Convento de Paderne (Melgaço), anos 50 |
Em Janeiro de 1955, é
publicado um desdobrável destinado a promover o concelho de Melgaço que era uma
espécie de um guia para o visitante. No mesmo, encontramos um texto da autoria
do professor António Pinho, de Paderne. Apresentamos a segunda parte do mesmo que nos leva numa viagem pelo nosso concelho nessa época:
“(...) Lá ao alto, a sul, é Castro Laboreiro,
é serra...
Ali, a terra se atapeta de urze que não de mimosa
relva e as penedia desafiam alturas. Ali, as espécies cinegéticas proliferam e
a truta tem um sabor muito agradável. Ali, rebanhos enormes se apascentam mais
perto do céu resguardados pelo
corpulento cão de raça. Ali, no Inverno, quando as árvores se desnudam dos
verdes, sobre o desfiladeiro e a cumeada, a encosta e o sopé,desce serenamente,
com a sua alvura gélida, um denso manto de neve. Ali é típica região serrana,
onde as casas construídas de granito nu, outrora, na totalidade, cobertas de
colmo, já hoje em seus telhados predomina a cerâmica. Ali, ainda em nossos
dias, embora nos lugares mais recônditos, se lobriga o velho colmo a resguardar
do sol e da chuva, do vento e da neve, habitações rústicas e seculares que nos
oferecem visões de outro tempo. Ali, existem tradições que, vindas de tempos
imemoriais, ainda se não desvirtuaram.
Entre elas, ainda que sem pormenor, permitimo-nos
trazer a lume uma, por ser das mais evidentes: O castrejo emigra de tenra
idade. Onde quer que vá parar, dedica-se ao trabalho e procura amealhar uns
cobres, vindo casar à terra. Casamento feito, volta em busca de meios de
fortuna. A mulher, então, até que ele regresse, veste de luto. Só veste de cor
a mulher cujo homem está na terra. Razão razão porque naquela freguesia poucos
homens se enxergam e se vêem muitas mulheres com vestes pretas. Ali, mantem-se
ainda um traje caraterístico: a castreja cobre no inverno com um capuz que a
resguarda até à anca , veste saia de roda e chambre e usa polainas de lã.
É assim Castro...
Se a terra tem curiosa fisionomia, os seus costumes e
tradições revestem-se de caraterísticas invulgares...
Nem por isso esta região é menos visitada pelo
turista! É que Castro tem algo de diferente das demais regiões afins. A
excessiva agressividade do seu solo e clima, o curioso traje dos seus
habitantes e seus costumes, e, além do mais, a singularidade panorâmica dão
ensejo a que seja amiudamente visitada por forasteiros que observam e admiram
e que – além duma cabine telefónica,
podendo daí, caso curioso, pôr-se em contacto com as grandes capitais – para tal,
dispõem hoje de uma excelente estrada nacional, qual miradouro em toda a sua
extensão, donde as vistas, num permanente contraste que maravilha e deleita, se
distendem, desde os declives em que assentam esplendorosas algumas das
freguesias do concelho, com casas semeadas a esmo, ora por entre urzes e
pinhais, ora por entre exuberantes e viçosas veigas, até aos vizinhos concelhos
de Monção e Valença, numa ampla visão cheia de originalidade, beleza e cor.
Dali o vale e a serrania, o planalto e a várzea, a charneca e o pântano emitem
trechos paisagísticos sem paralelos, já pelo constraste operado, já pelos
cambiantes e horizontes de que usufruem.
Desse eminente rodovia, junto à freguesia de Lamas de
Mouro, outrora Lucto ou Lágrima de Mouro, nome que à terra vincularam lágrimas
de alta patente árabe, ali vertidas, após encarniçadas refrega, inglória ao
sarraceno – deriva uma estradinha em direção à Peneda.
São dezoito as freguesias que completam a circunscrição
administrativa de Melgaço. Nelas, aqui, e além, são diversos os momentos que
imponentes se erguem e que no mutismo das suas pedras, embora corroídas pela
ação erosiva do tempo, nos testemunham do patriotismo e da fé das gerações de
antanho, que por aqui se enredaram.
Daquele, levantam a sua voz autorizada os castelos da
Vila e Castro Laboreiro, quer nas suas pedras erguidas, ou tombadas, que importam,
se o o significado é o mesmo? E, da fé, gritam-nos eloquentemente, os conventos
de Paderne e Fiães e a Capela da Senhora da Orada, monumentos nacionais de
excecional valor histórico e artístico.
Qual deixa do passado, a crença religiosas, como nas
gerações avoengas, exorta os espíritos das massas atuais. Assim é que em todas
as igrejas paroquiais e ermidas, como preito, pelas graças recebidas, se efetuam
festividades que deslumbram quer pelo número de devotos que a elas ocorrem,
quer pelo folclore nelas experimentado a emprestar-lhe graça e cor, quer ainda
pela música e descantes regionais, que a todos deixam saudades.
Nesta região, os homens, na sua maioria, dedicam-se à
cultura da terra.
Porém, quer aqueles que se empregam na lavoura, quer
os que seguem o comércio ou a indústria ou os que se dão às artes ou às letras,
onde quer que empreguem a sua atividade,
seja ela de que molde for, bem confirma a sua persistência e acendrado amor ao
trabalho, o seu espírito altruísta e cristão, a sua honradez e dignidade. .
De índole inexorável, disciplinadores e disciplinados,
os melgacenses são de fácil trato e afável convívio. Neles se repercute a
grandeza panorâmica da sua terra, a fé e a galhardia de seus maiores. As
mulheres, esbeltas e sadias, essas, acompanhando bem de perto os homens nas
suas lides, nem por isso descuram o mester de donas de casa e bem condignamente
cumprem o sagrado dever de filhas dedicadas, esposas estremecidas e mães amoráveis.
- Leitor, se ainda não conheces esta parcela do Minho,
desse “rival da Suiça” não te sacies com o que nesta modesta e despretensiosa descrição te expomos, pois muito mais haveria a dizer para não corrermos o risco
de sermos injusto. Por tal, perdoe-nos a terra e as gentes e desculpem-nos os
leitores.
Visita-a e será mais um a bendizê-la!
Melgaço aquilata bem quanto vale, se bem que tenha
sido demasiado moderado ao falar de si e dos seus.
Urge, pois, que difunda, valorize e enalteça o seu
património e os seus pergaminhos.
A sua região necessita, sem dúvida, tornar-se mais conhecida
para ser mais admirada.
Paderne, Janeiro de 1955”
Veja a parte 1 clicando AQUI
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