Castro Laboreiro (Melgaço) |
Após a implantação da República em Portugal em 5 de Outubro de 1910, os
partidários da monarquia puseram-se em fuga. Falava-se que se refugiaram no
norte do país e depois na Galiza. Acreditava-se que se estava a preparar uma
invasão a partir de terras galegas com o objetivo de derrubar a República e
restaurar a Monarquia. As forças monáquicas eram lideradas pelo General Paiva
Couceiro e aquelas estariam a fazer entrar em Portugal uma grande quantidade de
armas antes da grande invasão. Esta teria lugar pelas fronteiras norte do Minho
e Trás-os Montes. A raia melgacense estava bastante vigiada já que havia
rumores que as forças monárquicas estariam prestes a atravessar a fronteira. A
esse respeito, numa sessão do Senado, a 8 de Maio de 1912 o deputado Alves da
Cunha demonstrava preocupação com um rumor de uma possível invassão pela
fronteira castreja da Ameixoeira. Fala então nestes termos: “Eu desejava que
estivesse presente algum dos Srs. Ministros, para formular as observações que
tenho em mira, não obstante a falta de S. Ex.as informarei o Senado. Desde há
dias que vem sendo narrado nos jornais um acto que, dalguma maneira, tem
sobressaltado a cidade de Lisboa e parte.do país. Quero referir-me àquela invasão couceirista
ao porto da Ameixoeira,
Castro Laboreiro, em Melgaço. Todos nós estamos
convencidos de que a projectada contra-revolução monárquica não pode
frutificar, nem dar mais do que o resultado de não deixar caminhar o trabalho
nacional com o sossego e serenidade de que precisa. Mas a verdade é que não se
trata duma incursão couceirista, cujas hostes assinalaram já o seu valor,
fugindo aos primeiros tiros dos soldados da República. Trata-se, apenas, duma
habilidade de contrabandistas, conforme se lê em um jornal do Alto Minho, e que
é a terceira no género. Vou, pois, informar o Senado, para que todos estejamos
de sobreaviso, a fim de que estes boatos não venham impedir a marcha regular da
República, pelo alarme que, em geral, produzem. Há muito tempo — não digo bem —
desde que os couceiristas estão na Galiza, espalhou-se que em casas da raia do
Norte havia armas escondidas, destinadas aos conspiradores; e entre elas
apontou-se o convento de Ganfey, próximo da Praça de Valença, de que é
coproprietário um genro do digníssimo Presidente da nossa República. O convento
foi cercado, despovoando-se para isso os postos fiscais até Cerveira. Resultado...
ser introduzido no país importante contrabando, que os negociantes de Tuy
avaliaram em muitos contos de réis. Uma habilidade. O boato tinha produzido os
seus desejados efeitos e o mal-estar geral sentiu-se. Mais: S. Mamede é uma
freguesia entre Valença e Monção, onde existe uma quinta e casa pertencentes a
um irmão do ex-Ministro da Guerra, o Sr. Pimenta de Castro. Pois bem,
espalhou-se que havia lá um grande depósito de armas destinadas aos
conspiradores, e tanto bastou para a guarda fiscal se deslocar, que era o que
se pretendia para a salvo se introduzir o contrabando, e ir pôr cerco à casa. Dirigiram-se para a quinta de S. Mamede,
foram até muito bem recebidos pelo Sr. Caetano Pimenta e, afinal, verificou-se
que não havia lá armas. O que houve foi um truque para iludir a guarda fiscal. Ultimamente,
na Ameixoeira, Castro Laboreiro, deu-se o mesmo caso. Apareceu um homem a
cavalo, ofegante, galopando, e anunciando aos pobres guardas que fugissem,
porque sobre eles ia cair uma avalanche de couceiristas, que se dirigiam àquele
posto fiscal. Os pobres homens abandonaram, com efeito, os seus postos e o
contrabando entrou. Seria de armas? Seria de mercadorias? Não sei. Diz-se que o
bando levou do posto fiscal as armas e munições que os guardas lá tinham, mas o
jornal a que me referi diz não ser isso verdade. Esta invasão, pois,
transformou-se numa incursão de contrabandistas. Disse-se aqui que o General da
Divisão informara o Sr. Ministro da Guerra, dizendo-lhe que se tratava de
couceirisias, de realistas. Não o creio. Nestas circunstâncias, são duas vezes
prejudiciais estes boatos para a República: primeira, porque as fazendas
introduzidas fogem ao imposto devido, e que tinham de pagar; segunda, porque
sobressaltam e incomodam o espírito nacional. Embora não esteja presente nenhum
dos Srs. Ministros, eu não podia deixar de prestar estas informações nesta casa
do Parlamento, para tranquilidade de todos, as quais, decerto, chegarão ao
conhecimento dos Srs. Ministros.”
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