sexta-feira, 8 de abril de 2016

Castro Laboreiro (Melgaço) à beira de uma invasão? (1912)

Castro Laboreiro (Melgaço)
Após a implantação da República em Portugal em 5 de Outubro de 1910, os partidários da monarquia puseram-se em fuga. Falava-se que se refugiaram no norte do país e depois na Galiza. Acreditava-se que se estava a preparar uma invasão a partir de terras galegas com o objetivo de derrubar a República e restaurar a Monarquia. As forças monáquicas eram lideradas pelo General Paiva Couceiro e aquelas estariam a fazer entrar em Portugal uma grande quantidade de armas antes da grande invasão. Esta teria lugar pelas fronteiras norte do Minho e Trás-os Montes. A raia melgacense estava bastante vigiada já que havia rumores que as forças monárquicas estariam prestes a atravessar a fronteira. A esse respeito, numa sessão do Senado, a 8 de Maio de 1912 o deputado Alves da Cunha demonstrava preocupação com um rumor de uma possível invassão pela fronteira castreja da Ameixoeira. Fala então nestes termos: “Eu desejava que estivesse presente algum dos Srs. Ministros, para formular as observações que tenho em mira, não obstante a falta de S. Ex.as informarei o Senado. Desde há dias que vem sendo narrado nos jornais um acto que, dalguma maneira, tem sobressaltado a cidade de Lisboa e parte.do país. Quero referir-me àquela invasão couceirista ao porto da Ameixoeira, Castro Laboreiro, em Melgaço. Todos nós estamos convencidos de que a projectada contra-revolução monárquica não pode frutificar, nem dar mais do que o resultado de não deixar caminhar o trabalho nacional com o sossego e serenidade de que precisa. Mas a verdade é que não se trata duma incursão couceirista, cujas hostes assinalaram já o seu valor, fugindo aos primeiros tiros dos soldados da República. Trata-se, apenas, duma habilidade de contrabandistas, conforme se lê em um jornal do Alto Minho, e que é a terceira no género. Vou, pois, informar o Senado, para que todos estejamos de sobreaviso, a fim de que estes boatos não venham impedir a marcha regular da República, pelo alarme que, em geral, produzem. Há muito tempo — não digo bem — desde que os couceiristas estão na Galiza, espalhou-se que em casas da raia do Norte havia armas escondidas, destinadas aos conspiradores; e entre elas apontou-se o convento de Ganfey, próximo da Praça de Valença, de que é coproprietário um genro do digníssimo Presidente da nossa República. O convento foi cercado, despovoando-se para isso os postos fiscais até Cerveira. Resultado... ser introduzido no país importante contrabando, que os negociantes de Tuy avaliaram em muitos contos de réis. Uma habilidade. O boato tinha produzido os seus desejados efeitos e o mal-estar geral sentiu-se. Mais: S. Mamede é uma freguesia entre Valença e Monção, onde existe uma quinta e casa pertencentes a um irmão do ex-Ministro da Guerra, o Sr. Pimenta de Castro. Pois bem, espalhou-se que havia lá um grande depósito de armas destinadas aos conspiradores, e tanto bastou para a guarda fiscal se deslocar, que era o que se pretendia para a salvo se introduzir o contrabando, e ir pôr cerco à casa. Dirigiram-se para a quinta de S. Mamede, foram até muito bem recebidos pelo Sr. Caetano Pimenta e, afinal, verificou-se que não havia lá armas. O que houve foi um truque para iludir a guarda fiscal. Ultimamente, na Ameixoeira, Castro Laboreiro, deu-se o mesmo caso. Apareceu um homem a cavalo, ofegante, galopando, e anunciando aos pobres guardas que fugissem, porque sobre eles ia cair uma avalanche de couceiristas, que se dirigiam àquele posto fiscal. Os pobres homens abandonaram, com efeito, os seus postos e o contrabando entrou. Seria de armas? Seria de mercadorias? Não sei. Diz-se que o bando levou do posto fiscal as armas e munições que os guardas lá tinham, mas o jornal a que me referi diz não ser isso verdade. Esta invasão, pois, transformou-se numa incursão de contrabandistas. Disse-se aqui que o General da Divisão informara o Sr. Ministro da Guerra, dizendo-lhe que se tratava de couceirisias, de realistas. Não o creio. Nestas circunstâncias, são duas vezes prejudiciais estes boatos para a República: primeira, porque as fazendas introduzidas fogem ao imposto devido, e que tinham de pagar; segunda, porque sobressaltam e incomodam o espírito nacional. Embora não esteja presente nenhum dos Srs. Ministros, eu não podia deixar de prestar estas informações nesta casa do Parlamento, para tranquilidade de todos, as quais, decerto, chegarão ao conhecimento dos Srs. Ministros.”

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