Cristoval (Melgaço) Fonte: http://coxo-melgaco.blogspot.pt |
As fronteiras de Melgaço são, desde sempre, um espaço onde
abundou o contrabando e a emigração ilegal. A Guarda Fiscal era a autoridade
encarregue de controlar o trânsito de pessoas e mercadorias ao longo da linha
de fronteira.
No “Jornal de Melgaço” de 19 de Outubro de 1905,
encontrámos uma notícia que nos fala de um episódio de aparente abuso da
autoridade por parte de um guarda fiscal passada uns dias antes para as bandas de Cristóval. A vítima foi um homem conhecido como
o “Nacho” de Cristóval, deste concelho. A notícia diz-nos o seguinte:
“Façanhas
da Guarda Fiscal
Mais uma façanha praticada pela Guarda Fiscal de que
resultou um homem ferido com uma bala de revólver, pôs em sobressalto parte da
freguesia de Cristóval, de este concelho. Eis o caso: No sábado passado, 14 do
corrente, às 11 horas da manhã, vinha da Galiza o inofensivo José Fernandes, o “Nacho”,
do lugar da Porta, da freguesia de Cristóval, sendo portador de uma saca cujo
conteúdo eram duas garrafas de azeite e 40 réis de sabão, de procedência
espanhola. Próximo do lugar do Regueiro, da mesma freguesia, surpreendeu-o o
Guarda Fiscal José A. Esteves, vestido à paisana, que lhe apreendeu os objetos
descaminhados aos direitos e prendeu o condutor.
Seguiram ambos até ao portão da propriedade do Sr. Daniel
José Rodrigues, e o “Nacho”, vendo ali um belo refúgio, tentou evadir-se, o que
pôde conseguir, chegando a transpor o referido portão e ali, ambos
engalfinhados, esforçavam-se por ver coroados de bom êxito os seus desejos.
O guarda, julgando-se impotente para arratar o “Nacho”
para fora do portão, intimou-o a sair, e, como este se recusasse, puxou por um
revólver e disparou contra o pobre “Nacho”, indo a bala atravessar-lhe a coxa
da perna esquerda.
Nesta conjuntura, o guarda, vendo aproximar alguns
artistas que trabalhavam na propriedade citada, pôs-se em fuga, sendo perseguido
por alguns artistas que pretendiam prendê-lo.
O ferido foi conduzido para sua casa, onde está em
tratamento.
São estas as informações que podemos colher, de que nos
abstemos de fazer comentários, não nos inibindo de voltar ao assunto.
Pedem-se enérgicas providências e o mais severo
cumprimento da lei contra selvajarias desta natureza.”
Notícia extraída de: Jornal "Jornal de Melgaço, edição de 19 de Outubro de 1905.
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