S. Paio (Melgaço) (Foto em http://coxo-melgaco.blogspot.pt/) |
O Tomás das Quingostas, de nome Tomás Joaquim Codeço,
nasceu no lugar das Quingostas na freguesia de S. Paio, concelho de Melgaço,
tendo sido baptizado, em 15 de Agosto de 1808, com nome de Tomás de Aquino. Por
volta de 1837, devido à sua simpatia miguelista e toda a uma série de crimes
que ele e a sua quadrilha tinha cometido na região, era perseguido já por um
destacamento de soldados enviados pela Coroa para o prender. Isso não foi
tarefa fácil já ele se movimentava com facilidade entre os dois lados da fronteira e
deambulava entre Melgaço, as serras e as povoações galegas. Uma das principais razões que dificultava a obtenção de informações acerca dos seus movimentos era
a proteção de que gozava por muitas pessoas da região que lhe davam guarida
sempre que necessitava.
Contudo, por esta altura, a prisão do seu criado veio facilitar
a tarefa. Tratava-se de um galego do qual se desconhece o nome e que foi detido
no lugar de Sante (Paderne) no dia 9 de maio de 1837 e depois conduzido à
cadeia de Melgaço. Num ofício redigido no dia seguinte para o seu superior, o
Alferes Isidoro da Costa escreve “Participo a Vossa Excelência que no dia 9 do
corrente às duas da tarde, cheguei eu com a Partida do meu Comando ao Povo de
Sante. Ali, depois de algumas diligências, consegui prender o galego criado do
Thomaz das Quingostas, cujo criado eu há muito tempo procurava pois que sabia
ser ele o confidente do dito Thomaz e o único que de positivo poderia dizer os
sítios onde este facinoroso e sua quadrilha costumam acolher-se para escaparem
à perseguição. Com efeito, depois de preso, o galego e ameaçado de morte
confessou algumas coisas que interessam para a captura daquele perverso, as
quais eu vocalmente direi a Vossa excelência; por cujo motivo o conduzi à
Cadeia de Melgaço onde se conserva incomunicável até que Vossa Excelência
disponha dele como julgar conveniente.
Acantonamento em Chaviães, 10 de Maio de 1837
Isidoro Manuel da Costa,
Alferes e Comandante da Partida”
No dia seguinte, segue outro ofício escrito no
acantonamento das tropas estacionadas em Paderne em que se alude para o
interrogatório que foi feito ao criado do Tomás das Quingostas e todas as
informações que tinham sido recolhidas, nomeadamente as pessoas que protegiam o
Tomás das Quingostas bem como os sítios onde se escondia. No dito ofício, pode
ler-se que “Em aditamento ao meu ofício datado de hoje, participo a Vossa
Excelência que acabo de interrogar o galego criado do Thomaz das Quingostas e
incluso envio o respetivo interrogatório pelo qual verá Vosssa Excelência quais
são as pessoas cúmplices que têm dado proteção àquele sublevado Quingostas, e
que devem ser presas, não só para lhes ser aplicada a lei, mas também para que
não possam continuar a proteger o malvado que mais facilmente será preso
faltando-lhe este apoio. Porém, como são muitos as pessoas no caso de serem
presas, eu careço que Vossa Excelência me autorize para elas serem presas
militarmente e depois entregues às autoridades judiciais ou em caso contrário
Vossa Excelência procederá a este
respeito como julgar mais conveniente. Fico portanto esperando as ordens de
Vossa Excelência sobre tão importante objeto, e mesmo para aplicar os possíveis
meios de conseguir a captura dos chamado Lisbonense de quem tenho falado a
Vossa Excelência, como Agente da Facção Miguelista no Alto Minho. Por fim, levo
ao conhecimento de Vossa Excelência que sendo indispensável conservar aqui o
preso galego criado do Thomaz das Quingostas mas de um modo oculto para que só
saia de noite com a Força (soldados) para indicar as avenidas e paragens
daquele faccioso. Para isto tenho feito constar que o mando conduzir para
Braga a apresentar-se a Vossa Excelência e como este há-de ser acompanhado por
soldados de confiança, a comunicação
destes levará assim para regressar com ele a uma casa próprias onde se
conservará em segredo para o indicado fim. Resta-me ainda aproveitar esta
ocasião para enviar a Vossa excelência a parte inclusa dada pelo subalterno do
destacamento do Regimento que prendeu o referido galego criado do Thomaz das
Quingostas cuja parte por esquecimento deixei de incluir no primeiro ofício de
hoje, do qual faz parte.
Acantonamento em Paderne, 11 de Maio de 1837.”
Junto ao ofício, seguiu um documento com um resumo das
informações declaradas pelo criado do Tomás das Quingostas: “Depoimento a que se
procedeu para servir de conhecimento de quem são as pessoas que discretamente
protegem o Thomaz das Quingostas e sua quadrilha.
Sendo interrogado o galego criado do Thomaz das
Quingostas, que foi preso na tarde do dia 9 do corrente por uma partida de
voluntários da Rainha; declarou que todas as pessoas mencionadas nesta relação tem diretamente comunicação com o declarado Thomaz.
1º - Que quando ele, Thomaz habita estes sítios, costuma
ficar em casa de Joaquim de Pomares e Domingos de Pomares no dito lugar de
Pomares, e também no lugar de Fontes em casa de uma mulher cujo nome se ignora
mas que por indícios ou sinais facilmente se pode averiguar e além destas
casas, declarou o galego outros sítios ou esconderijos onde ele, Thomaz e
quadrilha costumam acolher-se.
2º - Que ele Thomaz tem correspondência em Melgaço com um
negociante chamado Vitorino e com um outro paisano chamado Domingos da Maricas
e que o ex provedor de Melgaço e seu irmão, Thomaz fariam avisos àquele todas
as vezes que saiam Forças de Melgaço / apurar destes dois últimos serem de
sentimentos liberais e um deles ter estado nas Linhas do Porto.
3º - Que os homens que nestas aldeias mais costumam
avisar e vviver com ele, Thomaz, são o Custódio de Remoães, seu alfaiate; o Pico,
seu sapateiro; Maria Crega o lugar de Sante que tem em sua casa trastes dele; o
filho do Escrivão de Paderne; o António do Lagendo; o carpinteiro José dos
Barreiros; o Cabo da Polícia de Sante Manuel Carvalho; Manuel António Pinheiro,
que era incumbido de levar cartas a pessoas que depois se averiguará quem são;
o Morgado de Crastos, onde o Thomaz e sua quadrilha vão jogar; o Beites de
Sante onde existiam armas dele, Thomaz.
4º - Foi declarado mais que existia no Povo de Badim o
célebre Lisbonense chamado Francisco Xavier, que foi criado de D. Miguel e que
naturalmente o principal agente do movimento político neste país. Ignora-se se
a casa onde ele existe, mas há meios de se poder saber.
Paderne 11 de Maio de 1837".
Em 30 de Janeiro de 1839, quando o Tomás das Quingostas, se encontrava a cavaquear no estabelecimento
de Policarpo Fontes, no lugar do Cruzeiro (S. Paio), foi surpreendido por inesperada escolta militar
que ia para o capturar. Dizem que o Tomás ainda tentou fugir trepando por um
alçapão que dava para o primeiro andar; mas os militares agarraram-no pelas
pernas, cortaram-lhe os suspensórios e assim o levaram. Também dizem que ao
chegar à Ponte de Alote o prisioneiro exclamou: - «foi ali que eu pratiquei o
primeiro crime» e ao mesmo tempo voltou-se bruscamente pisando os calos a uma
praça da escolta. O comandante não hesitou e mandou-o fuzilar. Foi sepultado nas traseiras da capelinha de S. Bento da
Barata.
Há que referir que as circunstâncias da sua morte são muito discutíveis e as bases documentais são escassas. Estes factos são narrados na tradição popular mas no seu assento de óbito apenas é dito que foi abatido por soldados na data acima citada.
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