sexta-feira, 22 de abril de 2016

Os gados de Castro Laboreiro junto à fronteira e os carabineros espanhóis (meados do século XIX)

Castro Laboreiro (Melgaço), noutros tempos
Em algumas áreas de fronteira em Castro Laboreiro, a linha que separa Portugal e Espanha em tempos não era muito clara. Por vezes, eram frequentes conflitos entre populações e autoridades dos dois lados da raia. Em meados do século XIX, encontramos registos dessas mesmas desavenças relacionadas, por exemplo com os gados no pasto.  Em missiva datada de 16 de Março de 1859, o regedor substituto de Castro Laboreiro (Melgaço), dirigida ao administrador do concelho de Melgaço, queixa-se das arbitrariedades cometidas pelas autoridades espanholas, nomeadamente diversas apreensões de gado dos castrejos por parte de carabineiros espanhóis, alegadamente, em território português: “1º Aprehensão feita dos rebanhos lanigeros e caprinos dos lugares de Adofreire e Queimadelo, e Falagueiras, e Coriscadas, e Cobelo, pelos carabineiros do ponto en Quintela de Leirado, cujos forão arrematados por seis mil e tantos reaes; 2º A tomada de humas bacas de Engracia Esteves do lugar do Rodeiro feitas pelos mesmos; de cujas tomou delas conhecimento o Juiz de Dereito da Comarca e mais o Agente do Ministerio Publico; e por enquanto não se sabe do rezultado; 3º A tomada de outras bacas de João Esteves e Pedro Esteves do lugar do Theso; 4º A tomada de outras poucas de bacas feita a Manoel Fernandes Bispo e outros do lugar de Campelo; 5º A tomada dos gados bacuns dos lugares da Seara e Padrezoiro, 6º A tomada do gado bacum dos lugares das Falagueiras e da Adofreire, 7º finalmente a prizão de hum pobre vendilhão de sal chamado Francisco Fernandes morador nesta Villa, que estava vendendo sal aos galegos na fronteira, porém dentro do nosso territorio chamado o sitio da Senhora da Ana con duas cabalgaduras foi também arrestado para a Cadeia de Ourense, aonde segundo me consta tem de estar tres meses, é quanto tenho a dizer sobre o objecto de se trata.” Nessa mesma altura, encontramos num outro documento mais queixas de abusos alegadamente cometidos por carabineiros espanhóis junto da fronteira, em Melgaço,  feitas ao presidente do Conselho de Ministros e Ministro dos Negócios Estrangeiros, em 18 de Novembro de 1859: “Contaram-me ali, que en certa occasião en que os referidos carabineiros haviam entrado no territorio portuguez no termo de Castro Leboreiro, e aprehendido algumas cabeças de gados dos lavradores que andavão pastando naquellas serras, representando a autoridade portugueza a hespanhola, foram requezitadas algumas testemunhas portuguezas, as quais hindo a Orense, forão lá mandadas encarceirar, e ainda en cima multadas!! V. Exª sabe quanto o espírito de nacionalidade pode influir nas decisões de pleitos, principalmente tratando-se de factos passados en lugares ermos, quando são attendidos como partes dos próprios autores dos factos de que há a queixa.”  (Documentos citados em GODINHO, Paula (2008) - Oir o galo cantar dúas veces)

2 comentários:

  1. Belíssima terra esta, de pessoas genuínas e acolhedoras.

    Recomendo uma visita sem pressas, porque esta é uma vila de excelência, com uma historia muito particular

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  2. Boa pesquisa. O mesmo acontecia em Paradela e Várzea, da freguesia de Soajo, havendo relatos orais de escaramuças entre pastores e a guarda espanhola. Tem alguma referencia sobre esses casos?
    Obrigado

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