamado Francisco Fernandes morador nesta Villa, que estava
vendendo sal aos galegos na fronteira, porém dentro do nosso territorio chamado
o sitio da Senhora da Ana con duas cabalgaduras foi também arrestado para a
Cadeia de Ourense, aonde segundo me consta tem de estar tres meses, é quanto
tenho a dizer sobre o objecto de se trata.” Nessa mesma altura, encontramos num
outro documento mais queixas de abusos alegadamente cometidos por carabineiros espanhóis
junto da fronteira, em Melgaço, feitas ao
presidente do Conselho de Ministros e Ministro dos Negócios Estrangeiros, em 18
de Novembro de 1859: “Contaram-me ali, que en certa occasião en que os
referidos carabineiros haviam entrado no territorio portuguez no termo de
Castro Leboreiro, e aprehendido algumas cabeças de gados dos lavradores que
andavão pastando naquellas serras, representando a autoridade portugueza a
hespanhola, foram requezitadas algumas testemunhas portuguezas, as quais hindo
a Orense, forão lá mandadas encarceirar, e ainda en cima multadas!! V. Exª sabe
quanto o espírito de nacionalidade pode influir nas decisões de pleitos,
principalmente tratando-se de factos passados en lugares ermos, quando são
attendidos como partes dos próprios autores dos factos de que há a queixa.” (Documentos citados em GODINHO, Paula (2008) - Oir o galo cantar dúas veces)
Belíssima terra esta, de pessoas genuínas e acolhedoras.
ResponderEliminarRecomendo uma visita sem pressas, porque esta é uma vila de excelência, com uma historia muito particular
Boa pesquisa. O mesmo acontecia em Paradela e Várzea, da freguesia de Soajo, havendo relatos orais de escaramuças entre pastores e a guarda espanhola. Tem alguma referencia sobre esses casos?
ResponderEliminarObrigado