sexta-feira, 6 de junho de 2014

O edifício do antigo Hospital da Misericórdia de Melgaço: referências históricas

Edifício do antigo Hospital da Misericórdia de Melgaço

Em 1860, o Provedor Frei António Joaquim de Santa Isabel Monteiro teve a ideia de construir um hospital, nomeando-se uma comissão composta por cinco elementos para fazer cumprir e custear as despesas. A ideia foi, no entanto, abandonada.
Mais tarde, em 1863, o Frei António voltou à carga e reuniu a Mesa com o objectivo de fixar as jóias a pagar pelos irmãos aquando da sua entrada na confraria e também para que fosse escolhida uma comissão executiva a favor do projectado hospital. Em 1864, a 12 Março, é conhecida essa comissão, sendo provedor José Cândido Gomes de Abreu, comerciante da terra, com grande espírito empreendedor, que logo começou a advogar a construção do hospital escrevendo a amigos, conhecidos, deputados do Círculo e a todos os que pudessem apoiar a causa.
Em 1867, o Governador Civil de Viana do Castelo envia alvará ao administrador do concelho de Melgaço autorizando a Misericórdia a incluir no seu orçamento 10% das receitas para a construção e manutenção do hospital, devendo também reorganizar e reforçar a comissão. Era ainda pedida uma relação dos donativos até então oferecidos e das contas da Santa Casa. Em 1872, a 3 Abril, o Provedor José Cândido propôs aos irmãos da Mesa um voto de louvor ao "Exmº Snr. António Correia Caldeira, representante do Círculo de eleitores por en catorze de março findo ter representado na Câmara dos Senhores Deputados da Nação um projecto de lei para à Misericórdia ser concedido gratuitamente um terreno pertencente ao Ministério da Guerra para nele se construir o Hospital da Caridade.
Em 1873, a 16 Julho, concretiza-se a assinatura da escritura de doação do terreno no interior da praça da vila pelo Ministério da Guerra. Em 1874, a fim de obter fundos para as obras, José Cândido levou os irmãos a reduzirem o número de missas fixado para os sufrágios pelos irmãos falecidos. Em 1875, inicia-se a construção do hospital, sendo Provedor José Cândido Gomes d'Abreu. Na cartela alusiva ao início da construção da fachada lateral direita lê-se:

"FOI LANÇADA A PRIMEIRA PEDRA PARA ESTE EDIFÍCIO EM (?) DE FEVEREIRO DE 1876, SENDO PROVEDOR DA MISERICORDIA JOSE CANDIDO GOMES D'ABREU."

Como a enfermagem era exercida por religiosos, o Pe. Francisco Castro, natural da freguesia de São Paio e abade de Riba do Mouro, pediu ao provedor para mandar fazer dentro do hospital uma capelinha privativa para o pessoal e doentes internos, pagando ele todas as despesas da obra. Devido a este gesto foi nomeado irmão da Confraria em 2 Janeiro 1893, ficando isento do pagamento da jóia de entrada. Em 1892, a 16 Outubro, é feita a inauguração do Hospital da Caridade, com mais de 300 pessoas de todo o concelho e vizinhos percorrendo demoradamente as enfermarias e outras dependências.
Em 1893, a 16 Abril, é inaugurada a capela, com celebração da primeira missa pelas 6H00 da manhã. Mais tarde, em 1944, em Outubro, as freiras que prestavam serviço no hospital queixavam-se à Mesa de não terem a assistência religiosa estabelecida no contrato. Para atender à reclamação, estabeleceu-se um contrato com o novo capelão Pe. Justino Domingues para que, além das missas que alternadamente eram celebradas na Igreja da Misericórdia e no Convento, fosse também dita na capela do hospital missa num dos dias da semana, pagando-se o vencimento de 1.200$000 anuais divididos em quatro prestações. Ficava ainda responsável pelas cerimónias da Semana Santa e a Festa de Nossa Senhora da Misericórdia. Por essa altura, é feita a inauguração da enfermaria de partos.
Por volta de 1944 ou 1945, é feita a realização da primeira e segunda Festa de Oferendas para a Santa Casa, tendo-se comprado roupas, louças, móveis, utensílios, aparelho de radiotermia e raios ultra-violetas.
Em 1948, a 10 Outubro, é feita inauguração das instalações de Raio X, oferecidas por um grupo de amigos da Misericórdia residentes no Brasil. Em 1949, é criada uma enfermaria para tuberculosos. Em 1954, a Misericórdia celebra acordo com Instituto de Assistência Nacional aos Tuberculosos com o objectivo de criar em Melgaço uma "consulta dispensário", a fim de poder dar apoio médico aos tuberculosos. Em 1960, é feita a compra de ambulância, a primeira em Melgaço. Em 1961, tendo deixado de haver internamento de tuberculosos na Quinta de Eiró, os idosos passam do edifício do Hospital para aquela quinta. Nesta data, o hospital tinha apenas três médicos. Em 1962, no mês de Setembro, é publicada uma circular da comissão Inter-Hospitalar do Porto informando que o Instituto da Assistência à Família iria fornecer insulina, seringas e o pagamento da aplicação de injecções aos diabetes mais necessitados e ainda um subsídio para a sopa dos pobres.
Em 1975, após nacionalização dos bens, a Misericórdia perde o hospital. 

Informações recolhidas em:
- ESTEVES, Augusto César (2003) Obras Completas, vol. 1, tomo 1, Melgaço;
- ROCHA, J. Marques (1993), Melgaço de ontem e de hoje, Braga, 1993;
- Melgaço, Revista Municipal, nº 35, Abril 2005.
- www. monumentos.pt.

1 comentário:

  1. Obrigado amigo Valter. E um belo Édificio carregado com grande valor sentimental para mim. Tudo terminou bem para os meus antepassados naquel verao 1938 ( guerra civil en Galiza), gracas a acciôn conjunta de Portugal é a Franca que entregou os visas FR .gracas a todos eles."N'oubliez jamais" nunca se esquec'a.

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