O
contrabando do café e de outras mercadorias em que a Espanha franquista era
deficitária mobilizou um número significativo de pessoas em Melgaço e noutros
municípios raianos do Minho que fizeram da região uma complexa base logística
de contrabando de algumas mercadorias que asseguravam uma alta rentabilidade.
Esta prática minorou as dificuldades na subsistência de muitas famílias de
ambos os lados da fronteira. Contudo, muitas das famílias dos contrabandistas
ficaram marcadas pela repressão e a cadeia…
Em http://iasousa.blogs.sapo.pt/87445.html encontramos um extrato de testemunhos orais de quem vivenciou a atividade do
contrabando do café: “O Sr. António
Cândido Rodrigues, natural de Chaviães, morador na Vila, mais conhecido por
“Toninho do Talho” diz que começou no contrabando quando tinha 12 anos (1947).
As fronteiras estavam controladas
através dos postos, cada qual com a sua área demarcada “…a minha área era entre o posto de “Portovivo”, em Chaviães e o de
Paços, ambos junto ao rio…comprava o café na Loja Nova ao Manuel da Garagem e
transportava-o na carroça do “Ronho” e tentava “filtrá-lo” pelos postos … passava
o café numa batela pelo rio…ao chegar ao lado espanhol também tentávamos esquivar-nos
aos carabineiros … depois da guerra era o café, o sabão, o azeite, o açúcar que
iam para Espanha…”.
No tempo do café o Sr. António recorda “…tinha um sócio e no posto de “Portavigo” um
guarda apanhou-me 10 embalagens de café Sical…ele queria uma importância para
deixar a mercadoria … eu disse-lhe que essa mercadoria não era só minha e
pedi-lhe para deixar passar essa que mais tarde passaria com outra e já lhe
deixaria ficar alguma coisa…era o passares…eu sabia que no outro dia esse
guarda iria ser transferido para o posto de Cevide…nós sabíamos de
tudo…vigiávamos constantemente os guardas…”
Frequentemente,
sobretudo os pequenos contrabandistas, eram apanhados pelas autoridades, quer
do lado português, quer do lado espanhol. Normalmente, o facto de uma pessoa
ser apanhada não significava que deixasse de praticar o contrabando. Dando uma
olhadela pelos jornal galegos de época, podemos observar noticiadas várias
situações de prisão de melgacenses e apreensões de mercadorias de contrabando
dos dois lados da fronteira. Nas duas
notícias que aqui apresento, podemos ver que um tal David Teixeira, melgacense que
era taxista em 1971 e por isso circulava com frequência entre os dois lados da
fronteira, foi apanhado nas malhas do contrabando do café pelo menos duas vezes,
sempre do lado galego. Numa das apreensões, o volume da mercadoria ascendia a
duas toneladas e meia. As notícias distam no tempo cerca de 19 anos sendo que a
mais antiga refere-se a acontecimentos de 13 de Março de 1952:
“Pontevedra - Em la parroquia de
Cequeliños, del Ayuntamento de Arbo, fueron sorprendidos los vecinos de la
misma, Manuel Garcia Estévez y Valentin Gonzalez Fernandez, que com otros
sujeitos, al parecer portugueses, que se dieron a la fuga, transportaban 558 kilogramas de café, que habian
introducido procedente de Portugal por el rio Miño. De las gestiones
practicadas por las autoridades parece deducirse era propriedad de David
Teixeira, vecino de Melgazo (Portugal).”
(Jornal
“La Noche”, edição de 13 de Março de 1952)
Dezanove
anos mais tarde, mais concretamente em 1971, o mesmo Sr. David Teixeira é notícia pelo
mesmo motivo, ou seja, por ter sido apanhado na Galiza com café de contrabando proveniente
de Portugal:
“Café de contrabando
José Fernández Fernández, de 54 anos,
vecino de San Cristóval - Monterrey, fue sorprendido por fuerzas de vigilancia
fiscal del puesto de Cualedro, que cuando se disponia a trasladar a su
domicilio 60 kilos de café tostado de procedência portuguesa que instantes
antes habia comprado a un desconocido. La mercancia, valorada em 6000 pesetas
quedó a disposición del Tribunal Provincial de Contrabando.
También fueron intervenidos otros 12
kilos de café tostado por fuerzas de la Guardia Civil de Cortegada, que David
Teixeira, vecino de Melgazo - Portugal, taxista, transportaba debajo de los
asientos de su vehiculo MO-53-73. La mercancia, valorada en 1200 pesetas quedó
a disposicion de la autoridad competente.”
(Jornal “El Pueblo Gallego”, edição de 1 de Abril de 1971)
Fontes
consultadas:
-
Jornal “La Noche”, edição de 13 de Março de 1952;
-
Jornal “El Pueblo Gallego”, edição de 1 de Abril de 1971.
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