Durante a Guerra Civil Espanhola, centenas de galegos terão
cruzado a fronteira e esconderam-se nas aldeias de Castro Laboreiro. Apesar do
empenho das autoridades portuguesas em detetar os refugiados,
as características do terreno e a proteção que muitos castrejos deram
aos refugiados galegos dificultaram muito essa ação repressiva.
Em 1940, um comandante da GNR destacado para a região de Castro
Laboreiro para acabar com a presença de refugiados galegos em terras castrejas,
queixa-se das imensas dificuldade das autoridades nesta região. Num documento
que escreve aos seus superiores, refere o seguinte:
“Uma batida completa à serra, dada a
imensidade desta, exigiria milhares de homens e, em virtude da carência de
estradas e caminhos capazes e da falta de recursos, julgo-a impraticável.
Enquanto aquela região, pela ausência quase completa de vias de comunicação,
estiver, como está, isolada do resto do País, será sempre um possível
refúgio, já que dá imensas facilidades a natureza montanhosa do terreno,
formado por enormes montanhas, sulcado de ravinas (barrancos) que são
verdadeiros precipícios, frequentemente coberto de gigantescos
penedos de caprichosos recortes, e, em muitos sítios, coberto de
carvalheiras, giestais de três e quatro metros de altura, urzes, e
outra vegetação selvagem. A população vive a vida mais miserável que
é possível imaginar-se. As habitações são choças imundas
onde as pessoas vivem na mais repugnante promiscuidade com os animais. As
culturas, de centeio e a batata, únicas que ali se fazem, não chegam para o
consumo dos habitantes, e desenvolvem-se lentamente e com dificuldade. Até há
pouco tempo, os homens emigravam em grande quantidade para Espanha e França, e,
com o produto do seu trabalho nesses países, sustentavam as
suas famílias. Mas, desde que começou a guerra em Espanha, essa
emigração acabou, o que veio agravar extraordinariamente a situação
daquela gente. Pelo atraso em que a população se encontra, pode afirmar-se
que fazer uma viagem a Castro Laboreiro corresponde a recuar alguns séculos no
tempo. Afirma o abade da freguesia que quase todos os seus
habitantes são comunistas, porque não frequentam a igreja. O que eles são, com
certeza, é miseráveis e analfabetos. Mas a irreligiosidade daquela gente já era
um facto quando ainda não se falava em comunistas. O auxílio que os habitantes
tenham prestado aos refugiados galegos explica-se talvez melhor pelo facto de,
dado o isolamento em que a freguesia está do resto do país e até do
concelho, as suas relações normais serem feitas desde longa data com
os espanhóis.”
Extraído de:
- GALLARDO, Àngel Rodríguez (2003) - "Entre brandas e inverneiras: refuxiados e guerra civil na fronteira entre Ourense e Portugal" in: A Represion Franquista en Galícia. Actas dos traballos presentados ao Congreso da Memoria; Narón, Dezembro de 2003.
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