(PARTE I)
Domingos "Carabel", fundador da Fábrica de Chocolates de Castro Laboreiro
(Início do século XX)
Ainda hoje ninguém sabe explicar que guinada deu a
Domingos António Alves, Carabel por alcunha, para... montar uma fábrica de
chocolates em terra bem alta e fragosa, flagelada pela neve de Dezembro a
Fevereiro, agreste como poucas, cheia de agruras (e amarguras), de invernias
infindáveis, onde o cacau não aparecia aos pontapés, nem com alquimias
elaboradíssimas, e ainda mais numa época de isolamento total! A verdade é que a
imprescindível matéria-prima subia à aldeia serrana de Castro Laboreiro, vinda
lá do Brasil, com a mesma facilidade com que as trutas sobem ainda o rio
Laboreiro.
Parece que o homem andara por Trás-os-Montes, parece que
terá corrido meio-mundo, entregando-se à arte de pedreiro ou a outras que para
aí calhassem, mas dar-lhe assim para a doçaria, e logo de chocolate, será cousa
que a memória da terra não registará assim do pé para a mão.
Corria o ano de 1908, quando Domingos Carabel, já talvez
homem para os seus 38 anos, se pôs a fazer tabletes de um saboroso chocolate,
que ganhara fama nas décadas que se seguiram, ao redor de Melgaço, ao redor de
Monção, ao redor de Valença, tendo chegado, mais tarde, aos olhos e ouvidos dos
ingleses, que até mandaram pedir, por carta, amostras dos rótulos do dito
produto, vá lá hoje saber-se porquê. Domingos Carabel faleceu em 1918, e o
negócio dos chocolates, se não acabava por aí, teria, pelo menos, conhecido uma
pausa ou abrandado o ritmo produtivo.
Deu-se o caso de o seu filho Abílio Alves, que ainda
andaria de luto por ele, ter assentado praça no Regimento de Caçadores nº 9, à
época sediado em Valença do Minho. Parece que já andaria preocupado com o futuro
do negócio, quando ainda batia o “esquerdo e o direito” lá pela parada do
quartel. Pelos vistos, mal regressasse à vida civil, a cousa fiava fino, agora
que não tinha o pai para lhe valer.
Parece que do melhor apuro em chocolates saberia tanto
como os seus colegas de camarata perceberiam de jesuítas. Um dia, estando de
licença, vai à Fábrica de Chocolates de Valença, assim como quem não quer a
coisa, passando então por um tropa que apenas lá ia sem ter mais para onde ir
ou que fazer.
Fez-se desentendido e muito mais de desinteressado e,
durante a visita, se mais não viu, foi porque não quis: abriram-lhe a fábrica
como quem abre um livro com todos os capítulos. Espiou os ingredientes, numa
rápida introdução à matéria, espreitou a melhor aplicação das fórmulas, tomou o
gosto e o cheiro ao cacau que por lá se gastava, e depressa aprendeu a receita
da casa. Estava com ela ferrada!
Acabado o serviço militar, andou, ainda, por terras
galegas a micar umas quantas outras receitas e, já catedrático na cousa,
aperfeiçoou a sua própria receita, a tal que deu sabor especial aos “Chocolates
Carabeis, Sucessor” ou “Chocolates Castro Laboreiro”, como era mais conhecidos.
Abílio Alves Carabel fez então contas à melhor rentabilidade do fabrico, para
relançar o negócio.
As primitavas instalações que ocupavam parte do edifício
em pedra do atual Núcleo Museológico de Castro Laboreiro, não tinham ao tempo
energia elétrica, e o carvão, a que o pai Domingos Carabel sempre recorrera,
onerava os custos.
Abílio Carabel consegue então autorização dos Serviços
Hidráulicos, onde chegou a trabalhar, para um barracão no rio Laboreiro, e
aproveita a força motriz da água. Energia assim de borla não havia, nem haverá
para fazer chocolate.
Por essa maré, ainda o seu irmão Germano Carabel estava
emigrado na América do Norte, pensando talvez no regresso, após uma longa
ausência. Germano tinha sido um aventureiro como poucos: aos 14 anos, conhecer
um galego de Entrimo, concelho da Galiza contíguo a Castro Laboreiro, que o
influenciou a emigrar.
“Queres ir para a América? Olhas que lá ganhas mais do
que aqui, e não estás sujeito a tantos trabalhos.” Estas palavras do galego
desencaminhador deram a volta à cabeça do rapaz. Correu a pedir autorização ao
pai, mas Domingos António Carabel disse redondamente que não. Tinha quatro
filhos, três rapazes e uma rapariga e, se germano partisse, era menos uma mão
na lide da fábrica.
O moço cismou, porém, que haveria de ir, o galego
prometeu-lhe que o ajudava a emigrar, e um dia fugiu de casa paterna seguindo o
vizinho de Entrimo. Apanha com ele o comboio até Vigo, e daqui embarca,
clandestinamente, rumo às Américas. No alto mar é descoberto, mas o compincha
convence o capitão do navio a deixar o rapaz em paz. Em Havana, Cuba, é
obrigado a desembarcar. À América do Norte só chegaria muitos meses depois.
Regressa a Castro Laboreiro já feito homem, e associa-se ao irmão Abílio, que
continuava solteiro e solteiro continuou até ao fim da vida, apesar das
aventuras amorosas, envolvendo-se até com uma criada “de alto lá com ela”.
Os dois irmãos, Abílio e Germano, deram-se bem no negócio
dos chocolates. E até ao fim da vida também nunca andaram desavindos. Só uma
ida de Germano ao Rio de Janeiro, para uma permanência prolongada, os separa,
novamente. As encomendas de cacau eram feitas a importadores do Porto, os
pedidos iam por carta, quem as escrevia era sempre Abílio Carabel.
Forneciam os chocolates a casas comerciais da região, mas
dedicavam-se à venda direta pelas feiras e romarias. As tabletes iam metidas em
papel especial, que nunca se soube onde o arranjavam, mas que conservava o
chocolate com a mesma eficácia das pratas. Ricos e pobres adoravam o produto!
Informações extraídas de:
- "A Fábrica de Chocolates da família Carabel e os sabor que se desfez ao redor de... Castro Laboreiro", reportagem de Pedro Leitão in: SIM, Revista do Minho, nº 143 de Dezembro de 2013.
Nota: Um enorme OBRIGADO à Sra. Teresa Lobato. Ao jornalista Pedro Leitão, um especial OBRIGADO por esta magnífica reportagem e pela partilha!
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Informações extraídas de:
- "A Fábrica de Chocolates da família Carabel e os sabor que se desfez ao redor de... Castro Laboreiro", reportagem de Pedro Leitão in: SIM, Revista do Minho, nº 143 de Dezembro de 2013.
Nota: Um enorme OBRIGADO à Sra. Teresa Lobato. Ao jornalista Pedro Leitão, um especial OBRIGADO por esta magnífica reportagem e pela partilha!
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