sexta-feira, 31 de agosto de 2018

Quando alguns melgacenses foram socorrer os galegos dos soldados franceses (1809)




As três invasões francesas, ocorridas em princípios do século XIX a Portugal mudariam o nosso país para sempre.
Não existem registos de que as tropas francesas tenham estado alguma vez em Melgaço. Contudo, em 1809, na 2ª Invasão Francesa, as tropas napoleónicas, pretendiam entrar em Portugal atravessando o rio Minho. Começaram por tentar entrar em Caminha, depois em Cerveira e depois ainda Valença enchendo barcas de soldados para atravessar o rio. O plano era ocupar esta última vila. Contudo, todas essas tentativas não foram bem sucedidas. A complicar a vida aos franceses, havia ainda a má relação entre as tropas napoleónicas e as comunidades da Galiza. Um dos episódios mais célebres foi a insurreição dos aldeões na Ponte de Mourentan (Arbo) encabeçada pelo padre Mauricio Trancoso, pároco do Couto, entre outros atos de revolta contra a presença francesa na região encabeçadas por este pároco. Alguns destes episódios, são-nos contados na publicação “Gazeta del Gobierno” espanhol de 17 de Março de 1809, especialmente quando alguns melgacenses foram socorrer os galegos dos soldados franceses:
Lisboa, 28 de Fevereiro - Escrevem de Viana, com data de 20 do corrente, que todo o dia 17 e parte do 18 (de Fevereiro de 1809) atiraram os franceses, posicionados na outra margem do Minho, com canhões de 18 e 24 e apesar de terem acertado em algumas casas, foi sem dano de maior. Vendo que com isto não se atemorizavam, ontem retiraram-se daquela paragem, depois de alguns saques, levando algumas donzelas. Contudo, logo os nossos, havendo observado, juntaram os frades do Convento de São Domingos e uma Companhia de Ordenança da mesma vila, passaram o rio até à margem oposta e trouxeram as duas peças com que os franceses os tinham atacado.
Das fronteiras da Galiza chagaram notícias do dia 20 deste mês, de que em Tui em frente a Vilanova e em Salvaterra havia bastante tropa inimiga, havendo muitos movimentos para entrar no nosso reino (Portugal) em barcas pelo rio Minho. Mas a nossa tropa fez-lhe dura resistência com ações de grande valor.
Acaba de chegar a notícia a Viana por três sujeitos, com testemunhos coincidentes, que no dia 19 em frente a Melgaço na Galiza, desconfiando os franceses dos galegos, começaram a “pasarlo todo á cuchillo”. Os galegos gritavam aos portugueses para eles os fossem socorrer, e estes passaram a toda a pressa num grande número de barcas, obrigando os franceses a retirar-se mais acima, ficando estes com 80 mortos (número certamente exagerado!) e dos nossos, apenas ficou um ferido.”
Em Melgaço, pelos vistos, falava-se que “os franceses eram piores que feras; queimaram uma igreja e alguns lugares em Sacariñas e Muzetan. Temos à nossa vista mais de 60 homens de infantaria e de cavalaria. Acredita-se que se dirigem para Lugo por não poderem realizar os seus intentos de entrar em Portugal”.
As tropas francesas iriam atravessar o rio Minho em Orense e iriam entrar em Portugal pela fronteira de Chaves, a partir de onde iriam avançar para Braga e depois para o Porto. Seriam expulsos pelas tropas portuguesas e inglesas e sairiam por Montalegre em direção a Orense.

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