A
extinta capela de Santo António, ficava situada no antigo Largo do
Comércio, ao fundo da atual Praça da República, na vila de Melgaço
mas foi demolida no início do século XX. Foi mandada construir por
Pêro de Castro, fidalgo melgacense e alcaide-mor da vila, morto na batalha de
Alcácer-Quibir e era local de paragem obrigatória das principais
procissões organizadas pela Misericórdia.
A
sua construção terá começado por volta de 1570 mas apenas foi
concluída alguns anos mais tarde já no tempo de Gil Gonçalves
Leitão, juiz de fora de Melgaço e provedor desta Santa Casa da
Misericórdia. Sabemos que este determinou em 1595 que se terminassem
as paredes desta ermida. Estas informações podemos encontrá-las no
Livro dos Provedores, onde se lê numa memória posterior de 1597: “O
Licenciado Gil Gonçalves Leitão juiz de fora que foi nesta vila e
provedor que foi nesta casa fez acabar a ermida de Santo António de
paredes que havia muitos anos que estava começada por ordem de Pêro
de Castro, alcaide-mor desta vila”.
Foi
já com outro provedor em funções, também juiz de fora, António
de Távora, que a capela foi concluída, logo depois de uma pequena
festa organizada por sua esposa, Dona Maria de Anciães, para
comemorar o dia do batizado de seu filho Jerónimo em 16 de Janeiro
daquele ano de 1600, festa que marcou pela roda de fidalgos amigos
reunidos à sua volta. Nessa altura, o carpinteiro tinha-lhe dito que
o retábulo da capela estava terminado mas para o santo sacrifício,
faltavam os últimos retoques. Urgia dar-lhos e não desperdiçou
tempo.
Em
16 de Fevereiro de 1600, reuniram-se os irmãos nobres Gonçalo
Rodrigues de Araújo, escrivão e tabelião, o comerciante Henrique
Coronel, Estevão d’Amorim, sargento-mor das Ordenanças, Manuel da
Cunha, para quem tinha sempre um gracejo por causa dos compadrios,
Manuel Ribeiro, casado com Isabel Gomes, morador em Eiró e
secretário da Câmara e João Gomes Ribas, mercador e homem de
grandes negócios ao tempo e os irmãos mecânicos João Dias, Pero
Gomes, António Martins, Gonçalo Coelho, o carpinteiro Álvaro Vaz e
Gaspar Rodrigues Pereira, alfaiate e então deixam escrito para
memória futura “assentou-se
em mesa que por a Casa de Santo António do campo da feira ser anexa
a esta Casa é esta consertada e ordenada para nela se dizer missa e
sagrar Francisco Soares, abade na vila, o capelão desta Casa e
provedor e mais irmãos abaixo assinados em seu nome e dos que em
diante foram ditos que eles se obrigavam com as esmolas da dita casa
a fabricar todo o necessário à fábrica da dita igreja de Santo
António e isto com declaração que não chegando as esmolas desta
casa, a dita fábrica se obriga a tudo satisfazer de suas fazendas e
o irmão que for do mês será obrigado a arrecadar as esmolas que aí
se derem para todo o ano; cada irmão seu mês para as dar para as
dar aos tesoureiros da dita casa que agora e em diante forem e sendo
necessário fazer nesta caso escritura pública se obrigavam a fazer
logo para o qual requereram ao arcebispo a licença de se dizer missa
na dita capela”.
O
Sargento-mor Estevão d’Amorim deixou um relato da festa da benção
da pequena ermida em 27 de Março de 1600, que era segunda-feira da
semana santa. Nele pode ler-se: ”Aos
vinte e sete do mês de Março do ano de mil e seiscentos anos nesta
Casa da Santa Misericórdia desta vila de Melgaço onde estava o
provedor e irmãos em cabido com campa tangida se levou desta Casa da
Santa Misericórdia se levou o bem-aventurado Santo António com
procissão a sua Casa que para ele estava fabricada no Campo da Feira
por ordem da dita Casa no qual dia acima se disse a primeira missa
cantada com licença do Vigário Geral desta Comarca como dela e dos
papeis consta que estão no Cartório desta Casa de que mandou fazer
este assento para todo o sempre constar desta verdade e assinaram
estando presente o senhor abade Francisco Soares…”
Para
o culto de Santo António mais uma capela se construíra e esta foi a
primeira a erigir-se no nosso concelho ao santo de quem o juiz de
fora era tão devoto, que aproveitando a animosidade dos almocreves,
por serem obrigados a fazer o papel de diabretes
nas
procissões do ano, conseguiu comutar aquele jogo numa confraria
instituída na dita ermida, em honra do glorioso Santo António, com
duas missas em cada mês, o que se fez com consentimento dos
vereadores de então.
Contudo,
já durante a segunda metade do século XVIII, esta capela
encontrava-se num estado bastante degradado. O arrefecimento da
devoção a este santo veio com o rodar dos tempos e a consequência
do facto foi o desinteresse de todos pela capela. Em 1773, ameaçava
ruína e por isso «dentro
dela se anda rectificando e se lhe faz um grande acrescentamento»,
registou o Padre Manuel da Ribeira, abade da vila de Melgaço.
No
ano confrarístico de 1842-1843, gastou a Misericórdia mais de duas
dezenas de escudos na compra de barrotes para o telhado desta
capelinha e o conserto do mesmo. Sabemos porém que nos princípios
de 1854 estava «em
partes completamente arruinada e até próxima a ir a terra».
Dado
o seu delicado estado de conservação, em 1867 foi decretada pela Câmara a
sua demolição. Contudo, este pequeno templo apenas seria demolido
no início do século XX.
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