sábado, 15 de abril de 2023

O povo de Chaviães (Melgaço) pede a proteção divina (1910)


 

 

Em tempos antigos os surtos epidémicos eram bastante frequentes na nossa região. Doenças como o tifo, a tuberculose, a pneumonia ou a varíola, entre outras, provocavam frequentes picos de mortalidade entre a população. 

A generalidade das pessoas tinha uma inabalável fé em Deus e com uma certa frequência o povo organizava rituais religiosos para que Deus os livrasse da fome ou das doenças fatais.

Pela leitura dos jornais melgacenses, sabemos que em 1910, o povo de Chaviães saiu em procissão, desde a sua igreja até à capela de Gondufe, em Paços, levando a imagem de São Sebastião e implorando proteção divina contra a epidemia de varíola que tinha feito bastantes vítimas por estas bandas. De facto, no “Jornal de Melgaço” de 27 de Janeiro desse ano, podemos ler: 

 

Procissão de penitência 

Implorando a proteção divina por causa da terrível epidemia da varíola, que tantas vítimas têm causado neste concelho, realizou-se, no último domingo, na freguesia de Chaviães, uma posição de penitência, levando à sua frente o glorioso mártir São Sebastião.  

A concorrência do povo era extraordinária. Na capelinha de Gondufe, aonde se dirigiu aquela posição, houve sermão pelo Reverendo Francisco José Dias, que, apesar de não estar preparado, proferiu uma linda oração. 

Bem hajam os habitantes de Chaviães pela sua iniciativa, porque se Deus não velar por nós com mais cuidado do que aqueles que, na terra, tinham por dever empregar todos os meios ao seu alcance para afastar aquela moléstia, estamos irremediavelmente perdidos. 

Melhor seria que em vez de, em certos tascos, agora se censurarem os atos de quem, no exercício das suas funções, procede dignamente, se fosse mais humanitário, menos malcriado e até atrevido. 

Mas estejam certos, esses cavalheiros, que um dia, talvez não muito tarde, lhes será cortada a ponta da língua já que a tem cumprida demais. 

A bom entendedor... 

 

Extraído de: “Jornal de Melgaço”, edição de 27 de Janeiro de 1910. 


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