segunda-feira, 23 de agosto de 2021

A capela de São Gregório (Cristoval - Melgaço): breves notas históricas e arquitetónicas

 




Um dos lugares da freguesia melgacense de Cristóval é São Gregório. A origem do topónimo parece ter origem na capela sita no mesmo lugar. 

Este assunto merece do Padre Bernardo Pintor um interessante apontamento. Segundo o mesmo, a razão para o seu nome deve derivar do facto de “em tempos remotos que não sei definir edificou-se ali uma capela dedicada a S. Gregório. Tal era a devoção que o lugar tomou o nome do Santo. A sua imagem está lá ainda na capela. Mais tarde, para ali se levou uma imagem de Santa Bárbara mais da devoção popular por ser evocada contra os trovões. De tal modo se desenvolveu o seu culto que se lhe faz uma grande festa e talvez não haja quem se lembre de rezar a São Gregório.” Sabemos que em meados do século XIX, a festa realizada nesta capela era já a de Santa Bárbara e já não há qualquer referência à veneração a São Gregório. 

Não temos informação precisa acerca da época de construção da capela. Contudo, NOÉ, P. (2014), considera que a mesma terá sido edificada no século XVII ou XVIII, ainda que a segunda possibilidade seja pouco provável. Tal opinião justifica-se pelo facto de o pároco, nas Memórias Paroquiais em 1758, escreve que esta capela já é antiga nessa época. Ao longo dos tempos, a capela recebeu obras, particularmente no século XX. Nas citadas Memórias Paroquiais de 1758, o pároco escreve que a paróquia “tem mais o lugar de Sam Gregório com uma capela antiga do mesmo santo e com vinte vizinhos (fogos), por onde é a estrada deste Reino de Portugal para a Galiza passando-se o regato por uma ponte de táboa que chamam a Ponte das Varges”. Por este registo, se vê que o lugar de São Gregório era o mais extenso da freguesia sendo que o lugar da Porta era, a seguir a São Gregório, o que tinha mais fogos, mas com apenas doze. 

A capela de S. Gregório apresenta uma planta retangular simples, tendo adossado à fachada posterior corpo retangular, mais baixo e estreito. Possui volumes escalonados, com coberturas em telhados de duas águas, rematadas em beirada simples. As fachadas são rebocadas e pintadas de branco, percorridas por faixa em cimento, pintada de cinzento, com cunhais apilastrados, coroados por pináculos piramidais sobre acrotério, e terminadas em cornija. A fachada principal apresenta-se virada a sul, terminada em empena truncada por sineira, sobrelevada, em arco de volta perfeita sobre pilares, albergando sino, e rematada em empena com cornija, coroada por cruz latina de cantaria, biselada. É rasgada por portal de verga reta, de moldura simples, e óculo circular, com moldura pintada de branco, existindo entre os dois vãos três lápides inscritas. A fachada lateral esquerda com a capela é rasgada por porta travessa, de verga reta e moldura simples, e janela retangular, sem moldura, e o corpo adossado por janela retangular, maior e também sem moldura, e porta de verga reta, moldurada. Na fachada lateral direita a nave é cega e o anexo rasgado por duas frestas de molduras pintadas de branco. A fachada posterior com a capela e o corpo é adossado terminados em empena, coroadas por cruz latina biselada, sobre acrotério, rasgando-se no anexo janela retangular, de moldura pintada de branco. 

Na fachada principal existem três lápides, uma em cantaria, muito delida, outra em mármore com a inscrição "BENEFICIADA / POR / JOSÉ VIANNA DE BRITO / 1915"; e uma terceira em cantaria, com a inscrição: "JNSPICE / ET FAC, SECVNDUM / EMPLAR (...)OD TIBI / MONSTRATVM EST / (...)CAP.". 

 


 

Fontes consultadas: 

- COSTA, Padre António Carvalho da (1706) - Corografia Portuguesa, tomo I, Valentim da Costa Deslandes, Lisboa. 

- DANTAS, Júlio (1936) - Viagens em Espanha. Livraria Bertrand, Lisboa. 

Sem comentários:

Enviar um comentário