domingo, 22 de novembro de 2020

Os monges de Fiães e a reparação da muralha do castelo de Melgaço (1245)


 

Há cerca de 800 anos, Melgaço era uma pequena povoação fortificada com muralhas muito rudimentares e pouco resistentes a ataques externos.  

Segundo PINTOR, (1975), a primitiva fortaleza devia conter uma torre de menagem ainda existente com aquele pequeno reduto amuralhado em volta. A povoação adjacente ficaria de fora com a sua igreja a dois passos da porta do castelo. Dado que a entrada dos leoneses em 1211 fez muitos estragos nesta região fronteiriça desde Melgaço a Valença e terras de Valdevez, os moradores de Melgaço bem sentiram a adversidade e trataram de cercar a vila com uma muralha que lhes desse uma proteção mais robusta. Para issoem 1245, concelho de Melgaço celebrou com o abade de Fiães um importante acordo segundo o qual o mosteiro ficaria obrigado a participar na obra de reparação e reforço da muralha. Desse documento, depreende-se que a fortificação era, até essa altura, ainda de alvenaria e se pensava em fazer uma muralha de cantaria silhar para que ficasse mais resistente aos ataques inimigos. 

A cargo dos monges de Fiães ficaram 18 braças de muralha que correspondem a uns 40 metros (em rigor, 39,6 metros). Para sabermos onde era o troço a cargo do mosteiro, ficou-nos a referência na escritura a uma adega que o mosteiro possuía para recolha do seu vinho recebido das propriedades que lhe pertenciam nas proximidades da vila (PINTOR, 1975).

A dita escritura que estipula o acordo entre o concelho e o abade de Fiães, posto em linguagem atual corrente, diz o seguinte: 

 

Pacto entre o abade e o concelho de Melgaço 


“...saibas os presentes e os vindouros que nós, o abade João e o convento de Fiães de uma parte, e os juízes João Pires de Caveiras e Miguel Fernandes e concelho de Melgaço da outra, fazemos entre nós acto e acordo estável avaliado em cem soldos, assinado para nós e nossos vindouros, válido perpetuamente, a saber: queo Abade e Convento, com seus homens que de presente e de futuro estiverem nas proximidades do mesmo mosteiro no couto da nossa vila, façam dezoito braças de muro naquela parte da nossa vila onde agora está a nossa adega, segundo a natureza e forma que nós fazermos e viermos a fazer em todo o circuito da nossa vila. E se cair o muro que fizerem, sempre o mosteiro tenha que o reparar à sua custa, convém saber: se por acaso, os moradores da mesma vila, à sua própria custa, fizerem o muro de pedras quadradas em todo o circuito e as torres do mesmo, igualmente os mesmos devem fazer no mesmo troço a eles demarcado, apenas com uma torre que o já dito Abade promete começar imediatamente. E por este muro e continência que nos fazem os já ditos Abade e Convento, nós perdoamos e dispensamos tanto pessoas como bens dos homens que morarem nas suas herdades no couto da referida vila que não venham ao serviço da sobredita vila a não ser por sua vontade. Se, porém, algum vizinho da referida vila ou outro homem tiver alguma herdade que deva satisfazer foro à mesma vila, da mesma satisfaça o dito foro e não da herdade do mosteiro sobredito se nela morar. Os homens que morarem no couto da mesma vila em herdades do referido mosteiro pagarão direitos e multas como os outros que morarem nas herdades dos bons vizinhos nos mesmo couto. Da mesma forma, o serviço de petições e comedorias. A parte que ousar proceder contra este pacto e concessão, se avisada não corrigir dentro de nove dias, o que cometer quantas vezes fizer, outras tantas seja obrigado perante a outra parte ou quem suas vezes fizer, à pena atrás imposta, continuando o pacto em sua validade. E para que tudo isto não caia em dúvida, mandamos apor em testemunho o selo do Abade e Concelho. Feito o pacto na vila de Melgaço. Era MCCLXXXIII. Mês de Fevereiro. Reinante o rei D. Sacho II. Tenente de Valadares, Martinho Gil. Na Sé de Tui, o bispo L(ucas). 

Os que foram presentes e testemunhas: monges de Fiães: abade João, prior Gonçalo Pais, Martinho Moniz, Pedro Martins, Pedro Garcia, Pedro Pires, Fernando Pires; clérigos: João Mógo, Vicente Mourão, Rodrigo Mendes; leigos de Melgaço: Lourenço Rodrigues, João Hospedeiro, Fernando Dias, Rodrigo Pires, Rodrigo Mendes de Corujeiras, Domingos Joanes, Rodrigo Joanes, Lourenço Martins, Pedro de Bria, Escrivão Munho Soares, monge de Ursaria.” 


Informações extraídas de:

- PINTOR, P. Manuel António Bernardo (1975) - Melgaço Medieval. Edição de autor.

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