Recuamos a um tempo em as água do rio Minho tinham um
riqueza que o leitor poderá achar impensável. Um tempo em que encontrávamos neste rio uma variedade de espécies de peixe que hoje em dia é absolutamente
inimaginável. Houve tempos em que se apanhavam no rio Minho salmões e camarões
de rio. Há pouco mais de um século, o rio Minho, era o único rio onde ainda se pescavam bons salmões
em Portugal...
No livro “Notas sobre Portugal” de 1908, podemos ler que “A partir do norte do país, o Minho, que é o
primeiro curso de água que banha o nosso território, tem o seu principal
destaque por ser o único onde, actualmente, se faz a pesca do salmão, quase
desaparecido de outros rios em que antigamente também aparecia, como no Lima,
no Cávado e até no Ave. Agora, porem, só um ou outro exemplar desgarrado é
conhecido como relíquia de uma pesca tão importante em outros países.
O Minho, que é
fronteira portuguesa desde S. Gregório, é aqui bastante largo, de fundo
pedregoso, de seixos e calhaus rolados, começando depois a estreitar-se pouco a
pouco entre Melgaço e Monção, onde, em alguns lugares, as margens talhadas em
rochas graniticas são cortadas quasi a pique. De Monção até a barra o rio
espraia-se e as margens tornam-se planas. Este rio não tem açudes que o
atravessem de lado a lado, mas sim muros de pedra, chamados pesqueiras, de
comprimento variável, que forçam as águas a tornar-se tumultuosas em algumas
passagens. O salmão não encontra porem obstáculos à sua subida e dirige-se para
as zonas superiores, nas quais a temperatura e a natureza dos fundos são mais
favoráveis para a desova.
Neste rio, também
vive a truta, que se encontra principalmente nos seus afluentes, onde se
refugia no verão, dos quais o primeiro, o ribeiro de Trancoso, que é fronteira
oriental, desce de Alcobaça, povoação insignificante situada a uns 800 metros
de altitude na vertente da serra de Castro Laboreiro. O ribeiro corre por entre
as montanhas fronteiriças portuguesas e espanholas e com grande declive,
recebendo as águas de ambas as vertentes, águas frescas e de terrenos
graniticos e que descem tumultuosas por entre os despenhadeiros das serras. Ao
passar por Alcobaça, o ribeiro atravessa-se por cima de pedras durante o verão.
A sua origem fica pouco acima no maciço granítico que se eleva logo atrás daquela
povoação e que corre a poente de Castro Laboreiro, um dos pontos culminantes do
Alto Minho e de onde deve ir ver-se todo o admirável sistema serrano daquela
província e do leste espânico”.
A este respeito, em 1894, o biólogo Adolfo Moller, de
Universidade de Coimbra fez a sua “Excursão à Serra de S. Gregório” e refere-se
à riqueza dos rios Minho e Trancoso. Menciona
que “No rio Minho encontra-se a truta,
boga, escalo, e a enguia, camarões e mexilhões. Na época própria, pescam-se
salmões, truta marina, sáveis e lampreias. Em Melgaço, vimos a vender no
mercado barbos que diziam ser pescados n'este rio. Na ribeira de Trancoso só se
encontram a truta e a enguia.”
O que é que aconteceu a toda esta riqueza do rio Minho.
Algo mudou. Que pena...
Extraído de :
- JUDICE, António Teixeira (1908) – Notas sobre Portugal.
Volume I; Exposição Nacional do Rio de Janeiro – Secção Portuguesa; Imprensa
Nacional, Lisboa.
- MOLLER, Adolfo Frederico (1894) - Excursão à serra de
S. Gregório. in: Annaes de Sciensias Naturaes, Volume Primeiro, publicado por
Augusto Nobre.
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