Neste
ano, assinala-se o primeiro centenário do fim da Primeira Guerra Mundial. O
blogue vai, nas próximas semanas, prestar uma merecida homenagem aos homens de
Melgaço que tomaram parte neste conflito que mudou o rumo da História.
Depois
das declarações de guerra mútuas entre Portugal e a Alemanha, a partir de 1916,
o nosso país procedeu à mobilização maciça de jovens do sexo masculino.
Foram
afixados editais de grandes dimensão nas portas dos edifícios públicos, nas
câmaras municipais, praças publicas, etc., indicando os locais e as datas para
apresentação dos homens, nas respectivas unidades mobilizadoras. Muitos
destes homens, recrutados nas diferentes terras portuguesas de norte a sul do
país, não tinham noção do que era uma guerra, muitos deles mal sabiam ler e
escrever, muitos nunca tinham saído das suas aldeias.
De
Melgaço, saíram a partir de 1917 em direção à frente de guerra na Flandres
francesa, segundo os dados de que disponho, 72 soldados oriundos de diversas
freguesias. Umas das freguesias do nosso concelho de onde saíram mais
combatentes foi a de São Tiago de Penso. Daqui, eram naturais 11 soldados, 8 dos
quais pertenciam à famosa Brigada do Minho (4ª Brigada de Infantaria do C.E.P).
Esta Brigada era formada pelos Batalhões de Infantaria nº 3 (Viana do Castelo),
nº 8 e 29 (Braga) e nº 20 (Guimarães) que se encontrava sediada em Levantie
(França) e controlava o setor de Fauquissart na frente de guerra.
Dos
11 que partiram para a guerra, apenas o soldado Simplício de Lima faleceu em
França, já depois do fim do conflito, vítima de uma Bacilose Pulmonar no dia 18
de Dezembro de 1918 no Hospital da Base.
Os
restantes sobreviveram à guerra. Todavia, o soldado António Fernandes, natural
do lugar de Ranhol (Penso), que combateu na Batalha de La Lys, foi dado como
desaparecido em combate depois da batalha. Alguns meses depois, por comunicação
da Comissão dos Prisioneiros de Guerra, soube-se que o soldado António
Fernandes tinha sido feito prisioneiro de guerra pelos alemães durante as
hostilidades e que tinha sido levado para o Campo de Prisioneiros de Münster II,
no norte da Alemanha, tendo regressado a Portugal em Fevereiro de 1919.
Quem
foram os soldados oriundos da freguesia de Penso que estiveram neste conflito
horrendo? Vamos lembrar estes homens…
A
quantidade de informações que consegui reunir não é muito abundante mas permite
conhecer um pouco do percurso militar de cada um destes durante a guerra.
Eles
foram:
1 - António Fernandes, 2º
Cabo do 2º Grupo de Baterias de Artilharia (1ª Bateria). Nasceu às sete horas
da manhã do dia 19 de Junho de 1891, filho de Agostinho Fernandes e Maria Rosa
Esteves Cordeiro, natural do lugar de Ranhol, freguesia de Penso. À época de
partida para a guerra, era casado com Emilia Domingues desde 24 de Agosto de
1913. Embarcou para França em 17 Novembro de 1917 integrado no Corpo
Expedicionário Português, portador da chapa de identificação nº 33 557. Foi
dado como desaparecido em combate na Batalha de La Lys em 9 de Abril de 1918. Contudo,
posteriormente, por comunicação da Comissão de Prisioneiros de Guerra, soube-se
que tinha sido feito prisioneiro pelos alemães e levado para o Campo de
Prisioneiros de Münster II (Alemanha). Sobreviveu à guerra. O soldado António
Fernandes embarcou no navio inglês "Northwestern Miller" em 31 de
Janeiro de 1919 e desembarcou em Lisboa de 4 de Fevereiro de 1919.
Cartão de inventariação do prisioneiro de guerra do 2º Cabo António Fernandes no Campo de Munster II (Alemanha) (Fonte: Comité Internacional da Cruz Vermelha) |
Aspeto do Campo de Prisioneiros de Munster II em 1918 |
Cemitério do Campo de Prisioneiros de Munster II |
2 - Simplício de Lima, soldado do 1.º Esquadrão do Regimento de Cavalaria n.º 4. Nasceu às dez horas da noite do dia 18 de Junho de 1893 no lugar de Paranhão, lugar da freguesia de São Tiago de Penso, filho de pai incógnito e de Maria Teresa de Lima. À época da partida para a guerra, encontrava-se solteiro e morava no dito lugar de Paranhão, freguesia de Penso. Embarcou para França integrado no Corpo Expedicionário Português a 26 de Maio de 1917. Em 2 de Dezembro de 1918, já depois do Armistício, o soldado Simplício baixou ao Hospital da Base nº 2, vindo a falecer no dia 18 de Dezembro, vítima de Bacilose Pulmonar, tal como consta no seu Boletim Individual. Foi sepultado no Cemitério de Ambleteuse (França), coval 5F caixão nº 112. Posteriormente, os seus restos mortais foram transferidos para o Cemitério Militar Português de Richebourg l`Avoué, Talhão D, Fila 22, Coval 4.
Sepultura do soldado Simplício de Lima, no Cemitério de Richebourg l`Avoué (França) |
3 - Gaudêncio Rodrigues, Soldado
do Batalhão de Infantaria nº 3 (Viana do Castelo), 4.ª Brigada do Corpo
Expedicionário Português (2ª Divisão). Nasceu às três horas da tarde do dia 23
de Outubro de 1893 no lugar da Carreira, freguesia de São Tiago de Penso, filho
de Rosalino José Rodrigues e de Maria da Conceição Alves. À época da partida
para a guerra, encontrava-se solteiro e morava no dito lugar da Carreira,
freguesia de Penso. Embarcou para França integrado no Corpo Expedicionário
Português a 16 de Maio de 1917, onde pertenceu à Brigada do Minho.
Desconhecem-se mais dados do seu percurso militar durante o conflito. Sobreviveu
à guerra e desembarcou em Lisboa em data desconhecida.
4 - Manuel Gonçalves, Soldado
do Batalhão de Infantaria nº 3 (Viana do Castelo), 4.ª Brigada do Corpo
Expedicionário Português (2ª Divisão). Nasceu às quatro horas e meia da tarde
do dia 29 de Maio de 1893 no lugar das Mós, freguesia de São Tiago de Penso,
filho de António Joaquim Gonçalves e de Ludovina Domingues. À época da partida
para a guerra, era casado com Maria Martins e morava na mesma freguesia de S.
Tiago de Penso. Tinha contraído matrimónio a 14 de Fevereiro de 1917, cerca de dois
meses antes de partir para a guerra. Embarcou para França integrado no Corpo
Expedicionário Português a 16 de Abril, onde pertenceu à Brigada do Minho.
Baixou ao hospital em 19 de Outubro de 1917, tendo alta no dia 23. Em 5 de
Agosto de 1918, foi colocado no Quartel General do Corpo Expedicionário
Português. Por ordem de serviço de 17 de Maio de 1918, por parte do Comando do
Quartel General, marchou com vista a apresentar-se no Porto de Embarque, em
Cherbourg, afim de ser repatriado. Sobreviveu à guerra e desembarcou em Lisboa
em 9 de Junho de 1919. Viria a falecer em 5 de Julho de 1948.
5 - Alberto Esteves, Soldado
do Batalhão de Infantaria nº 3 (Viana do Castelo), 4.ª Brigada do Corpo
Expedicionário Português (2ª Divisão). Nasceu às duas horas da tarde do dia 29
de Agosto de 1893 no lugar de Pomar, freguesia de São Tiago de Penso, filho de Manuel
António Esteves e de Maria Solha. À época da partida para a guerra,
encontrava-se solteiro e era morador no lugar do Pomar, freguesia de Penso. Embarcou
para França integrado no Corpo Expedicionário Português a 16 de Abril de 1917,
onde pertenceu à Brigada do Minho. Dos registos inscritos no seu Boletim
Individual, sabemos que foi hospitalizado em 22 de Março por motivo de ataque
com gás. Em 27 de Outubro de 1917, foi punido pelo Comandante da Companhia com
10 dias de detenção por “ter sido
nomeado para servir nas trincheiras e não se ter apresentado prontamente para
esse serviço tendo sido necessário a intervenção do comandante da companhia
para que desse cumprimento à ordem que nesse sentido tinha recebido…”. Sobreviveu
à guerra e desembarcou em Lisboa em 8 de Julho de 1919. Viria a falecer às 18
horas do dia 28 de Setembro de 1963.
6 - António Lopes, Soldado
do Batalhão de Infantaria nº 3 (Viana do Castelo), 4.ª Brigada do Corpo
Expedicionário Português (2ª Divisão). Nasceu às quatro horas da tarde do dia
27 de Outubro de 1893 no lugar de Pomar, freguesia de São Tiago de Penso, filho
de João Luíz Lopes e de Maria José Vaz. À época da partida para a guerra,
encontrava-se solteiro e morador no lugar do Pomar, freguesia de Penso. Embarcou
para França integrado no Corpo Expedicionário Português a 18 de Abril de 1917,
onde pertenceu à Brigada do Minho. Dos registos inscritos no seu Boletim
Individual, sabemos que baixou ao Hospital da Base em 11 de Abril de 1918. Foi julgado
incapaz de todo o serviço em 13 de Maio de 1918, tendo alta em 13 de Maio e ficou "a aguardar confirmação junta que o
julgou incapaz”. Sobreviveu à guerra e desembarcou em Lisboa em data que
não vem inscrita no seu Boletim Individual e portanto se desconhece. Viria a
falecer na freguesia de Penso (Melgaço) no dia 8 de Março de 1975.
7 - Jaime Rodrigues, Soldado
do Batalhão de Infantaria nº 3 (Viana do Castelo), 4.ª Brigada do Corpo
Expedicionário Português (2ª Divisão). Nasceu às dez horas da noite do dia 27
de Outubro de 1895 no lugar de Pomar, freguesia de São Tiago de Penso, filho de
pai incógnito e de Maria Luíza Rodrigues. À época da sua partida para a guerra,
encontrava-se solteiro e era morador no dito lugar do Pomar, freguesia de Penso.
Embarcou para França integrado no Corpo Expedicionário Português a 15 de Abril
de 1917, onde pertenceu à Brigada do Minho, tendo combatido na Batalha de La
Lys em 9 de Abril de 1918, fazendo parte do 2º Grupo de Pioneiros. Pelos
registos que constam no seu Boletim Individual, sabemos que baixou ao Hospital
da Base em 21 de Junho de 1918 tendo alta em 31 de Julho. Foi julgado incapaz
de todo o serviço em 29 de Junho de 1918, tendo sido evacuado afim de ser
repatriado em 6 de Agosto de 1918. Sobreviveu à guerra e desembarcou em Lisboa
em 25 de Agosto de 1918. Posteriormente, viria a casar com Olívia Vieites em 25
de Outubro de 1918, pouco tempo depois de ter regressado da guerra. Viria a
falecer na freguesia de Penso no dia 13 de Setembro de 1971.
8 - Zeferino Domingues, Soldado
do Batalhão de Infantaria nº 3 (Viana do Castelo), 4.ª Brigada do Corpo
Expedicionário Português (2ª Divisão). Nasceu às duas horas da manhã do dia 24
de Agosto de 1895 no lugar das Lages, freguesia de São Tiago de Penso, filho de
Manuel José Domingues e de Maria Joaquina Vaz. À época da sua partida para a
guerra, encontrava-se solteiro e era morador no lugar das Lages, freguesia de
Penso. Embarcou para França integrado no Corpo Expedicionário Português em
1917, em data incerta, onde pertenceu à Brigada do Minho. Sobreviveu à guerra e
desembarcou em Lisboa em 1918 ou 1919, em data incerta.
9 - Luíz Tavares, Alferes
de do Batalhão de Infantaria nº 3 (Viana do Castelo), 4.ª Brigada do Corpo
Expedicionário Português (2ª Divisão). Nasceu às oito horas da noite do dia 22
de Fevereiro de 1885 no lugar de Telhada Grande, freguesia de São Tiago de
Penso, filho de pai incógnito e de Adelina Tavares. À época da sua partida para
a guerra era casado com Aminia da Conceição, desde 3 de Setembro de 1910 e era morador
no concelho de Valença. Embarcou para França integrado no Corpo Expedicionário
Português a 15 de Abril de 1917, onde pertenceu à Brigada do Minho. Já em
França, baixou à ambulância nº 3 em 12 de Setembro de 1917. Foi evacuado para o
Hospital da Base em 13 de Fevereiro tendo recebido alta no dia 17 do mesmo mês
e ano, com 8 dias de convalescença. É promovido a sargento ajudante no dia 29
de Fevereiro de 1917. Promovido a Alferes por decreto de 9 de Fevereiro de
1918, sendo colocado no Regimento de Infantaria 20. Baixa ao hospital em 14 de
Março de 1918, tendo alta em 8 de Abril. Obteve licença da Junta por 30 dias,
sendo-lhe concedido gozá-los em Portugal para onde segue em 1 de Maio. Sobreviveu
à guerra e desconhece-se se voltou para França após a licença por falta de
registos. Viria a falecer no dia 21 de Outubro de 1949.
10 - José Garcia, Soldado
de Infantaria (Companhia e Regimento desconhecidos). Nasceu em data desconhecida
na freguesia de São Tiago de Penso (naturalidade indicada no Boletim Individual
mas não consta no respetivo Livro Paroquial de Batismos), filho de Manuel
Garcia e de Maria Garcia. À época da sua partida para a guerra, encontrava-se solteiro
e era morador na freguesia de Penso. Embarcou para França integrado no Corpo
Expedicionário Português a 16 de Maio de 1917. Os informações são escassas em
relação ao percurso militar deste soldado durante a guerra. Sabe-se que durante
a sua permanência em França, entrou no gozo de 10 dias de licença de campanha
em 7 de Fevereiro de 1919. Estava presente no Comando Militar de Ambleteuse em
18 de Março desse ano e seguiu no mesmo dia para o Porto de Embarque
(Cherbourg) com vista a ser repatriado juntamente com a sua unidade, embarcando
para Portugal no dia 5 de Abril de 1919. Sobreviveu à guerra e desembarcou em
Lisboa em 13 de Abril de 1919.
11 - Manuel Pereira, Soldado
do Batalhão de Infantaria nº 1 (Lisboa), 6.ª Brigada do Corpo Expedicionário
Português (2ª Divisão). Nasceu às três horas da tarde do dia 30 de Janeiro de
1893 no lugar de Alempassa, freguesia de São Tiago de Penso, filho de João
Manuel Pereira e de Rosa Rodrigues. À época da partida para a guerra, era solteiro
e morava na rua da Betesga, nos nº 95/96, na cidade de Lisboa. Embarcou para
França integrado no Corpo Expedicionário Português a 11 de Julho de 1917. Já em França, durante a guerra, baixou à
ambulância em 9 de Agosto de 1917. Foi julgado incapaz de todo o serviço ativo
em sessão de Junta Médica de 13 de Agosto do mesmo ano. Teve alta no dia 14 do
mesmo mês. Posteriormente, foi colocado no Quartel General do Corpo Expedicionário
Português em 19 de Setembro de 1917. Seguiu para o Quartel General da Base com
vista a ser repatriado em 5 de Julho de 1918. Sobreviveu à guerra e desembarcou
em Lisboa em 9 de Junho de 1919. Após a guerra, casou em 23 de Junho de 1927,
com Amélia da Conceição Silva. Viria a falecer em 18 de Maio de 1977.
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