sábado, 7 de novembro de 2020

Sobre um velho pergaminho que apresenta as mais antigas delimitações das terras de Fiães (Melgaço)

 


busca de conhecimento da origem da delimitação da freguesia de Fiães leva-nos a recuar mais de 800 anos. Para a História de Fiães e o seu antigo couto, é essencial conhecer a forma como se estabeleceram os limites da freguesia. Para isso, foi determinante um documento de uma doação de meados do século XII que foi dado a conhecer pelo Padre Bernardo Pintor em 1947. Nessa mesma escritura, um tal Afonso Pais doa aos monges beneditinos as terras de Fiães que constituíram durante séculos o território do seu couto, juntamente com os seus limitesTudo isso nos é explicado num artigo do Padre B. Pintor escrito em meados do século passadoNo extremo norte de Portugal, a raiar com Espanha, assenta a velha Freguesia de Fiães na encosta do Pomedelo ou Pernidelo. 

Do seu antiquíssimo e célebre Mosteiro, sobranceiro à vila de Melgaço, resta a Igreja Paroquial em estado muito precário de conservação (...). 

Não vou hoje historiar o passado glorioso desse importantíssimos Mosteiro de Beneditinos que cedo receberam a reforma de Cister, mas apenas dar a conhecer o documento que traçou os limites que a freguesia ainda conserva passados quase oito séculos. 

Afirma-se que o Mosteiro foi fundado pelo ano de 851 e depois arruinado. Ao certo não consegui saber ainda da sua origem. 

Sabe-se de certeza que ele floresceu no século XII, sendo atribuída à generosidade de Afonso Pais a sua restauração. De facto, quem folhear o livro das datas do referido Mosteiro, existente no Arquivo Distrital de Braga, encontra muitas doações feitas pelo benemérito Afonso Pais. 

Há, porém, um documento importante para a História do Mosteiro de Fiães que não encontrei no dito livro das datas. 

Às minhas mãos veio uma cópia antiga.  Trata-se da doação ao Mosteiro do território que constitui a freguesia actual e que foi couto noutras eras. Nas Inquirições de Afonso III alegaram o D. Abade, os frades e o sacristão que o Mosteiro tinha couto delimitado por padrões (marcos de pedra) e que o tinham por doação de fidalgos, mas sem carta de EI-Rei. 

TRADUÇÃO: “No início tem o monograma usual xpistus=Cristo) Em nome de Nosso Senhor Jesus Cristo e em honra da beata Maria sempre Virgem e de todos os santos. Eu Afonso Pais juntamente com meus irmãos e minhas irmãs Pedro Pais, Egas Pais, Fernando Pais, Garcia Pais, Gudina Pais, Hónega Pais, Mór Pais, Maria Pais, Hónega Mendes, Mor Mendes. Eu Oroana com meus filhos Pedro Nunes, João Gomes, Álvaro Sarracines juntamente com meus irmãos e minhas irmãs. Eu Pedro Peres juntamente com meus irmãos. Eu Nuno Dias juntamente com meus irmãos e minhas irmãs. Eu Rodrigo Goterres com meus irmãos. Eu Fernão Ventre com meus irmãos. Gonçalo Peres com seus irmãos. Fernando Nunes com seus irmãos, Pedro Soares com seus irmãos, Fernando Nunes com seus irmãos, Pedro Nunes com seus irmãos. Fazemos documento de segurança daquele monte que se chama Fenais, que nós resolvemos por vontade própria doar aos servos de Deus, Abade João e sua congregação, tanto aos presentes como nos que depois deles vierem e aí perseverarem na santa vida beneditina; possuam no para sempre por direito de herança por nossa doação, pelas nossas almas e pelas almas de nossos pais, porque é breve a nossa vida. Estabelecemos lhe limites a principiar em Penha de Ervilha, depois por Costa Má, até Curro de Loba, partindo pelo rio Doma pelo vale Gaão, depois pelo outeiro da Aveleira, a seguir pelo coto da Aguieira e depois desde o Vidual até Penha de Ervilha e fechou. Nós acima nomeados damos esta herança para exercer o culto de Deus enquanto houver um homem que o faça. Se for retirada do culto de Deus cada um receba o seu quinhão. Se vier alguém ou viermos nós, tanto da nossa família como de estranhos, quem queira violar esta nossa doação, seja excomungado e condenado perpetuamente como Judas traidor do Senhor. 

Por estes limites que mencionamos concedemos (o monte) aquele Mosteiro que esta situado no referido monte de Santa Maria. Nenhuma autoridade nem homem algum se atreva a arrotear ou lavrar (neste monte) sem ordem dos mesmos frades. Eis a pena que nós estabelecemos e outorgamos: restima a mesma herança em dobro ou com suas melhorias e dois mil soldos para a Congregação. Reinando em Portugal o Rei Afonso com sua mulher a Rainha Mafalda. Vigário particular do Rei Gonçalo de Sousa. Na Sé de Tui o Bispo Isidoro. Senhor de Valadares Sueiro Aires.  Era de 1195 no dia que é 14° das calendas de Setembro (19 de Agosto de 1157). Nós como acima dissemos a vós Abade João com vossos Frades nesta escritura de segurança por nossas mãos roboramos. 

Como testemunhas Sueiro, João, Pedro, Fernando, Munho. Pelo notário Pedro». 

A tradição é livre, porquanto há expressões más de traduzir à letra e o latim é defeituosíssimo. 

Da expressão mons fenales, Montes Fenais (que produzem feno) deve vir a palavra Fiães, embora se pretenda que ela vem de Fiam, medida antiga. 

Os limites traçados neste documento são os actuais. Penha de Ervilha redundou em Par d’Ervilha. (Par é contracção de pera, pedra). 

” Curro de loba, é hoje de Lobo. O rio Doma que aparece várias vezes no livro das datas chamou-se depois Várzea e hoje  tem o nome de Trancoso. Frente a S. Gregório ainda há na Galiza Puente Barjas, Ponte das Várzeas. Vale Gaão deve ser o  monte Gonle perto de Pousafoles. 

Os restantes nomes ainda existem. 

Riba de Mouro (Monção). 26-6-47"





- PINTOR, Pe. Manuel A. Bernardo - Doação de Afonso Pais e outros ao Mosteiro de Fiâes. In: Pe. Manuel António Bernardo Pintor - Obra Histórica. Edição do Rotary Club de Monção, 2005.

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