sexta-feira, 20 de março de 2020

Melgaço, 1917/1918 - Notícias da Grande Guerra nos jornais melgacenses




Em 1917 e 1918, viviam-se tempos de muito medo em Melgaço e na generalidade do nosso país. Em 1917, tinham partido da nossa terra mais de 70 rapazes para as trincheiras de França para aí combaterem os alemães. A gente na terra e em especial as famílias ficam com o coração nas mãos sempre à espera de notícias. Nesses tempos, a informação demorava a chegar e nem sempre era muito exata. Procuravam-se diariamente nos jornais, as listas de mortos e desaparecidos em combate que era publicadas nos jornais nacionais. De vez em quando lá vinha a notícia de um valente melgacense tombado em combate que deixava a terra de luto. Por exemplo, podemos ler o Jornal de Melgaço de 22 de Dezembro de 1917, onde este periódico nos dá conta da morte do soldado José Maria da Cunha de Chaviães. Na notícia pode ler-se:
Sangue Melgacense
Sangue melgacense regou já os campos de França.
Na linha da batalha, no front, e no sector portuguez, um modeste filho desta terra, José Maria da Cunha, acaba de sucumbir aos ferimentos recebidos em combate.
O seu nome, aureolado da glória que se ganha no campo do Dever e da Honra, vem escrito no Rol da Honra.
Brioso, valente, destemido, poucos dias antes tinha sido condecorado com a medalha de valor militar.
Entre os seus companheiros, moços bisonhos como ele, distinguira-se pela sua bravura e pela sua coragem.
Nascera este brioso soldado na freguesia de Chaviães, deste concelho. Era filho de Aníbl dos Anjos Cunha e de Felisbela Cândida Alves e militava em infantaria 3, onde era o soldado nº 659, da 1ª companhia.
Que lá em França, onde jaz coberto de louros, a terra lhe seja leve!”
Menos de um mês depois, podíamos ler no Jornal de Melgaço de 18 de Janeiro de 1918, a trágica notícia da morte do soldado Arsénio Gonçalves, da freguesia de Prado. Na notícia, pode ler-se:
Mais um Bravo
Simples, muito simples, o ofício do districto de recrutamento nº 3 a informar-nos, por intermédio da Câmara Municipal, que em França faleceu em Dezembro do ano findo, o 2º sargento de cavalaria nº 11, Arsénio Gonçalves, filho de Manuel Luís Gonçalves e de Albina Rosa Alves, natural da freguesia de Prado, deste concelho.
Tout court, na sua extrema simplicidade, aquele ofício alguma coisa de grande, de tocante, nos comunica.
Por nos informar de uma morte?
Não. Uma morte a mais, sua alma a menos neste mundo, que importa?
Quantos mais não morreram ainda?
Nas terras longínquas da França, longe da Pátria e dos seus, de armas na mão, defendendo a bandeira verde rubra, quantos mais não morderam ainda o pó?
Aos próprios filhos desta terra, a quem o Dever chamou e que com os seus irmãos de armas, para França marcharam cheios de fé e com o coração abarrotado de esperança de voltarem, a quantos ainda não murchará essa esperança e não desaparecerá essa fé?
A razão é muito outra...”
Contudo, quando um ou outro soldado vinha a Melgaço passar uns dias de licença à terra, o seu estado, por vezes, gerava preocupação entre as famílias e as comunidades melgacenses. Atente-se nesta notícia publicada no “Jornal de Melgaço” de 26 de Janeiro de 1918:
Entre os soldados mortos em França, na luta contra a prepotência alemã, na guerra contra a tirania do teutões, há soldados que eram filhos desta terra, que neste lindo rincão do Minho nasceram, daqui partiram e aqui deixaram família, a carne da sua carne, o sangue do seu sangue.
Entre os soldados portuguezes que, lá em França, com o seu sangue heroico estão escrevendo a página mais linda da História moderna, toda ela feita de luz e de louros, há soldados filhos de Melgaço, que vão arruinando a saúde e perdendo o vigor do corpo, há soldados que d’aqui sahiram chaios de vida e de robustez e hoje aqui se encontram alquebrados de forças e contaminados pelo germen de terríveis doenças, adquiridas na vida árdua das trincheiras, ao troar medonho da artilharia, entre lufadas contínuas de gases asfixiantes.
Novos, moços, todos eles sentiam abrir-se-lhes pela existência fora um futuro risonho, primaveril, cheio de luz e de alvoradas: todos eles, jisavam no cérebro sonhos cor de rosa e no peito acarinhavam uma doce esperança duma vida fácil.”
As notícias trágicas alternavam com aquelas que motivavam a elevação das gentes melgacenses. Ora, leia-se esta publicada no “Jornal de Melgaço”, edição de 8 de Dezembro de 1918:
No front
Consta-nos que alguns filhos desta terra, que no front se batem no sector portuguez, mereceram dos seus superiores referências elogiosas, sendo até alguns condecorados pelos seus heroicos feitos.
Desconhecemos ainda os seus nomes, mas justo é que, se eles tanto se distinguiram, o povo melgacense conheça os seus nomes, e por isso vamos investiga-los e talvez no próximo número os deixaremos já escritos”.
Em 1919, os sobreviventes à guerra voltariam à sua terra mas  encontrariam aqui um outro temível inimigo que dava pelo nome de gripe pneumónica. Foram tempos muito difíceis, certamente!

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