sexta-feira, 9 de novembro de 2018

Livro "Melgacenses na I Grande Guerra (e outras guerras do século XX)"



Domingo, dia 11 de Novembro de 2018, assinala-se um século sobre a assinatura do Armistício que punha fim à Primeira Grande Guerra, um conflito onde combateram dezenas de melgacenses e onde alguns deles tombaram em combate.
Da investigação de Joaquim A. Rocha e Valter Alves, nascerá, muito em breve, um livro onde os autores pretendem perpetuar a memória destes valentes combatentes filhos desta nossa terra. No prefácio desta obra, pode ler-se: “Foi há pouco mais de 100 anos que os primeiros soldados do contingente que Portugal enviou para combater em França na I Guerra Mundial chegaram à Flandres. Em África, já combatiam os alemães desde 1914.
Com base nos dados de que dispomos, de Melgaço, partiram para a Flandres, 73 homens, oriundos das diversas freguesias. Estes homens foram autenticamente “roubados” às suas vidas e obrigados a ir para uma guerra para a qual não estavam preparados. Paderne, com 14 homens, Penso, com 12 homens e Vila, com 14 homens são as freguesias melgacenses que mais contribuíram em termos de número de efetivos. Estes homens da nossa terra, feitos soldados, tinham todos à data do embarque, idades entre 22 e 27 anos completos (nascidos entre 1891 e 1895), à exceção dos oficiais que eram um pouco mais velhos.
Assim, entre Janeiro e Novembro de 1917, partiram estes homens do Cais de Alcântara, rumo ao porto de Brest (França) numa viagem de navio de vários dias. Daí seguiram de comboio até à zona sul da Flandres francesa perto de Armentières, nos vales dos rios Lys e Aire.
Depois de uma curta estadia em Brest, porto de desembarque das tropas portuguesas, seguia-se o transporte, de comboio, até à região de “Aire”, zona destinada às tropas do Corpo Expedicionário Português.
E foi num clima agreste, de neve, chuva e frio, língua e costumes tão diferentes dos seus, que estes homens da nossa terra e as tropas portuguesas tiveram de suportar mais de um mês de treino complementar, junto do exército britânico, para se poderem “familiarizar” com as armas inglesas com que iam combater e com as novas formas da guerra que iam conhecer de perto.
Na frente europeia, dos 73 homens naturais de Melgaço que partiram, 10 morreram caídos em combate ou devido a outras causas como doenças. O primeiro melgacense a morrer em combate foi o soldado António Alberto Dias, natural do lugar da Verdelha (Paderne) que faleceu a 9 de Outubro de 1917 na Flandres (França).
Quatro dos caídos em combate, faleceram durante a Batalha de La Lys (9 de Abril de 1918). Foram eles os soldados José Cerqueira Afonso, de Paços (Melgaço); José Narciso Pinto, de Chaviães; João José Pires, de Paços e o segundo sargento António José da Cunha, natural da freguesia da Santa Maria da Porta (Vila de Melgaço). O último pertencia ao 6.º Grupo de Baterias de Metralhadoras e os três primeiros eram soldados que pertenciam à 4ª Brigada de Infantaria do CEP, Regimento de Infantaria n.º 3 (Viana do Castelo). Esta era conhecida como a Brigada do Minho, a que pertenciam a grande maioria dos soldados melgacenses, e já tinha conquistado uma reputação de bravura na frente de batalha muito antes de lhe ser confiada, em Fevereiro de 1918, a defesa do sector de Fauquissart, em Laventie, na Flandres francesa, perto da fronteira com a Bélgica, onde ainda se encontrava nesse fatídico dia 9 de Abril de 1918, quando foi dizimada pelos alemães na dita batalha de La Lys.
Os soldados da Brigada do Minho tinham passado a noite de 8 para 9 de Abril a arrumar armamento, munições e outros equipamentos e seus pertences. Iam ser rendidos por batalhões ingleses no dia 9 e hoje em dia acredita-se que os alemães sabiam disso. Sabiam também que a infantaria portuguesa não estava preparada para aquela guerra e que tinham sido treinados à pressa numa falácia vendida pelo regime republicano que apelidaram de “Milagre de Tancos”. Os soldados de Melgaço e de outras regiões eram lavradores, pedreiros e de outros ofícios. Muitos deles nunca tinham saído da sua terra. A grande maioria nem sabia ler e escrever. Um soldado não se faz num par de meses. Esta batalha foi, por essas e outras razões, um dos maiores desastres de toda a História Militar portuguesa. No dia seguinte, chegara a hora de contabilizar as baixas: 398 mortos (369 praças e 29 oficiais) e uma esmagadora maioria de prisioneiros (6585, dos quais 6315 eram praças e 270 oficiais). Na 4ª Brigada de Infantaria, à qual pertenciam maioria dos melgacenses, as baixas situam-se em cerca de 60% entre mortos, feridos e prisioneiros. No Regimento de Infantaria 3 (Viana do Castelo), as baixas cifram-se em 570, de um total de 700 homens que estavam em posição naquela noite. Deste total de baixas, houve registos de 91 mortos (4 de Melgaço), 155 feridos, 7 desaparecidos e 317 soldados feitos prisioneiros. Deste total de prisioneiros de guerra, nove soldados eram melgacenses. Inicialmente, estes homens foram dados como “desaparecidos em combate” e esse facto foi comunicado às famílias. Vários meses mais tarde, após o fim da guerra, em Novembro de 1918, a Comissão dos Prisioneiros de Guerra, comunicou que estes homens se encontravam em campos de prisioneiros na Alemanha, pondo fim a meses de sofrimento dos soldados e das suas famílias que os julgavam mortos. Na realidade, estes melgacenses foram todos capturados durante a Batalha e levados para campos de prisioneiros na Alemanha. Eram eles os soldados Mário Afonso, de Santa Maria da Porta; António Fernandes, de Penso; Abílio Alves de Araújo, da Gave; Avelino Fernandes, de Alvaredo; António José Rodrigues, de Paderne; Inocêncio Augusto Carpinteiro, de S. Paio; Justino Pereira, de Cubalhão; António dos Reis, da Rua Direita (Santa Maria da Porta) e António Pires, de Rouças, tendo ficado dispersos por vários campos de prisioneiros na Alemanha.
Depois de La Lys, o C.E.P. não mais participou em operações militares relevantes ficando na dependência dos ingleses e relegado para tarefas secundárias.
Os que tombaram, repousam para sempre no Cemitério Militar Português de Richebourg l`Avoué (França). Os que regressaram, muitos deles voltaram com os traumas próprios de um conflito que a humanidade nunca tinha conhecido ou com os problemas de saúde que os acompanharam durante o resto das suas vidas.
Por tudo isto, estes homens foram heróis e merecem a nossa homenagem. Para que nunca sejam esquecidos!"

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