Desde
o último quarto do século XIX que a Linha do Minho estava
planificada até Melgaço. Contudo, como se sabe, o último troço
entre Monção e Melgaço nunca saiu do papel. Esse era um futuro que nunca chegou. Nunca saberemos como seria o nosso concelho se tal se concretizasse.
Em
1915, a linha férrea tinha acabado de chegar a Monção. No jornal
“República”, na sua edição de 5 de Dezembro desse ano, fala-se
na constituição de uma comissão com vista a estudar o
prolongamento da linha até Melgaço. Um dos membros da dita comissão
fala das enormes vantagens que teria o comboio até Melgaço para a
região, quer para o comércio agrícola, quer para as termas melgacenses…
“Prolongamento
da Linha Férrea de Monção a Melgaço
Tenta-o
levar a efeito uma comissão de naturaes da região
Trabalha-se
pelo prolongamento do caminho de ferro de Monsão a Melgaço e para
levar a efeito aquela obra de fomento regional acha-se até
constituída em Lisboa uma comissão.
É
um membro dessa comissão, o Snr. Januário Esteves Nogueira, que,
procurado ontem por nós, para que nos informasse sobre as vantagens
desse empreendimento vai falar.
Eis
o que ouvimos:
O
prolongamento do caminho de ferro de Monsão a Melgaço constitui um
empreendimento com que beneficiarão extraordinariamente aqueles
conselhos. E porque assim é, porque tal se lhes afigura alguns
filhos da região, com residência em Lisboa, se formaram, animados
pelo mais sincero e veemente desejo de serem úteis à sua terra, em
comissão e meteram hombros à obra na resolução inabalável de se
não pouparem a sacrifício algum. Essa comissão é formada pelos
Snr. Dr. Manuel Fernandes Pinto, José Augusto, Marcelino Ilídio
Pereira, Luíz Vaz de Araújo, Manuel Pereira, Agostinho Manuel de
Sousa, Raul Augusto Rodrigues Vilarinho, e seu creado, que nela
desempenha as funções de secretário. Os respetivos trabalhos
acham-se já encetados e felizmente até agora teem sido coroados de
êxito, tendo sido para eles a adesão de grande número de
coletividades assim como a das comissões locais de diferentes
partidos e das câmaras municipaes, etc. Neste momento mesmo se está
tratando da representação ao Snr. Ministro do Fomento, o que já
conta um respeitável número de assinaturas.
O
caminho de ferro já chega, como deve saber, até Monção.
Infelizmente, porém, as obras da estação acham-se, por assim
dizer, tão em começo que quasi que não há estação, não havendo
por isso, tão pouco, armazéns onde recolher as mercadorias nem
casas para o pessoal. Assegura-se contudo que dentro em breve tudo
deverá achar-se concluído. Será esplêndido. Porque a conclusão
das obras representa um grande benefício para a importante vila de
Monsão. No entanto, isso não nos satisfaz ainda inteiramente, visto
tornar-se de absoluta necessidade o prolongamento da linha.
A
rapidez e a facilidade de comunicações entre os dois concelhos
trará o deslocamento do povo das aldeias que se confundirá nos
mercados e nas festas da região. E sendo Monsão maior na extensão
e possuindo mais recursos do que Melgaço, é indubitável que todos
os ramos de atividade local ganharão extraordinariamente com o
prolongamento da linha. Como sabe, aqueles dois concelhos são por
excelência agrícolas, produzindo em abundância vinho, milho,
feijão, batatas e dando-se a creação de galinhas.
Não
havendo, como agora sucede, permuta dos seus respetivos produtos
agrícolas não só se torna difícil, mas ainda caríssima. Calcule
que uma pipa de vinho pode custar em Melgaço, vinte escudos. Os
transportes são além disso morosos, feitos por carros de bois,
ficando cada pipa de vinho, paga de transporte, por vinte e oito
escudos, aproximadamente. Quer dizer, sofre um aumento de quarenta
por cento. E quando me refiro ao vinho, que cito apenas como exemplo,
quero também referir-me a todas as outras produções agrícolas,
que o transporte, pelo seu elevado preço, encarece de uma maneira
extraordinária.
Mas
há mais. Você não ignora que Melgaço possui umas afamadas termas
medicinaes, excelentes para a cura da diabetes. Ora quantos e quantos
doentes em Monção, nos seus arredores, nos concelhos circumvizinhos
carecem de tratamentos sem que isto se lhe torne possível. Imaginem
que de Monção a Melgaço, há carreiras diárias de automóveis,
custando cada lugar oitenta centavos, o que perfaz, entre ida e
volta, um escudo e sessenta centavos. Qual será o pobre, ou mesmo o
remediado, que diariamente pode despender essa importância para
poder tratar-se? Evidentemente nenhum. Prolongada a linha como é
desejo nosso, essa dificuldade desaparecerá o todos que sofrem, com
pouco dinheiro, poderão galgar a distância que os separa de
Melgaço. Essa prolongação valorizará ainda outro ponto de vista
turístico a linha. Ela corre ao longo duma paisagem encantadora e
pitoresca, cheia de sorrisos, de luz e de cor. Olhe o que fez a
Espanha. Há perto de trinta e cinco anos que em frente de nós se
ouve e silvo da locomotiva do caminho de ferro de Vigo a Orense.
E
aqui tem as razões porque trabalho por ver essa linha estender-se
até Monção. E creia que pugnando pela economia, pela arborização
dum dos mais encantadores aspetos do Alto Minho, trabalho por uma
obra extraordinária e particularmente patriótica. Compreendo a
importância dos caminhos de ferro sob o ponto de vista estratégico
– que a guerra actual está provando, sobretudo na Polónia, onde
Hindenburg mobiliza exércitos com a facilidade com se mudam as
pedras num jogo de damão; - não ignoro as deficiências da defesa
nacional naquele aspeto… Não é, pois, uma aspiração de
utilidade doméstica o que pedimos. Não lhe parece?...”
Extraído de: Jornal "República", edição de 5 de Dezembro de 1915.
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