Nos
tempos da guerra civil espanhola e nos anos seguinte ao conflito, afluíram a terras de Castro Laboreiro, centenas de refugiados galegos
e de outras regiões de Espanha. Alguns deles eram ativistas
políticos anti-franquista pertencente a forças de esquerda como o
Partido Comunista Espanhol e contam com a colaboração de
operacionais de esquerda do lado de cá da fronteira, além do
precioso encobrimento que a população castreja lhes deu.
Inclusivamente se fala que no Ribeiro (Castro Laboreiro) chegou a
existir uma célula ativa do Partido Comunista Espanhol.
Num
trabalho de investigação publicado em 2007, Angel Rodriguez
Gallardo fala-nos dessa realidade
“No
fim da guerra civil, na Serra de Castro Laboreiro, o Partido
Comunista Espanhol mantinha um ponto de apoio de entrada em
território espanhol controlado por vários dos refugiados que ali
operavam e que tinham como base de
operações
as aldeias do
Ribeiro
de Baixo e Ribeiro de Cima (Castro
Laboreiro),
muito próximas das aldeias galegas de Pereira e Olelas,
no
concelho galego de Entrimo. Estes lugares eram na época habituais
pontos
de passagem duma secular rota de contrabando. O grupo de refugiados
estabelecido nestas terras serranas diversificou durante vários anos
as suas atividades, pois dedicaram-se não só a atividades políticas
ou de guerrilha, mas também ao contrabando e
à obtenção de documentação para conseguir que alguns desses
refugiados saíssem de Portugal em direção ao México ou outros
países da América Latina.
Em
1940, o Partido Comunista Espanhol conclui a montagem da sua
estrutura no norte de Portugal, graças à presença de quadros
enviados de países da América Latina. Em 5 de Março de 1941,
aconteceu um episódio na cidade do Porto, em que um grupo de
comunistas galegos e vários polícias portugueses se enfrentaram, de
que resulta a morte de um legionário e um soldado da Guarda Fiscal e
um agente da PVDE gravemente ferido. Se antes deste episódio, as
autoridade portuguesas vinham intensificando o controlo sobre os
refugiados galegos e outros espanhóis no norte de Portugal, a partir
deste incidente recuou
a disposição repressiva sobre essa comunidade de exilados, que
terminou com várias detenções. Apesar de a partir de Julho de
1941, o Partido Comunista Espanhol continuará com o objetivo de
manter uma estrutura sólida em Portugal, os erros de organização e
as caídas de quadros em diferentes pontos da Península Ibérica
acabarão destruindo essa possibilidade. Tudo isto num contexto de
militantes sitiados em diferentes locais com deslocações ilegais e
contínuas em penosas condições no meio de uma guerra mundial e
dentro de um país que tinha uma ditadura pro-nazi.
Os
grupos de refugiados e de guerrilheiros que utilizavam Portugal como
lugar de proteção começaram a ter problemas com essa cada vez mais
numeroza presença de forças policiais portuguesas pela área de
fronteira, especialmente aqueles
que permaneciam com contactos estáveis na zona de Montalegre, Chaves
e Vila Verde de Raia.
O
enfrentamento em setembro de 1945, entre membros do grupo de Demetrio
Garcia Álvarez, O Pedro, e Juan Salgado Riveiro, O Juan, moradores
de Oimbra – Verin, com apoios em Cambedo e no Barroso, quando
tentavam praticar um assalto e foram supreendidos por uma patrulha da
Guarda Civil, fez piorar a situação dos refugiados espanhóis em
Portugal. A partir desse episódio, intensificou-se o efetivo de
controlo sobre a fronteira, que culminou nesta região com o cerco a
Cambedo, em que se aconteceram as mortes de Juan Salgado Rivero e
Bernardino Garcia,
e a detenção de Demetrio Garcia Alvarez, em 22 de dezembro de 1946.
Foi esse o mesmo ano em que Manuel Perez Rodriguez, galego
que tinha estado refugiado duas vezes no norte de Portugal, a segunda
em Castro Laboreiro, regressou à sua aldeia natal depois de ser
apanhado em 1944 no Ribeiro de Baixo e ser conduzido a Madrid por
estar implicado num processo militar. Dez anos depois de começar a
guerra civil espanhola, Manuel Pérez Rodriguez podia contemplar
desde a sua casa natal a ressaca de anos de efervescência na raia
castreja, com a paulatina desaparição dos grupos de refugiados
instalados no norte de Portugal. Ainda hoje, aos seus noventa e
quatro anos, pode continuar a olhar para a raia, o pedaço de brumosa
raia, perguntando-se pelas razões pelas quais um homem como ele, um
silencioso protagonista da História, havia de ser vítima de dois
fenómenos repressivos peninsulares do século XX, transformando-se
assim, como tantos outros, num galego em fuga de Franco e da
Repressão, num galego vítima de Salazar."
Extraído
de: GALLARDO, Angel Rodriguéz (2007) - Refuxiados e Fuxidos nos
Montes de Laboreiro. Cuaderno Arraiano, Verão 2007.
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