Inscrição na Igreja do Mosteiro de Paderne (Melgaço)
Leitura:
OBIIT : R : GARSIE :
MEnSE : DeCemBeR I / Era : Ma : CCa : 2XXXXa : /
ILP : G[il]BE(r)TO (?) : FECIT
Inscrição
funerária de Rodrigo ou Rui Garcia, gravada em dois silhares da face exterior
da parede Norte da nave da Igreja de Paderne, na quinta fiada de pedras, antes
do primeiro contraforte.
Tanto quanto
sabemos, a insc. funerária de R. Garcia foi publicada uma única vez, por Carlos
Alberto Ferreira de Almeida. Este autor apresentou uma versão um pouco divergente
da nossa, registando:
"... na
parede exterior da nave virada para este recanto (...) temos uma importante
inscrição obituária, a qual nos diz que «No Mês de Dezembro de 1255 morreu R.
Garcia, que fez este templo». Como este nome parece não ser o do prior desse
tempo, é possível que aluda ao mestre da obra." (ALMEIDA C.A.F.
1986(b), p. 55).
As nossas
divergências concentram-se, como se pode verificar, apenas na interpretação da
última regra do primeiro silhar, depois dos numerais relativos à Era. Carlos A.
Ferreira de Almeida entende que se trata de uma referência à iniciativa de R.
Garcia enquanto construtor ou encomendador da Igreja monástica, enquanto que
nos parece que a referência - G[il]BE(r)TO FECIT, na nossa interpretação - se
deverá relacionar antes com o autor da epígrafe: o seu redactor ou o seu
lapicida.
A inscrição
funerária de R. Garcia apresenta, no seu conjunto, uma deficiente qualidade
paleográfica. Sublinhemos que a inscrição foi gravada depois de os silhares se
encontrarem na actual posição. Isso é provado pela sequência do epitáfio, com a
primeira regra a ocupar dois silhares (embora no segundo apenas os primeiros 86 cm ) e as restantes
dispostas apenas no primeiro silhar. Ambos os silhares já apresentavam gravadas
as respectivas siglas de pedreiro. No primeiro silhar, a sigla encontra-se
sobre o primeiro C da Era, podendo passar algo despercebida. Na segunda pedra
encontra-se por baixo do S de MEnSE, sendo bem evidente. Em ambos os casos a
sigla é constituída por uma pequena espiral, um sinal que aparece
abundantemente representada noutras zonas do monumento. Por baixo do primeiro
silhar, encontra-se gravada uma cruz e quatro símbolos ou letras isoladas, de
difícil compreensão. É possível que nada tenham a ver com a inscrição funerária
de R. Garcia. Temos dúvidas quanto à leitura da parte terminal da inscrição
quando se regista o nome do escriba/redactor ou do autor material do epitáfio.
Conseguimos ler, sem dificuldade, o G (semelhante ao de GARSIE, na primeira
regra) e, depois de pequeno espaço desgastado, as letras BETO com pequeno traço
sobre o O, um sinal universal de abreviatura que suscita dificuldades de
desdobramento. Propomos G[il]BE(r)TO mas temos algumas dúvidas.
O Mosteiro de S. Salvador de Paderne recebeu Carta de
Couto das mãos de D. Afonso Henriques, em 16 de Abril de 1141, em sinal de
reconhecimento pelo auxílio prestado por D. Elvira Sarracins "... quando
tomavit dominus rex castellum de Labo-rario ...". Começou por ser
mosteiro beneditino feminino, tendo mudado, antes de 1225, para os Cónegos
Regrantes. A inscrição corresponde, portanto, já à segunda fase desta
instituição monástica.
Extraído de:
- BARROCA, Mário Jorge (2000) - Epigrafia Medieval Portuguesa - (862-1422), vol. II, CORPUS EPIGRAFICO MEDIEVAL PORTUGUÊS. Fundação Calouste Gulbenkian, Fundação para a Ciência e a Tecnologia, Porto.
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