A designada Colónia Penal de Cabo Verde, no Tarrafal, para presos políticos foi criada pelo decreto-lei n.º 26 539, de 23 de Abril de 1936. Trata-se de um dos maiores símbolos da repressão do Estado Novo contra opositores políticos ao regime.
Vários foram os melgacenses que passaram pelo Tarrafal, sobretudo nas décadas de trinta e início da de quarenta do século passado. Estávamos numa época em que Salazar e Franco tinham estabelecido um plano de cooperação na sua atuação repressiva contra opositores aos regimes ibéricos. Assim, as autoridades portuguesas comprometiam-se a entregar a Espanha todos os opositores políticos ao franquismo que por cá capturasse e o país vizinho procederia da mesma forma, entregando todos os opositores ao Estado Novo capturados em território espanhol. Assim, alguns deles foram lá detidos e entregues às autoridades lusas.
No que toca aos naturais de Melgaço, são quase todos conotados com a militância em movimentos de esquerda de oposição ao franquismo em Espanha. Mas vejamos com algum detalhe as suas biografias:
Vitorino Domingues
Vitorino Domingues nasceu em 4 de Março de 1888, em Castro Laboreiro, Melgaço. Morador à época em Várzea Travessa, foi entregue pela Comarca de Melgaço à Delegação do Porto da Polícia de Vigilância do Estado em 12 de Julho de 1940, ficando à disposição do TME. Foi condenado, em 20 de Agosto de 1940, a 8 anos de degredo, «pena esta que substitui a pena de prisão correcional imposta no cível», «por ser detentor de um revolver de calibre 9 mm, arma proibida por lei, e com o qual no dia 3-05-1939 fez uso, disparando-o contra o seu irmão Manuel José Domingues, a quem causou ferimentos». Foi transferido, em 10 de Novembro de 1940, para Caxias, e embarcou, no dia seguinte, para o Tarrafal, fazendo parte daqueles deportados que não eram politizados, nem integravam nenhuma das organizações criadas por afinidades ideológicas, tendo sido enviados para o Campo por possuírem, apenas, armas proibidas. Foi abrangido pela amnistia de 18 de Outubro de 1945 e regressou em 1 de Fevereiro de 1946, saindo em liberdade.
Artur Esteves nasceu em 21 de Março de 1904, na freguesia de Chaviães, em Melgaço. Sendo cesteiro de profissão, e estando a residir e a trabalhar em Espanha, foi preso no posto fronteiriço do Peso, Melgaço, em 7 de Setembro de 1936, entregue pelas autoridades espanholas que o detiveram e o expulsaram por estar indocumentado, e «ter tomado parte ativa, ao lado dos comunistas, nos recentes acontecimentos revolucionários do País vizinho» e ser filiado no Partido Comunista Espanhol. Levado para a cadeia da Comarca de Melgaço, seria transferido, no dia seguinte, para Valença e, depois, no dia 9, para a Delegação do Porto da PVDE. Foi enviado, em 15 de Outubro de 1936, para a prisão de Caxias, Reduto Norte, e embarcou, em 17 de Outubro de 1936, para o Tarrafal, sem sequer ter sido julgado. Regressou em 8 de Fevereiro de 1940 e saiu em liberdade. No entanto, foi detido novamente, em 12 de Outubro de 1942, no posto fronteiriço de Valença, entregue pelas autoridades espanholas e acusado de emigração clandestina. Levado para a cadeia da Comarca, passou, em 26 de outubro de 1942, para a jurisdição do Tribunal da Comarca de Melgaço. Quando foi libertado, declarou que ia residir no lugar da Bouça, Chaviães.
Luís Rebelo
Luís Rebelo nasceu em 8 de Novembro de 1909, na freguesia de São Paio, Melgaço. Era pedreiro de profissão e foi preso pela Guarda Fiscal na fronteira de Peso (Melgaço) em 2 de Setembro de 1936 e entregue no respetivo Posto da PVDE, «sob a acusação de ter atravessado clandestinamente a fronteira», «suspeita de ter tomado parte, como comunista, no movimento revolucionário do País vizinho» e estar indocumentado. Levado para a cadeia da Comarca de Melgaço, seria transferido, no dia seguinte, para Valença e, depois, em 5 de Setembro de 1936, para a Delegação do Porto da PVDE. Entrou, em 15 de Outubro de 1936, em Caxias e, dois dias depois, embarcou para o Tarrafal, sem sequer ter sido julgado. Regressou em 8 de Fevereiro de 1940 e saiu em liberdade, tendo declarado que ia residir no lugar do Cruzeiro, freguesia de São Paio.