Nos tempos a seguir à implantação da República, o ambiente nas fronteiras de Melgaço é muito tenso. Fala-se da presença de guerrilheiros portugueses afetos à causa monárquica refugiados na Galiza. Estes estariam a preparar uma incursão em Portugal com o objetivo de voltar a implantar a monarquia. No meio destes acontecimentos, um grupo de monárquicos assaltou o posto da Guarda Fiscal da Ameixoeira (Castro Laboreiro) roubando armamento e munições e fugiram de seguida para Espanha. Supostamente, na sequência deste episódio, o professor de instrução primária da escola de Castro Laboreiro, Mathias de Souza Lobato, mais conhecido como o ”Leão das Montanhas” é acusado de ter exibido uma bandeira monárquica e logo é preso e suspenso da profissão docente.
Encontramos
em imprensa da época, notícias que nos contam estes factos. No Jornal do Brasil, na sua edição de 30 de
Abril de 1912, fala-nos do assalto ao posto da Ameixoeira nestes termos: “Comunicam
de Monção que uma guerrilha de conspiradores portugueses assaltou o posto
fiscal de Ameixoeira, em Castro Laboreiro. Perseguida pelas forças
republicanas, a guerrilha internou-se em Espanha.”
No
mesmo jornal, na sua edição do dia seguinte, 1 de Maio de 1912, fala-nos com
mais pormenor destes factos:
“A
situação em Portugal
Os
monárquicos fazem uma incursão e apoderam-se de grande material de guerra dos
republicanos. Os monárquicos emigrados na Espanha fizeram agora uma incursão que
tem sido motivo para muitíssimos boatos.
O
Capitão Conceição Mascarenhas e o Coronel Almeida Fragoso, das forças
republicanas que estavam na Ameixoeira comunicaram ao Governo que cinquenta
conspiradores assaltaram o posto fiscal da Ameixoera, carregando todo o
material de guerra que encontraram e que um professor arvorou a bandeira
monárquica.
Desse
ponto da fronteira chegam certas notícias importantes sobre esta sortida dos
monárquicos cuja ousadia está sendo muito comentada.
O
Ministro da Guerra, entrevistado por um redator de “A Capital”, sobre a invasão
feita pelos monárquicos, que levaram todo o material de guerra que encontraram
em Ameixoeira, sem que a força ali destacada pudesse impedir ou resistir com
energia ao assalto, declarou que tal tentativa não tinha importância e que
atribuia esse assalto ao posto fiscal a um pretexto para distrair a atenção das
forças republicanas de qualquer golpe que os monárquicos pensam dar.
Acrescentou
o Ministro que as últimas notícias recebidas da fronteira dizem haver ali
completo sossego.
Foi
preso o Comendador Mathias Lobato, professor oficial, por ser acusado de estar
conivente com a incursão dos monárquiscos na Ameixoeira. O Comendador Lobato
reside em Castro Laboreiro.”
Como
atrás é referido, além de ser preso o ilustre professor de instrução primária
da escola de Castro Laboreiro, Mathias Lobato, foi suspenso da sua atividade
docente por despacho publicado no Diário do Governo em 2 de Maio de 1912 como
aqui se comprova:
(extrato
do Diário de Governo de 2 de Maio de 1912)
Contudo,
este episódio que envolve o professor Mathias parece tratar-se apenas de uma
falsa acusação num tempo de desenfreada guerrilha política. Desta forma, no
Diário do Governo de 17 de Maio de 1912, é publicado o levantamento da suspensão
sendo o professor ressarcido de todos os vencimentos cativados.
(extrato
do Diário do Governo de 17 de Maio de 1912)
O
levantamento da suspensão ao Comendador Mathias Lobato seria noticiado também
na imprensa. O jornal brasileiro “O Paiz”, na sua edição de 6 de Junho de 1912
conta-nos que “O professor de Castro Laboreiro, o célebre Mathias, sempre
estava inocente, como “O Século” o disse pela boca de um seu correspondente.
Dessa inocência também se inteirou o Governo que lhe levantou a suspensão e lhe
mandou abonar os dias em que esteve suspenso.”
O
professor Mathias era, provavelmente, a pessoa mais respeitada em Castro
Laboreiro na época mas tinha atividade política e como tal muitos inimigos. Se
lermos os jornal melgacenses da época, poderemos compreender que esta época são
tempos de intensas lutas políticas mesmo em meios como Melgaço. Valia tudo!... Até intoxicar a imprensa com factos alternativos...
Fontes
consultadas:
-
Diário do Governo, de 1 de Maio de 1912;
-
Diário do Governo, de 17 de Maio de 1912:
-
Jornal “O Paiz”, edição de 6 de Junho de 1912;
-
Jornal “Jornal do Brasil”, edição de 30 de Abril de 1912;
-
Jornal “Jornal de Brasil”, edição de 1 de Maio de 1912.
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