sábado, 5 de janeiro de 2013

O significado de inscrições em monumentos melgacenses IV

Inscrição na Igreja do Mosteiro de Paderne (Melgaço)


Inscrição gravada em silhares em granito.

Leitura:
OBIIT : R : GARSIE : MEnSE : DeCemBeR I / Era : Ma : CCa : 2XXXXa : / ILP : G[il]BE(r)TO (?) : FECIT
Inscrição funerária de Rodrigo ou Rui Garcia, gravada em dois silhares da face exterior da parede Norte da nave da Igreja de Paderne, na quinta fiada de pedras, antes do primeiro contraforte.
Tanto quanto sabemos, a insc. funerária de R. Garcia foi publicada uma única vez, por Carlos Alberto Ferreira de Almeida. Este autor apresentou uma versão um pouco divergente da nossa, registando:
"... na parede exterior da nave virada para este recanto (...) temos uma importante inscrição obituária, a qual nos diz que «No Mês de Dezembro de 1255 morreu R. Garcia, que fez este templo». Como este nome parece não ser o do prior desse tempo, é possível que aluda ao mestre da obra." (ALMEIDA C.A.F. 1986(b), p. 55).
As nossas divergências concentram-se, como se pode verificar, apenas na interpretação da última regra do primeiro silhar, depois dos numerais relativos à Era. Carlos A. Ferreira de Almeida entende que se trata de uma referência à iniciativa de R. Garcia enquanto construtor ou encomendador da Igreja monástica, enquanto que nos parece que a referência - G[il]BE(r)TO FECIT, na nossa interpretação - se deverá relacionar antes com o autor da epígrafe: o seu redactor ou o seu lapicida.
A inscrição funerária de R. Garcia apresenta, no seu conjunto, uma deficiente qualidade paleográfica. Sublinhemos que a inscrição foi gravada depois de os silhares se encontrarem na actual posição. Isso é provado pela sequência do epitáfio, com a primeira regra a ocupar dois silhares (embora no segundo apenas os primeiros 86 cm) e as restantes dispostas apenas no primeiro silhar. Ambos os silhares já apresentavam gravadas as respectivas siglas de pedreiro. No primeiro silhar, a sigla encontra-se sobre o primeiro C da Era, podendo passar algo despercebida. Na segunda pedra encontra-se por baixo do S de MEnSE, sendo bem evidente. Em ambos os casos a sigla é constituída por uma pequena espiral, um sinal que aparece abundantemente representada noutras zonas do monumento. Por baixo do primeiro silhar, encontra-se gravada uma cruz e quatro símbolos ou letras isoladas, de difícil compreensão. É possível que nada tenham a ver com a inscrição funerária de R. Garcia. Temos dúvidas quanto à leitura da parte terminal da inscrição quando se regista o nome do escriba/redactor ou do autor material do epitáfio. Conseguimos ler, sem dificuldade, o G (semelhante ao de GARSIE, na primeira regra) e, depois de pequeno espaço desgastado, as letras BETO com pequeno traço sobre o O, um sinal universal de abreviatura que suscita dificuldades de desdobramento. Propomos G[il]BE(r)TO mas temos algumas dúvidas.
O Mosteiro de S. Salvador de Paderne recebeu Carta de Couto das mãos de D. Afonso Henriques, em 16 de Abril de 1141, em sinal de reconhecimento pelo auxílio prestado por D. Elvira Sarracins "... quando tomavit dominus rex castellum de Labo-rario ...". Começou por ser mosteiro beneditino feminino, tendo mudado, antes de 1225, para os Cónegos Regrantes. A inscrição corresponde, portanto, já à segunda fase desta instituição monástica.


Extraído de:
- BARROCA, Mário Jorge (2000) - Epigrafia Medieval Portuguesa - (862-1422), vol. II, CORPUS EPIGRAFICO MEDIEVAL PORTUGUÊS. Fundação Calouste Gulbenkian, Fundação para a Ciência e a Tecnologia, Porto.


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