Em
finais do século XVIII, Portugal temia um novo conflito com Espanha e o clima de
elevada tensão gerado na Europa pela Revolução Francesa, fez com a Coroa
Portuguesa tomasse algumas medidas com vista a proteger as nossas fronteiras de
possíveis ataques a partir do lado espanhol.
Desta
forma, temia-se que a guerra estivesse eminente. Foi então ordenado ao
exército, mais especificamente ao Real Corpo de Engenheiros, que realizasse uma
série de memórias sobre as condições de defesa da fronteira e do território português.
Um desses engenheiros era Custódio Villas Boas que nos deixou importantes
apontamentos sobre as estruturas de defesa de Melgaço em finais do século XVIII:
"O
território fronteiriço entre os vales dos rios Minho e Lima, era ocupado pela
vasta serra da Peneda, considerada intransponível por um exército moderno, não
obstante os caminhos existentes no planalto de Castro Laboreiro, por onde
comunicavam as populações locais, de ambos os lados. Em todo o caso, estas
estradas estavam em muito mau estado de conservação, dificultando a progressão
de um qualquer exemplo que pretendesse viajar com todo o seu trem de artilharia
e provisões. Na eventualidade de esta situação ocorrer, era aconselhado um
ataque imediato nesta área, de forma a limitar as possibilidades do inimigo.
De
qualquer forma, para a vigilância e proteção desta área, existia o castelo de Castro
Laboreiro, de planta medieval reformulada ao longo dos anos de acordo com a
exigências militares, equipado com algumas peças de artilharia.
Desde
Castro Laboreiro, à entrada do rio Minho, a fronteira era estebelecida pelo
vale do rio Trancoso - também designado por “rio das Várzeas” - cujo vale de
margens abruptas era considerado impenetrável. Os únicos pontos de passagem
seriam duas pontes: a Ponte de Pouzafolles, ainda em área de montanha, e e
Ponte das Várzeas, constrída em madeira no lugar de S. Gregório.
Por ocasião
da denominada “Guerra Fantástica, em 1762, foi construído um pequeno reduto
para vigiar a estrada do vale do rio Minho, embora estivesse arruinado em 1800.
A
partir do rio Trancoso, a fronteira entre Portugal e a Galiza passava a ser estabelecida
pelo curso do rio Minho, considerado por Villas Boas “um formidável fosso
aquático das praças fronteiras, com 80 a 100 braças de largura média, e
barreira de força ativa que em tempos de guerra equivale a muita tropa e
reduplica a defesa daquelas praças”.
A
primeira das defesas da fronteira Norte do Alto Minho, seguindo o curso do rio
de montante para jusante, era a vila de Melgaço, equipada com 15 canhões e uma “obra
coroa” (fortificação exterior à muralha) sobre a estrada para a Galiza. O
castelo, de muralha circular e antiga, não era considerado aptp para a defesa,
pelo que, Villas Boas o indicava para servir de quartel e armazém de víveres
das tropas estacionadas naquela parte do território.
Deste modo, a defesa da entrada do rio Minho,
deveria ser feita no rio Trancoso, onde seria necessário construir alguns
entreicheiramentos, equipados com os canhões de Melgaço, ao mesmo tempo que se
demoliria a Ponte das Várzeas a fim de dificultar o movimento inimigo.
Em
caso de invasão, as tropas portuguesas retirar-se-iam para as montanhas
oferecendo a maior resistência possível. Combinando as caraterísticas do
terreno com os meios militares, era possível opor uma eficaz resistência ao
invasor, apenas com um pequeno número de homens: 32 artilheiros, um batalhão de
infantaria, e alguma milícia e ordenanças, se o inimigo fosse em número muito
superior, peder-se-ia recorrer aos reforços de Monção.
Em
1800, Villas Boas indicava já que a Ponte das Várzeas estava arruinada e o
castelo de Melgaço havia sido desguarnecido da suas artilharia havia pouco
tempo. O autor nada diz sobre o possível exist~encia de entricheiramentos, mas
esta informação poderá constituir um indício das preparações para a defesa da Província,
seguindo as diretrizes apontadas por aquele engenheiro militar.
O
vale do rio Minho, desde a sua entrada em Melgaço até Monção, corria apertado
por margens escarpadas, sobretudo a margem norte, o que dificultava a sua
passagem. Vallas Boas identificava apenas um local onde seria possível ao
inimigo atravessar o rio: o lugar do Salto situado a meio caminho entre Melgaço
e Valadares (o local está perfeitamente identificado nas diversas variantes do
Mapa da Província). Este ponto fraco na linha de defesa portuguesa, era já
conhecido pelos espanhóis que, em conflitos anteriores, tentaram ali atravessar
o rio, pelo que os portugueses construiram uma bateria provisória que deveria
ser renovada e construída com melhor qualidade."
A guerra
vai acontecer em 1801 com a invasão franco-espanhola.
Informações extraídas de: MOREIRA, Luís Miguel (2008) - O sistema defensivo do Alto Minho em finais do sés. XVIII. In: Cad. Vianenses; nº 41;
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