domingo, 21 de maio de 2023

A capela de Santo André (São Paio - Melgaço): algumas notas sobre a sua História

 



A construção de uma primitiva capela de Santo André na freguesia de São Paio remonta há quase 500 anos. Como demonstraremos mais à frente, essa primitiva capela ficava no lugar do Paço. A atual capela foi construída em meados do século XVIII, e deve ter ficado terminada por volta de 1746.

O lugar onde a atual capela se encontra é chamado de Santo André, devido à própria presença da ermida dedicada ao apóstolo. Antes de meados do século XVIII, este lugar era conhecido como o Pinheiro, topónimo que, ao longo do tempo, caiu em desuso de forma progressiva.  

Aos senhores do Paço de Rouças, cujo solar se situava no lugar do Paço, se deve a construção de uma primitiva capela de Santo André, em São Paio. Não nos referimos à atual capela, mas sim a uma outra e anterior ermida que foi construída não no sítio onde a podemos ver atualmente, mas sim no lugar do Paço desta freguesia. Tal informação fomos encontrá-la num documento redigido em 4 de Agosto de 1687 e outros que à frente apresentamos. Na dita escritura, o sacerdote visitador, um tal Doutor Cristovão da Costa Rosa, veio pessoalmente à igreja de São Paio, e escreveu que “Por constar que a capela de Santo André tem fábrica como consta de huma licença que deu o Senhor Dom Frei Bartolomeu dos Mártires, arcebispo que fora de Braga para que se dissesse a missa nela e por huma certidão que deu o Reverendo Gonçalo Pereira, abade desta igreja, tirada do livro dos batizados de uma obrigação que Belchior de Castro e sua mulher fez de uma vinha sita à Cruz de São Gião, à ermida de Santo André, mando que seja notificado o possuidor ou possuidores della para que fabrique a dita capella de todo o necessário o que farão até dia de Páscoa de flores para vindoura, e não satisfazendo no dito tempo, o Reverendo pároco proceda contra elles até de participantes...” Assim, tendo em conta que Dom Frei Bartolomeu dos Mártires foi arcebispo de Braga desde 1559 a 1580 e que neste tempo também terá vivido Belchior de Castro no Paço de Rouças, podemos assim situar a origem da primeira e primitiva capela de Santo André, no lugar do Paço, ainda na segunda metade do século XVI, naquela janela temporal.  

Por fim, um documento redigido em 1719, atesta-nos que a capela antiga ainda existia nessa época e continuava situada no lugar do Paço. É neste lugar que a situa o Doutor Manuel Pinheiro Ramos, sacerdote visitador quando escreve, no seu relatório de 29 de Agosto desse ano: “Consta-me que a capela de Santo André sita no lugar do Passo está indecente...” Mas vamos aprofundar melhor acerca do delicado estado da capela primitiva de Santo André pelo ano de 1720: “Não se tem dados satisfação ao mandado fazer na capela de Santo André sendo tão preciso por falta de diligência dos oficiais desta igreja a eles compete o referido visto ser a freguesia obrigada à fábrica de tal capela, portanto mando que os ditos oficiais façam concluir as ditas obras em termo de três meses (…) e o reverendo pároco mande à custa dos ditos oficiais fechar de pedra e cal as portas da dita capela (…) a capela verifica-se que no ano anterior estava indecente e à freguesia competia reformá-la de madeiramento, forro revoques e apinsellar, portas seguras e fechadas, altar e retábulo o que farão querendo usar de tal capela, (…) o reverendo pároco logo que lhe constar que os fregueses não queiram fazer a tal obra, mande ir para a igreja a imagem [de Santo André] estando capaz e decente, não estando aliás se enterra na mesma capela na forma do Ritual Romano que o juiz e mais oficiais da igreja mandem logo tapar a porta da dita capela de pedra e cal”. Daqui concluímos que a capela ameaçaria ruína e a prática da Igreja na época era que ou as comunidades zelavam pela manutenção das capelas ou então as obrigava a demolir as mesmas. 

Apesar de tudo, em 16 de Novembro de 1720, é registada uma provisão a favor dos oficiais e confrades da Confraria de Nossa Senhora dos Remédios, do lugar de Santo André, desta freguesia, para que na dita capela se colocassem dois confessionários. Não encontramos base documental para comprovar se os mesmos foram mesmo instalados na capela. 

Em 1744, a capela de Santo André ainda existia no lugar do Paço, apesar de estar em muito mau estado e da recomendação de transferir a imagem do apóstolo. O padre visitador, nesse ano, recomendava que “... Os oficiais do apóstolo Santo André e da igreja, alcançando a licença para mudarem a capela do mesmo Santo para sítio conveniente, (…) que o façam com toda a perfeição e segurança sob pena que não assistindo serem condenados na primeira visita.” Tal recomendação devia-se, sem dúvida, ao estado de avançada degradação da capela. 

Todavia, em 1729, temos indícios de que haveria disponibilidade para recuperar esta capela e evitar a sua ruína. De facto, o doutor Manuel Malheiro Marinho, Comissário do Santo Ofício deixou disso uma prova na sua visita à capela de 17 de Julho de 1729: “Consta-me que para a reedificação da imagem de Santo André estão prometidas várias esmolas cujo rol se acha na mão de Inácio Lopes o qual cobrarão o que está prometido e mandaram reformar o Santo a beneplácito do Reverendo abade e com sua direção para o que dará o rol dos devedores para contra eles proceder até de participantes e pagando os admita e absolva... 

Segundo Esteves (1989), a capelinha de Santo André nos primeiros tempos era uma ermida pobre e térrea e os moradores dos lugares mais vizinhos não teriam o interesse preciso para a engrandecer. Assim o dá saber uma lembrança encontrada no espólio do capitão Inácio Pinheiro São Paio que era um devoto do Santo... “ajustei com Diogo Rodrigues de Barata que havia de quebrar pedra para ladrilhar a capela do apóstolo Santo André, e assentar a mesma pedra ou ladrilho muito bem feito de sorte que fica o ladrilho mais alto à porta trabessa e mais suave com o degrau do altar, certo com a condição de que os moradores dos lugares vizinhos haviam de carretar a pedra e pô-la junto da capela. Porém, como estes repugnaram o carreto, não tem sido efetivo a obra de assentar a pedra e paguei ao mesmo 2400 réis pelo trabalho de a quebrar, e visto que não teve trabalho de assentar, não mereceu outro tanto na forma de ajuste por ser certo que não usou de cunha e marra nem de picos para meter a pedra em perfeição (…) 

Esta é a última notícia documentada da antiga capela de Santo André do lugar do Paço. Temos conhecimento que em 5 de Julho de 1745, foi registada uma provisão a favor de Domingos Gomes, na época abade de São Paio, para se edificar uma nova capela no lugar da antiga. Esta capela viria a ficar concluída por volta de 1746, cerca de um ano depois. De facto, em 20 de Julho desse ano, fica registada uma petição e provisão que se passou a favor do Reverendo Domingos Gomes, Abade de São Paio, para se benzer o altar e capela do Apostolo Santo André da sua freguesia, pelo que estaria pronta para que nela se dissesse missa. 

Em 2 de Setembro de 1754, pelo que se lê no capítulo do visitador Doutor Marcelino Cleto, abade de São Miguel de Ambos-os-Rios, já não se refere à capela do lugar do Paço mas antes cita o seguinte: “a capela de Santo André que está edificada no lugar a que o mesmo Santo deu o nome necessita de um caixão para os ornamentos e que se pinte o retábulo”. Pelo reparo do visitador, vê-se que a capela no seu novo sítio ainda não estava totalmente acabada e o local tinha outro nome (Santo André). Contudo, no manuscrito das Memórias Paroquiais, em 1758, o Padre Domingos Gomes refere-a à ermida de Santo André e situa-a no dito lugar do Pinheiro, sendo o seu administrador o próprio pároco da freguesia. Estamos numa época em que este lugar era chamado, ora de Pinheiro, seu nome antigo, ora Santo André, topónimo que prevaleceu até aos dias de hoje. 

Segundo ESTEVES (1989), nos séculos XVIII e XIX, parece que esta ermida não tinha o abandono de outros tempos nem as carências que o decorrer dos tempos ocasionou. Em tempos posteriores, a capela de Santo André foi aumentada, muito bem preparada e adornada.  

Sabemos que há mais de cem anos, em 1913, esta capela tinha “uma sineta, um altar, cinco imagens e adro com uma árvore”. 

Em meados do século XX, a festa de Santo André costumava ser a maior de toda a freguesia, num tempo em que ainda nem sequer se festejava a Nossa Senhora de Fátima em todos os verões na igreja da freguesia... 

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