Em 5 de Outubro de 1910 era implantada a República em
Portugal substituindo a Monarquia. Contudo, a transição para o novo regime não seria pacífica.
Existia uma falange de apoio ao regime monárquico que iriam organizar a
resistência contra a República. Chefiados pelo General Paiva Couceiro, as
forças realistas iriam-se refugiar nas montanhas do norte do país e na Galiza e o ambiente nas fronteiras de Melgaço era tenso na época. Existiam rumores que se estaria a organizar uma invasão a partir de vários pontos da fronteira norte portuguesa, com o objetivo de voltar a implantar a monarquia.
Na realidade, pouco mais de seis meses depois da implantação da
República, fala-se nos jornais no Brasil que estes combatentes estariam algures
nas montanhas de Castro Laboreiro e na serra da Peneda. Tal informação é
reiterada no jornal “O Pharol”, na sua edição de 28 de abril de 1911:
“Pelas mais recentes notícias do norte, sabe-se que as
forças realistas que haviam tomado posição no ponto mais alto da serra da
Peneda e em S. Gregório, marcharam para sul, fazendo o trajeto pelos pontos
mais elevados da serra, vindo acampar nas vizinhanças de Castro Laboreiro, província
do Minho, a poucos quilómetros da fronteira com a província espanhola de
Orense.
Dizem os conhecedores daquela região que a posição das
forças realistas tem grandes vantagens estratégicas mas poucos materiais para
ser sustentada por muito tempo.”
Como se vê, a notícia diz-nos que existiriam combatentes
monárquicos a acampar nas proximidades de Castro Laboreiro. Uma outra notícia
da época que encontrei no jornal, também brasileiro, “Correio da Manhã”, na sua
edição de 25 e Outubro de 1911, fala-nos de um acampamento de soldados
monárquicos que estariam estacionados nas ruínas do castelo de Castro
Laboreiro:
“Portugal em
plena revolução
Uma coluna de
realistas apossou-se do castelo de Castro Laboreiro, no Minho
Telegrama recebido ontem de Lisboa diz que um grupo de
forças realistas está acampado nas proximidades de Castro Laboreiro em
magnífico ponto estratégico que está a 15 quilómetros de
Melgaço, e a vila fica situada em um alto. Próximo à vila, há um castelo muito
antigo edificado sobre uma rocha de dificílimo acesso à distância de 400
metros. Esta rocha já é um castelo natural. É um gigante coroado de pedra de
cantaria. É inacessível e seria inexpugnável, se não fora uma espécie de istmo
muito estreito que a põe em comunicação, embora bem dificilmente, com o
exterior.
Referindo-se ao castelo, diz um cronista: “Os muros são
baixos, parecendo presidir à sua construção mais o agradável do que as
necessidades da guerra. Tem duas portas, uma para o sul e outra para o norte.
Por aquele, dizem que outrora, ainda que arriscadamente, se podia entrar a
cavalo. Para a do norte, que dá para o tal istmo de rocha viva, custa a ir de
gatas, porque sendo esta rocha tão inclinada e resvaladia, foi preciso
abrir-lhes a peão uns toscos e estreitos degraus para subir por eles.
Ma o perigo não está ali, está no chegar à tal porta, ou
antes fresta, pois que é tão estreita que pouco passará de 60 centímetros.
Ainda o visitante vai arrepiado do perigo que venceu, mas
na esperança de recuperar a serenidade, quando um novo susto, porém mais
horrível, mais sem nome, se apodera dele. Destaca-se-lhe à direita um penedo,
que terá, quando muito, três metros de alto, ali posto pela natureza, de figura
rigorosamente cónica, o que fica mesmo fronteiro à porta e a tão pouca
distância que qualquer homem em outro sítio que não fosse este, a poderia
salvar de um salto, mas aqui está a morte!
É um abismo profundíssimo que terá aproximadamente 350 a
400 metros que é a distância que tem de percorrer o ousado curioso se
porventura tiver a infelicidade de se lhe escorregar um pé ou de se assustar”.
Tal é local onde atualmente se encontra uma das colunas
do exército de Paiva Couceiro. Muito se tem falado das forças de Paiva
Couceiro, dizendo uns que ele apenas tem um exército de maltrapilhos, composto
por algumas centenas de assalariados, levando outros os seus cálculos a alguns
milhares de soldados.”
Vem por isso a propósito transcrever o “Diário de
Notícias” de Lisboa: “O Faro de Vigo” tráz notícias importantes relativas às
forças de Paiva Couceiro, dizendo que se compõem de duas divisões, uma de 2000
homens, comandados por Paiva Couceiro, com 12 peças de artilharia e uma outra
de 1800 homens, com quatro peças e quatro metralhadoras.
Estas forças dividem-se em batalhões de 300 homens com
oficiais e sargentos, médico, farmacêutico e capelão. Os soldados são todos
portugueses, não querendo Paiva Couceiro aceitar os muitos oferecimentos de
gente estrangeira”.
As informações, quanto à dimensão do exército de Paiva
Couceiro, não são muito claras. No artigo “Governo de Pimenta de Castro -
Um General no Labirinto da I República”, de Bruno Marçal, diz-se que na realidade,
este suposto exército não chegava a mil homens.
Paiva Couceiro só seria preso em 1938 em Arbo, quando ia
passar a fronteira rumo a Melgaço.
Fontes consultadas:
- Jornal “Correio da Manhã”, edição de 25 e Outubro de
1911;
- Jornal “O Pharol”, na sua edição de 28 de abril de 1911;
- MARÇAL, Bruno José Navarro - (2010) - Governo
de Pimenta de Castro - Um General no Labirinto da I República.
Universidade de LIsboa, Faculdade de Letras, Departamento de História.
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